domingo, 18 de maio de 2014

Formação do Bairro Ipanema



Foto da Avenida Guaíba, 
aqui foram vendidos os primeiros terrenos de Ipanema

Observação: Nessa época, não existia o nome Ipanema, o ponto de referência era a praia da Pedra Redonda. O engenheiro Oswaldo Coufal resolveu homenagear, no Sul, a famosa praia do Rio de Janeiro, dando o nome do loteamento de Ipanema, e às ruas do seu novo bairro, alguns nomes de praias, tanto do Rio de Janeiro como do Rio Grande do Sul: Avenida Tramandaí, Rua Flamengo, Rua Atlântida, Rua Capão da Canoa, Rua Cassino, Rua Cidreira, Rua Torres, Rua Cassino, Rua Leblon, Rua da Gávea, Rua Leme...

P.S. Mais tarde, com o falecimento da esposa do idealizador do bairro, mudou-se o nome da rua Ipanema para Dea Coufal e o nome do Ginásio Ipanema para Ginásio Estadual Odila Gay da Fonseca


Primeiros traçados do loteamento de Coufal/1930
Fonte: Acervo de Antenor Ferrás Vieira Filho

P.S. A primeira rua, à direita, em direção ao rio, seria a Rua Ipanema, mais tarde Rua Déa Coufal, no mato que aparece na foto, mais tarde, nos anos 80, seria construído o edifício Garota de Ipanema, onde eu (Nilo) moraria por 6 anos.


Acima e abaixo, com era a praia de Ipanema
antes do loteamento


Oswaldo Coufal, o grande idealizador do Bairro Ipanema, Zona Sul de Porto Alegre, nasceu em Pelotas no dia 5 de novembro de 1899, formou-se em engenharia civil em 1922, e em 1931 já constituía sociedade com os irmãos Agrifoglio, cujo objetivo era transformar uma grande área rural à beira do Guaíba em um balneário para veranistas.

Assim, toda a área onde hoje se encontra o bairro Ipanema foi lentamente urbanizada. A pavimentação das ruas foi feita com pedra irregular extraída da pedreira existente no local e o serviço de captação e distribuição de água para as casas de veraneio era feito, inicialmente, direto do rio, e posteriormente, por meio de poços artesianos e de um grande reservatório construído na praça central. A energia elétrica era distribuída a partir de um gerador próprio e por um tempo limitado de uso diário. Desta forma, os meses de veraneio, férias e calor eram ansiosamente aguardados por todos aqueles que gostavam de Ipanema e que tinham casas na região. O Rio de Janeiro foi a inspiração do loteador ao dar nome às ruas e ao balneário, que queria ver transformado em ponto turístico. Osvaldo Coufal adorava a capital carioca e levava a família para passar férias no bairro da Urca. Assim, ele se utilizou de um suposto imaginário ligado à Cidade Maravilhosa para criar e divulgar o novo bairro. O nome Ipanema, portanto, foi uma homenagem à conhecida praia carioca, da qual gostava muito. Rua da Gávea, Leblon, Flamengo e Leme, entre outras, faziam parte do novo balneário. Assim, com um grande espírito empreendedor, o entusiasmo de Coufal foi se consolidando e o bairro tomando forma, o que se observa da afirmação de Fernando Gay da Fonseca: “A formação do bairro, o loteamento foi na década de 1930 pelo Coufal, mas a configuração oficial, dos registros públicos foi em 1959, na Prefeitura. Porque na nossa escritura dos terrenos ainda é pelos balneários. Aqui são vários balneários. Até a ponte é Balneário Ipanema – que é o do Oswaldo Coufal. Da ponte até a próxima esquina na Avenida Oswaldo Cruz é Balneário Guaíba. Em seguida é Balneário Juca Batista. Depois vem Balneário Palermo e logo adiante Balneário Caiçara, até entrar no Espírito Santo e Guarujá. Todos pequenos, mas com profundidade”. Gay da Fonseca descreve, desta forma, a configuração dos balneários no bairro Ipanema, nos anos de 1930.


Fernando Gay da Fonseca (falecido)


Acima, Igreja de Ipanema da década de 30 demolida em 1960,
 e, abaixo, a atual Igreja Nossa Senhora Aparecida,


Foi por iniciativa de Déa Coufal (1904-1967) que teve início, em 1935, a construção da capela de Ipanema, atualmente, Santuário Nossa Senhora Aparecida. Oswaldo Coufal cedeu os lotes para a obra, conforme relata o Padre Antônio Lorenzatto: “Pediu à sociedade loteadora a doação dos terrenos 1 e 58 da quadra 13, com frente para a praça central, Avenida Tramandaí e Rua Leme. Isto lhe foi concedido. Estando assegurado o espaço para a construção do templo, dona Déa viajou para Aparecida em São Paulo. Adquiriu uma estátua de Nossa Senhora Aparecida com as mesmas dimensões da original, pediu para que um sacerdote a benzesse dentro do Santuário Nacional”.

