quinta-feira, 29 de maio de 2014

O crime da Lagoa dos Barros

A lenda da noiva da Lagoa


Na madrugada de 17 para 18 de agosto de 1940, a adolescente Maria Luiza Häussler deixou o baile na tradicional Sociedade Germânia acompanhada do namorado, o impetuoso jovem Heinz Werner Schmeling. Ambos eram apaixonados, mas o romance encontrava resistência da família da jovem. Heinz chegara a ensaiar uma cena no clube após encontrar a namorada conversando com outro rapaz. O jovem Schmeling seria encontrado em um bar no bairro Belém Velho, ferido com um tiro. Maria Luíza não seria mais vista com vida, seu corpo já estava submerso na Lagoa dos Barros, onde só seria encontrado na madrugada do dia 20. O impacto do crime passional envolvendo dois jovens da rica comunidade alemã da cidade ganharia as manchetes por anos.


O crime na imprensa da época

“Não era possível contemplar aquela figurinha linda de mulher, com a face serena e os braços apertados num abraço amplo e gélido, sem sofrer a mais dolorosa impressão de dor, participando intensamente do drama terrível que a infeliz terá representado nos últimos instantes de vida”.

(Diário de Notícias – 22 de agosto de 1940)

A versão de Heinz


*Acima, Hanz, grafia errada, como saiu seu nome na imprensa da época.

Heinz conta que Maria Luiza era sua namorada há três anos, mesmo com a oposição da família dela. Os dois haviam simulado um rompimento, para aliviar a pressão sobre a garota. A princípio, ele não iria ao baile da Sociedade Germânia, mas decidiu tirar a limpo se ela estava saindo com outro rapaz. No baile, fizeram as pazes e, por volta das três horas da manhã, saíram para conversar melhor.

Ele diz, ainda, ao delegado, no seu primeiro interrogatório, no Hospital Alemão:

 Não atirei! Quando sentamos (no automóvel), vi o revólver na mão de Lisinka. Ela deve ter pegado no porta-luvas. Então, sem mais nem menos, ela disparou! Senti um impacto no peito. Logo depois, ouvi outro tiro. Ela caiu no banco e eu desmaiei. Quando recobrei os sentidos, constatei que ela estava morta.

(...)

 Fiquei desesperado, perdi a noção de tudo e me veio a ideia de ocultar o corpo. – Eu não sabia o que estava fazendo... Havia algumas cordas no porta-malas. Decidi amarrar o corpo em algumas pedras e colocar na lagoa.

A descoberta do corpo

Na lagoa, Abílio (um morador local) anda em círculos. Perto da canoa, Fioravante (pescador local) tropeça e quase perde o equilíbrio.

 Tem alguma coisa aqui! – ele grita, atraindo a atenção de todos.

O pescador esfrega os pés no chão e sente algo macio. Baixa o braço e começa a tatear.

 Acho que é ela! Venham depressa!

Dois policiais entram na lagoa de roupa e tudo.

 Pega as pernas – ordena o inspetor Simão Giordano.

 Cuidado, muito cuidado para que não se perca nenhuma pista  orienta o delegado Gadret.

 Tem umas pedras amarradas nos pés, chefe – diz o inspetor Giordano.

São necessários quatro homens para trazer o corpo à margem com toda a cautela. Entre os policiais, se estabelece uma sensação de regozijo que, no entanto, logo vai se desfazer diante da visão do cadáver.

Paulo Koetz  (repórter do Correio do Povo) agacha-se para enxergar melhor. Maria Luiza é pequena, menor do que ele esperava; bonita, tem rosto tranquilo, mas o que chama a atenção é a posição dos braços, unidos nas pontas como se tivesse abraçado alguém antes de morrer.

(...)

Santos Vidarte (Correio do Povo) e o fotógrafo do Diário de Notícias batem chapas do corpo de todos os ângulos. No rápido exame realizado na margem da lagoa, o delegado Gadret encontra um ferimento a bala à altura do seio esquerdo. A moça estava descalça. O pescoço e as pernas estão amarrados a pedras por um fio de arame. Entre as pedras, o delegado encontra um tijolo com um monograma impresso com as letras JD.

