- Hum.
-
Neste Carnaval, faremos um retiro.
- Que
ótimo, Roberval! Para onde iremos?
- Irei
- Quê?
- Vou
sozinho. Quer dizer, com uns amigos do escritório.
- Ah,
é?
- Não precisa fazer essa
cara desconfiada. É retiro mesmo. Sério. Seríssimo. Meditação e coisa e tal.
-
Aham.
-
Acredite em mim.
- E
por que sem famílias?
-
Queremos ficar isolados, sabe como é. Nós, o vazio, o silêncio, a finitude da
vida, etc.
- Mas já não ficam isolados
a semana toda, naquele cubículo que vocês chamam de escritório.
- É diferente. Poderemos
relaxar. E pensar. O mundo anda desse jeito, violento, porque ninguém para pra
pensar. E queremos visitar o nosso eu interior.
- Um vai visitar o eu
interior do outro? E o meu, como é que fica? Nem no Carnaval?
- Ô, Juraci! Que apelação!
- Tá. Posso arrumar a tua
mala, pelo menos?
- Não se preocupe, meu
amor. Eu já arrumei.
- Humhum.
- Que foi? Que cara é essa?
- É que já dei uma espiada
na tua mala.
- Juraci!
- Vi a máscara. E não me
diz que é pra retiro!
- Aiai. Tá, meu amor. Eu
confesso. Não sei se você vai entender, mas confesso.
- Confessa o quê?
- Sou black bloc.
- Hein?
- Black bloc. Desculpe, mas
sou. E vou protestar conta a Copa. Eu não queria te preocupar, sabe. Tanta
violência, gente presa, quebra-quebra, esse horror. Parece a ditadura, lembra?
- Ô.
- Então. A situação do
país, essa corrupção, esse...
- Roberval!
- Hum.
- Black bloc usa máscara de
colombina?
(Texto de Oscar Bessi
Filho, no Correio do Povo)
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