A História de uma Tragédia
Euclydes Kliemann, sendo acossado pela imprensa
(Foto
usada na capa do livro)
Acabei de ler, em dois dias, a
história de um caso que aconteceu no inverno de 1962, que abalou a sociedade porto-alegrense.
Uma jovem esposa de um deputado estadual, Margit Kliemann, fora brutalmente
morta dentro de sua casa no bairro Moinhos de Vento. Eu era jovem e acompanhei
tudo lendo, principalmente, o jornal Última Hora e as suas manchetes
sensacionalistas.
Para mim, para a polícia e para a
opinião pública em geral, o assassino fora o marido: o deputado eleito por
Santa Cruz do Sul, Euclydes Kliemann.
Agora, lendo o livro, 48 anos após a
tragédia, percebo que as coisas não foram bem assim como foram mostradas
naquele fatídico ano de 1962. Para as filhas do casal Kliemann, já havia um
suspeito dentro da própria família, um sobrinho que o deputado descartou
energicamente. Para ele, Kliemann, que era para a polícia o principal suspeito
de ter matada a sua esposa, ele não admitia que o filho (drogado e ladrão) da
sua irmã pudesse ter matada a sua própria tia.
Fatos retiradas do livro do jornalista Celito de Grandi*
* (1942-2014)
* (1942-2014)
Tudo começou a mudar, no entanto, naquele início de agosto, logo depois
do discurso inacabado de Kliemann, quando a polícia prende e mantém detido,
durante dois dias de interrogatório, sob rigoroso sigilo, Luiz Fernando Kurth,
sobrinho do deputado, filho de Julita Kliemann Kurth, irmã de Euclydes.
Até então, em nenhum momento havia surgido publicamente o nome de Luiz
Fernando.
Convém retroceder um pouco no tempo até o sepultamento de Margit
Kliemann, em Santa Cruz
do Sul. Naquela noite, quando Euclydes conversou com as filhas sobre a morte da
mãe, pedindo-lhes que tivessem confiança nele, a mais jovem das meninas (eram
três irmãs), Cristina, na espontaneidade de seus anos, fez uma pergunta. Ela
havia observado muitas vezes a mãe acalmar a cariciar o sobrinho, quando ele
surgia impaciente ou desassossegado, por culpa das drogas e das advertências
que lhe fazia Euclydes, a pedido da irmã Julita.
E Cristina indagou ao pai, de chofre:
- Mas não foi o Luiz Fernando?
E meu pai se transformou. Ficou outra pessoa e disse, irritado e
ríspido:
- De jeito nenhum fale
outra vez neste assunto. O Luiz Fernando está fora de cogitação, ele é da
família, ele é primo de vocês, é filho da minha irmã. Nunca mais abra a boca
para dizer isso.
E eu pensei: então é ele mesmo. Mais tarde, passei a considerar que meu
pai se sacrificou para salvar a aparência do meu primo, e não dar este desgosto
à minha tia
Vamos, agora, avançar no tempo. O
deputado Euclydes Kliemann está morto. Fora assassinado dentro do estúdio de
uma rádio de Santa Cruz do Sul por um vereador da cidade. Uma hora antes,
Kliemann (do PSD) havia feito um discurso violento contra seus inimigos
políticos, que o atacavam naquilo mais lhe doía: ser suspeito da morte da
própria esposa no dia em que fariam aniversário de casamento. Depois, seria a
vez do discurso do vereador Karan Menezes (do PTB) refutando as acusações do
deputado, que estava em outra sala. Karan o ataca violentamente, Kliemann,
furioso, dirige-se ao estúdio e é atingido com um tiro no pulmão, morrendo
minutos depois em um hospital da cidade.
Voltemos ao livro de Celito de
Grandi:
Depois de ter assediado outra mulher da família, Luiz Fernando Kurth, o
sobrinho de Euclydes, ele reagiu com violência à reportagem publicada pelo
Coojornal, em novembro de 1976, na qual ele é classificado como viciado em
drogas e ladrão de carros.
Foi atrás de Cristina e Suzana (primas) e as ameaçou.
Cristina deparou-se com ele quando
atendeu a porta de seu apartamento, através da pequena janela de vidro. Ficou
estupefata ao ouvi-lo:
- Só quero te dizer uma
coisa. Matei a mãe de vocês e ainda vou pegar mais uma.
...
Luiz Fernando, logo depois, foi para o Rio
de Janeiro, lá teve um confronto com a polícia e recebeu vários tiros. Até que,
em 15 de fevereiro de 1981, morreu em Porto Alegre , baleado na cabeça, em
circunstâncias nunca esclarecidas. Chegou a ser levado ao Hospital Cristo
Redentor, mas não sobreviveu. Está sepultado no Cemitério São José.
Adendo
Final:
Os jornais da época estavam quase
todos falidos. Queriam sensacionalismo para vender mais. Sérgio Jockymann criou
uma falsa personagem: “A Dama de Vermelho” para dar mais mistério ao caso. Até
o delegado do caso intimou, pela imprensa, a falsa dama de vermelho.
Um delgado de polícia só tinha um
suspeito e acreditava ser ele o assassino: Euclydes Kliemann, apesar de nunca
encontrar nenhuma pista, e só hipóteses para incriminá-lo.
Havia manchas de sangue por quase
toda a casa e dezenas impressões digitais, que o delegado nunca quis apurar.
No dia do crime, antes da polícia
chegar ao local, havia dezenas de políticos, amigos da família e jornalistas na
cena do crime. Quem cobriu as pernas de Dª Margit foi o governador da época: Leonel
Brizola.
Pelo crime ninguém nunca foi punido
nem se sabe, com certeza, quem foi o assassino.
A capa do livro
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