Cartola, sentado, e Dona Zica na janela,
com a roseira florida, na sua casa em Mangueira.
A história de “As Rosas Não Falam”
começou numa tarde de 1975 em que o compositor Nuno Veloso apanhou Cartola e
sua mulher Zica para um passeio na Barra da Tijuca, onde pretendia visitar
Baden Powell. Não tendo encontrado a casa do violonista, Nuno resolveu
aproveitar a viagem para passar numa floricultura e comprar para Zica umas
mudas de roseira que lhe havia prometido.
Tempos depois, flores desabrochadas
dessas roseiras provocariam a indagação entusiástica de Zica: “Como é possível,
Cartola, tantas rosas assim?” - e a resposta desinteressada de Cartola: “Não
sei. As rosas não falam...”, que ele acabaria aproveitando como mote para a
canção: “Queixo-me às rosas / mas que bobagem, as rosas não falam! Simplesmente
as rosas exalam / o perfume que roubam de ti...” Composta quando o autor
completava 67 anos, “As Rosas Não Falam” foi lançada em 1976, num elepê
notável, produzido por Juarez Barroso, o segundo de Cartola na gravadora Marcus
Pereira. Neste álbum ele apresentava outras inéditas como a também obra-prima
“O Mundo É um Moinho”. Além da delicadeza e do requinte, o que espanta nessas
duas músicas é o fato de terem sido criadas pelo compositor numa idade em que a
maioria das pessoas já se encontra aposentada, sem muita coisa a oferecer.
Cartola é um caso especial em nossa música popular. Homem de origem e vida
modestíssimas, era, ao mesmo tempo, poeta e compositor sofisticado. Pena que
somente nos últimos anos de vida tenha conseguido gravar a maior parte de sua
obra.
Para os curiosos, faltou dizer que o
nome 'Cartola' surgiu na época em que o artista trabalhava como pedreiro,
porque usava um chapéu para impedir que o cimento sujasse a sua cabeça. Quem
diria que um simples apelido viraria sinônimo de uma das maiores riquezas
musicais da MPB.
Cartola
morreu de câncer em 30 de novembro de 1980, deixando vários órfãos na música.
Seus parceiros, amigos e todos aqueles que desfrutaram de sua convivência até
hoje sentem enorme saudade do grande e "divino" mestre de Mangueira.
As rosa não falam
Cartola
(11.10.1908-30.11.1980)
(11.10.1908-30.11.1980)
Bate
outra vez
Com
esperanças o meu coração,
Pois
já vai terminando o verão, enfim.
Volto
ao jardim
Com
a certeza que devo chorar,
Pois
bem sei que não queres voltar para mim.
Queixo-me
às rosas, mas que bobagem
As
rosas não falam,
Simplesmente
as rosas exalam
O
perfume que roubam de ti, ai...
Devias
vir
Para
ver os meus olhos tristonhos,
E,
quem sabe, sonhar os meus sonhos,
por
fim.
Cartola por Baptistão
Nenhum comentário:
Postar um comentário