Foto da Avenida Guaíba,
aqui foram vendidos os primeiros terrenos de Ipanema
Observação: Nessa época, não existia o nome “Ipanema”, o ponto de referência era a praia da Pedra Redonda. O engenheiro Oswaldo Coufal resolveu homenagear, no Sul, a famosa praia do Rio de Janeiro, dando o nome do loteamento de Ipanema, e às ruas do seu novo bairro, alguns nomes de praias, tanto do Rio de Janeiro como do Rio Grande do Sul: Avenida Tramandaí, Rua Flamengo, Rua Atlântida, Rua Capão da Canoa, Rua Cassino, Rua Cidreira, Rua Torres, Rua Cassino, Rua Leblon, Rua da Gávea, Rua Leme...
P.S. Mais tarde, com o falecimento da esposa do idealizador do bairro, mudou-se o nome da rua Ipanema para Dea Coufal e o nome do Ginásio Ipanema para Ginásio Estadual Odila Gay da Fonseca
Primeiros traçados do
loteamento de Coufal/1930
Fonte: Acervo de Antenor Ferrás Vieira Filho
Oswaldo Coufal, o grande
idealizador do Bairro Ipanema, Zona Sul de Porto Alegre, nasceu em Pelotas no
dia 5 de novembro de 1899, formou-se em engenharia civil em 1922, e em 1931 já
constituía sociedade com os irmãos Agrifoglio, cujo objetivo era transformar
uma grande área rural à beira do Guaíba em um balneário para veranistas.
Assim, toda a área onde hoje se
encontra o bairro Ipanema foi lentamente urbanizada. A pavimentação das ruas
foi feita com pedra irregular extraída da pedreira existente no local e o
serviço de captação e distribuição de água para as casas de veraneio era feito,
inicialmente, direto do rio, e posteriormente, por meio de poços artesianos e
de um grande reservatório construído na praça central. A energia elétrica era
distribuída a partir de um gerador próprio e por um tempo limitado de uso
diário. Desta forma, os meses de veraneio, férias e calor eram ansiosamente
aguardados por todos aqueles que gostavam de Ipanema e que tinham casas na
região. O Rio de Janeiro foi a inspiração do loteador ao dar nome às ruas e ao
balneário, que queria ver transformado em ponto turístico. Osvaldo Coufal
adorava a capital carioca e levava a família para passar férias no bairro da
Urca. Assim, ele se utilizou de um suposto imaginário ligado à Cidade
Maravilhosa para criar e divulgar o novo bairro. O nome Ipanema, portanto, foi
uma homenagem à conhecida praia carioca, da qual gostava muito. Rua da Gávea,
Leblon, Flamengo e Leme, entre outras, faziam parte do novo balneário. Assim,
com um grande espírito empreendedor, o entusiasmo de Coufal foi se consolidando
e o bairro tomando forma, o que se observa da afirmação de Fernando Gay da
Fonseca: “A formação do bairro, o loteamento foi na década de 1930 pelo Coufal,
mas a configuração oficial, dos registros públicos foi em 1959, na Prefeitura.
Porque na nossa escritura dos terrenos ainda é pelos balneários. Aqui são
vários balneários. Até a ponte é Balneário Ipanema – que é o do Oswaldo Coufal.
Da ponte até a próxima esquina na Avenida Oswaldo Cruz é Balneário Guaíba. Em
seguida é Balneário Juca Batista. Depois vem Balneário Palermo e logo adiante
Balneário Caiçara, até entrar no Espírito Santo e Guarujá. Todos pequenos, mas
com profundidade”. Gay da Fonseca descreve, desta forma, a configuração dos
balneários no bairro Ipanema, nos anos de 1930.
Fernando Gay da Fonseca (falecido)
Acima, Igreja de Ipanema da
década de 30 demolida em 1960,
e, abaixo, a atual Igreja Nossa Senhora Aparecida,
e, abaixo, a atual Igreja Nossa Senhora Aparecida,
Foi por iniciativa de Déa Coufal
(1904-1967) que teve início, em 1935, a construção da capela de Ipanema,
atualmente, Santuário Nossa Senhora Aparecida. Oswaldo Coufal cedeu os lotes
para a obra, conforme relata o Padre Antônio Lorenzatto: “Pediu à sociedade
loteadora a doação dos terrenos 1 e 58 da quadra 13, com frente para a praça
central, Avenida Tramandaí e Rua Leme. Isto lhe foi concedido. Estando
assegurado o espaço para a construção do templo, dona Déa viajou para Aparecida
em São Paulo.
Adquiriu uma estátua de Nossa Senhora Aparecida com as mesmas
dimensões da original, pediu para que um sacerdote a benzesse dentro do
Santuário Nacional”.
De fato, Déa Coufal não se destacou
somente nas ações benemerentes pelo bairro, considerada uma mulher à frente de
seu tempo, ela foi a segunda gaúcha a receber carta de habilitação. Trocou sua
charrete (puxada pelas éguas Rosilha e Boneca) por um automóvel Ford 39 que ela
mesma nomeou de “Navalha”. Essa metáfora se deve ao fato de que, naquela época,
sempre que um carro ultrapassava outro, chamava-se o condutor de navalha, aquele
que tinha passado a faca. E com seu moderno carro, para a época, a jovem
senhora se deslocava com maior rapidez, atendendo a todos que tinham
necessidades.
