terça-feira, 27 de maio de 2014

Contos de Leon Eliachar



O Judeu

Faltavam apenas 6 cruzeiros e 50 centavos para ele descer do táxi. Já eram 800 cruzeiros da noite e ele ainda não havia feito um bom negócio. Entrou num restaurante e comeu 180 cruzeiros; tomou 1 cruzeiro de café e saiu 10% mais tarde. Na rua encontrou uma belíssima mulher, trajada com 48 mil cruzeiros de joias. Há mais de 2 milhões de cruzeiros que não via uma mulher tão elegante. Convidou-a para um cinema. Ela regateou um pouco, mas por fim cedeu. Sentaram-se primeiro numa confeitaria e bateram um papo de 250 cruzeiros. Depois assistiram a 72 cruzeiros de CinemaScope: namoraram 36 cruzeiros de entrada e o resto a longo prazo. Um dia, decorridos 185 mil cruzeiros de vida em comum − terminaram tudo, à vista.

O Encontro

O telefone tocou, ele atendeu, marcaram encontro. Fez a barba, tomou banho, vestiu-se. Há uma semana que não via a noiva e hoje era domingo, dia de ir ao cinema com ela. Apertou o botão, esperou o elevador, desceu, alcançou a rua e foi esperar o bonde. Fez baldeação e chegou lá duas horas depois. Meyer. Ainda teve de esperar 40 minutos para que ela acabasse de se arrumar. Sua futura sogra serviu-lhe um cafezinho na varanda, seu futuro sogro conversou com ele sobre a situação internacional, depois leu um jornal, depois ela apareceu. Saíram apressados. O cinema era logo ali na esquina. Foram correndo. Ele entrou na fila e ela ficou esperando perto da portaria. 38 minutos depois, ele apareceu com os ingressos na mão. Entraram. No salão escuro o vagalume indicou: “um lugar”. Ela então correu e sentou.

Violência

Segurou a moça pelo braço e fê-la deitar-se. Depois lhe deu vários puxões no pescoço. Ela gritou. Ele não teve a menor reação. Passou a dar-lhe tapas no rosto. Ela tentou retirar-se, mas ele segurou-a violentamente e colocou-a de costas. Puxou-lhe as pernas, os braços, e começou a dar-lhe socos nas costas. Depois de algum tempo, disse apenas:
− Agora pode ir.
Era massagista.

A dúvida

O marido já não acreditava mais naquela história de dentista. Primeiro, era uma vez por semana, depois, passou a três, e agora era todo dia. A desculpa não variava nunca: “Querido, hoje vou ao dentista.” Foi por isso que resolveu tirar a limpo. Quando a esposa se arrumou para sair, ele resolveu segui-la. Meia hora depois, ela entrava num prédio, pegava um elevador e entrava num consultório de dentista. E foi aí que ele passou a dormir tranquilo. E foi aí que ela passou a ter mais liberdade para se encontrar com o dentista.

* Leon Eliachar (Cairo, 12 de outubro de 1922 - Rio de Janeiro, 29 de maio de 1987), humorista brasileiro nascido no Egito.


A morte

O escritor Leon Eliachar foi assassinado com um tiro na cabeça em sua casa no Rio de Janeiro, no dia 1º de junho de 1987. O mandante do crime foi José Alberto Araújo, vereador e fazendeiro em Palmas, no interior do Paraná. Marido de Vera Bini Araújo, com quem Eliachar mantinha um caso amoroso, era também uma pessoa influente em sua cidade. José Alberto contratou dois pistoleiros para o crime. Eles usaram uma mulher loira para atrair o jornalista e chegar até seu apartamento.




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