terça-feira, 27 de maio de 2014

Polissemias* de Millôr Fernandes



Millôr por Loredano


A boca da noite diz nome feio?

Bilhete azul desbota?

Os cachos de uva são feitos no cabeleireiro?

Quando um negociante faz um abatimento fica muito abatido?

Um sujeito pode dobrar uma barra de ferro com muita força de vontade?

O calor de uma paixão dá para cozinhar o jantar?

O rádio do antebraço pega ondas curtas?

Um sujeito muito cara de pau pode fazer a barba com gilete?

A boia servida nos restaurantes serve como salva-vidas?

Quando você tem que engolir as próprias palavras fica intoxicado?

Os cegos de amor andam de bengala branca e óculos pretos?

Um sujeito que dobra uma esquina é muito forte?

Um estômago embrulhado se amarra com barbante?

Quem é que muda a fralda das montanhas?

A abelha que não faz cera está fazendo cera?

A estrada da vida é asfaltada?

Um perneta pode passar a perna em alguém?


* Polissemia ou polissemia lexical (do grego poli="muitos" e sema="significados"), é o fato de uma determinada palavra ou expressão adquirir um novo sentido além de seu sentido original, guardando uma relação de sentido entre elas.


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