O cadáver de Maria Luiza é coberto com um lenço.

Epílogo

A condenação de Heinz Werner Schmeling foi ratificada pelo juiz Coriolano Albuquerque, que ampliou a pena (de 10 anos e seus meses) para 12 anos, no dia 29 de março de 1944. Heinz foi libertado em 1946, após cumprir metade da pena. Mudou-se para o Rio de Janeiro, em companhia da mãe, Friedel, do padrasto Hans Freiherr e do irmão Gert Joachim. Os quatro abriram a empresa Freiherr & Cia, com sede na Avenida Rio Branco, destinada à “fabricação e exploração comercial de desincrustantes para caldeiras e máquinas a vapor, e comércio em geral de artigos correlatos”. Heinz faleceu em São Paulo, na década de 1980, sem jamais ter se casado ou se interessado por outras mulheres.

(Do livro “A Dama da Lagoa”, de Rafael Guimaraens)
Editora Libretos


A capa do livro é a foto do corpo de Maria Luiza (Lisinka),
amarrado com tijolos, quando foi retirado da lagoa.

*Sempre fiquei intrigado com a foto da capa desse livro, pois nunca tinha visto um cadáver tão sereno e conservado de uma pessoa. No brique que há no bairro Ipanema, em Porto Alegre, falei com o autor do livro citado acima, Rafael Guimaraens, e ele me disse que foto foi tirada dos arquivos do Correio do Povo; portanto ela é real e autêntica.

Fotos dos acontecimentos:


O corpo de Maria Luiza


O carro de Heinz


O local onde foi deixado o corpo


O crime na imprensa e em livro...

E a Lenda...

...E a moça que, segundo o laudo do IML morreu virgem e nunca foi noiva, passou, com seu vestido branco nupcial, a assombrar os caminhoneiros que trafegam, pela freeway, ao lado da Lagoa dos Barros, em Osório, no Rio Grande do Sul...


O assassino

Mudou-se para o Rio de Janeiro, em companhia da mãe, Friedel, do padrasto Hans Freiherr e do irmão Gert Joachim.

Os quatro abriram a empresa Freiherr & Cia, com sede na Avenida Rio Branco, destinada à “fabricação e exploração comercial de desincrustantes para caldeiras e máquinas a vapor, e comércio em geral de artigos correlatos”.

Heinz faleceu em São Paulo, na década de 1980, sem jamais ter se casado ou se interessado por outras mulheres. 



10 comentários:

  1. Quando a lenda começou, não existia a Free Way (inaugurada nos anos 70). A lenda iniciou na estrada velha (RS 030) que ainda existe e é paralela à Free Way. Os faróis de antigamente eram fracos e é normal acúmulos de nevoeiros se formarem em córregos e atravessarem as estradas dando um efeito imaginário na luz.

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    1. Sim, é verdade, mas a lenda mudou de local, passando para a nova estrada ao lado da lagoa. Por isso, até hoje, todos a temem: pescar, nadar, andar de barco...

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    2. Note que a foto onde o corpo foi desovado, foi feita numa estrada de chão batido ao lado da lagoa...

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    3. Isso é uma hipótese, do que pode ocorrer, mas não anula possíveis aparições de Espíritos dos Mortos, alguns Deles até falam pela Eletrônica, ver as explicações por exemplo do Físico Jason de Camargo, e também minhas gravações destes diálogos no YouTube, as tci, EVP, e também no Facebook . Radialista em Rádio e TV, escritor Canoense.

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  2. Mas o delegado Gadret, não é desta época. Ele é amigo do meu pai e regulam de idade e se fosse daquela época, atualmente era para estar morto, devido a idade. Meu pai nem era vivo, quando ocorreu este crime.

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  3. O escritor Rafael Guimaraens fez sua pesquisa pelos jornais da época, logo ele sabia bem a quem ele estava se referindo,

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  4. Como é está estrada no dia de hoje estrada onde o dava acesso ao corpo?

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    1. Ainda é estrada de chão consegue chegar lá indo por santo Antônio da patrulha

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