De fato, Déa Coufal não se destacou somente nas ações benemerentes pelo bairro, considerada uma mulher à frente de seu tempo, ela foi a segunda gaúcha a receber carta de habilitação. Trocou sua charrete (puxada pelas éguas Rosilha e Boneca) por um automóvel Ford 39 que ela mesma nomeou de “Navalha”. Essa metáfora se deve ao fato de que, naquela época, sempre que um carro ultrapassava outro, chamava-se o condutor de navalha, aquele que tinha passado a faca. E com seu moderno carro, para a época, a jovem senhora se deslocava com maior rapidez, atendendo a todos que tinham necessidades.


Déa e Oswaldo Coufal

Faleceu em 1967, no Rio de Janeiro, onde foi para tratamento de saúde. Um ano após sua morte, por solicitação do Conselho Comunitário de Ipanema e aprovação na Câmara de Vereadores de Porto Alegre, foi alterado o nome da Rua Ipanema para Rua Déa Coufal. A lei estabelecia ainda que na placa indicativa da rua constasse a seguinte legenda; “Benfeitora do Bairro Ipanema”. Atualmente, a Rua Déa Coufal, uma avenida extensa, com aproximadamente dois quilômetros, presta homenagem à obra de Déa. O logradouro começa na Avenida Guaíba, cruza a Coronel Marcos e vai terminar na Avenida da Cavalhada.


Antiga Caixa d′água na rótula da avenida Tramandaí.

Um cinema histórico em Ipanema


Foi no tempo em que os cinemas ainda tinham os programas de tela, palco com shows ao vivo e cortinas de veludo que se tem notícia das primeiras salas de exibição nos bairros de Porto Alegre. Susana Gastal, autora de Salas de Cinema: Cenários Porto-Alegrenses chama de Cinelândia a descentralização dos cinemas ocorrida nas décadas de 40 e 50 do século passado. Na zona sul de Porto Alegre, três tiveram suas estreias nos anos 50. Duas salas de exibição foram criadas no bairro Belém Novo (Cine Art e Belgrano), e uma no bairro Ipanema (Cine Ipanema).

De propriedade dos senhores Lívio Onori Di Rocco (que possuía a maior parte na sociedade), Antônio Carlos Porto Alegre, advogado, e de Joseph Porto Alegre, fotógrafo, o Cine Ipanema foi inaugurado em 28 de novembro de 1958, uma sexta-feira. O cinema, logo no primeiro ano, foi um sucesso. Os frequentadores, utilizando bondes ou carros, deslocavam-se de outros bairros, atraídos pela moderna aparelhagem. Conforme anúncio de um jornal da época: “Mais um cinema deverá ser inaugurado, amanhã, dia 28, nesta Capital. Trata-se do Cine Ipanema, localizado na Avenida Flamengo, 381, no Balneário Ipanema, pertencente à Cinematográfica Ipanema Ltda. De construção moderna, a nova casa de espetáculos deverá desempenhar importante papel na vida social do populoso bairro do 6º Distrito. Dotado de moderna aparelhagem, contará o Cine Ipanema com todos os últimos sistemas de projeção. Na sessão inaugural, com seu início marcado para às 20 horas, será exibido o belíssimo filme musical Serenata no México, Mexiscope da Pelmez, em Eastmancolor.”

Um fato interessante e curioso sobre esse cinema se refere à forma de anunciar o filme, a qual ocorria pelo toque de uma sirene. Eram três toques chamando os moradores do bairro. Ao soar o terceiro toque, significava que o filme já estava começando e era preciso se apressar para não perder as primeiras cenas. Além do chamado para a exibição, o Cine também tinha um divulgador motorizado que circulava pelo bairro. Ele saía às ruas de Ipanema em uma camioneta com um microfone, informando qual era o filme programado para aquela noite ou tarde. Todos conheciam e apreciavam tal iniciativa. Alguns moradores batiam palmas, tal era o entusiasmo por aquela moderna alternativa de entretenimento.

O Cine Ipanema, seguindo a linha dos demais cinemas da cidade, também tinha uma bomboniere. O setor de guloseimas era administrado pela senhora Yara Di Rocco, mulher de Lívio. Quando a crise chegou aos cinemas de bairro, o valor dos ingressos baixou. Foi nesse período que a bomboniere da Dona Yara rendia mais do que os ingressos vendidos, mesmo quando havia promoções. Conforme Gastal, “as sucessivas revoluções tecnológicas da sétima arte, a introdução do som e da cor, por exemplo, ao longo do século 20, foram motivo para que empresários sucumbissem”. Da mesma forma, o surgimento da televisão afetará o lucro dos empresários da área. Assim, muitos donos de cinemas quebraram, pondo fim às salas afastadas do Centro.

Construído para abrigar o Cine Ipanema, o prédio ainda existe (foto), porém, deteriorado pelo tempo e pela falta de cuidados. Paredes, portas e janelas danificadas e pichadas traduzem o abandono em que se encontra. Ainda assim, permanece como testemunha da história de um tempo que vai bem longe. Quem passa em frente ao local, não imagina que ali já foi cenário não só de glamour com as exibições noturnas, como também de diversão juvenil com as matinés das tardes de domingo.

Fontes: Museu de Comunicação Social Hipólito José da Costa e Salas de Cinema – Cenários Porto-Alegrenses de Susana Gastal.

P.S. O que restou do Cine Ipanema está exatamente como se apresenta na foto acima. Nunca mais foi usado e nem foi demolido, até hoje: 2020.


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