Déa e Oswaldo Coufal
Faleceu em 1967, no Rio de Janeiro,
onde foi para tratamento de saúde. Um ano após sua morte, por solicitação do
Conselho Comunitário de Ipanema e aprovação na Câmara de Vereadores de Porto
Alegre, foi alterado o nome da Rua Ipanema para Rua Déa Coufal. A lei
estabelecia ainda que na placa indicativa da rua constasse a seguinte legenda;
“Benfeitora do Bairro Ipanema”. Atualmente, a Rua Déa Coufal, uma avenida
extensa, com aproximadamente dois quilômetros, presta homenagem à obra de Déa.
O logradouro começa na Avenida Guaíba, cruza a Coronel Marcos e vai terminar na
Avenida da Cavalhada.
Antiga Caixa d′água
na rótula da avenida Tramandaí.
Um cinema histórico em Ipanema
Foi no tempo em que os cinemas
ainda tinham os programas de tela, palco com shows ao vivo e cortinas de veludo
que se tem notícia das primeiras salas de exibição nos bairros de Porto Alegre.
Susana Gastal,
autora de Salas de Cinema: Cenários Porto-Alegrenses chama de Cinelândia a
descentralização dos cinemas ocorrida nas décadas de 40 e 50 do século passado.
Na zona sul de Porto Alegre, três tiveram suas estreias nos anos 50. Duas salas
de exibição foram criadas no bairro Belém Novo (Cine Art e Belgrano), e uma no
bairro Ipanema (Cine Ipanema).
De propriedade dos senhores Lívio
Onori Di Rocco (que possuía a maior parte na sociedade), Antônio Carlos Porto
Alegre, advogado, e de Joseph Porto Alegre, fotógrafo, o Cine Ipanema foi
inaugurado em 28 de novembro de 1958, uma sexta-feira. O cinema, logo no
primeiro ano, foi um sucesso. Os frequentadores, utilizando bondes ou carros,
deslocavam-se de outros bairros, atraídos pela moderna aparelhagem. Conforme
anúncio de um jornal da época: “Mais um cinema deverá ser inaugurado, amanhã,
dia 28, nesta Capital. Trata-se do Cine Ipanema, localizado na Avenida
Flamengo, 381, no Balneário Ipanema, pertencente à Cinematográfica Ipanema
Ltda. De construção moderna, a nova casa de espetáculos deverá desempenhar
importante papel na vida social do populoso bairro do 6º Distrito. Dotado de moderna
aparelhagem, contará o Cine Ipanema com todos os últimos sistemas de projeção.
Na sessão inaugural, com seu início marcado para às 20 horas, será exibido o
belíssimo filme musical Serenata no
México, Mexiscope da Pelmez, em Eastmancolor.”
Um fato interessante e curioso sobre
esse cinema se refere à forma de anunciar o filme, a qual ocorria pelo toque de
uma sirene. Eram três toques chamando os moradores do bairro. Ao soar o
terceiro toque, significava que o filme já estava começando e era preciso se
apressar para não perder as primeiras cenas. Além do chamado para a exibição, o
Cine também tinha um divulgador motorizado que circulava pelo bairro. Ele saía
às ruas de Ipanema em uma camioneta com um microfone, informando qual era o
filme programado para aquela noite ou tarde. Todos conheciam e apreciavam tal
iniciativa. Alguns moradores batiam palmas, tal era o entusiasmo por aquela
moderna alternativa de entretenimento.
O Cine Ipanema, seguindo a linha dos
demais cinemas da cidade, também tinha uma bomboniere. O setor de guloseimas era
administrado pela senhora Yara Di Rocco, mulher de Lívio. Quando a crise chegou
aos cinemas de bairro, o valor dos ingressos baixou. Foi nesse período que a
bomboniere da Dona Yara rendia mais do que os ingressos vendidos, mesmo quando
havia promoções. Conforme Gastal, “as sucessivas revoluções tecnológicas da
sétima arte, a introdução do som e da cor, por exemplo, ao longo do
século 20, foram motivo para que empresários sucumbissem”. Da mesma forma, o
surgimento da televisão afetará o lucro dos empresários da área. Assim, muitos
donos de cinemas quebraram, pondo fim às salas afastadas do Centro.
Construído para abrigar o Cine
Ipanema, o prédio ainda existe (foto), porém, deteriorado pelo tempo e pela
falta de cuidados. Paredes, portas e janelas danificadas e pichadas traduzem o
abandono em que se encontra. Ainda assim, permanece como testemunha da história
de um tempo que vai bem longe. Quem passa em frente ao local, não imagina que
ali já foi cenário não só de glamour com as exibições noturnas, como também de
diversão juvenil com as matinés das tardes de domingo.
Fontes: Museu de Comunicação
Social Hipólito José da Costa e Salas de Cinema – Cenários Porto-Alegrenses de
Susana Gastal.
P.S. O que restou do Cine Ipanema está exatamente como se apresenta na foto acima. Nunca mais foi usado e nem foi demolido, até hoje: 2020.
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