domingo, 13 de maio de 2018

Segunda visão



Quando viajava de trem, sentei-me por trás de um homem que ia acompanhado de seu filho ainda jovem. O garoto parecia embevecido com o panorama e descrevia para pai tudo que lhe despertava interesse. Falou de umas crianças que brincavam no pátio de uma escola, mencionou as rochas por onde se precipitava um pequeno córrego e se referiu aos reflexos da luz solar na água. Quando nosso trem parou para dar passagem a outro de mercadorias, o garoto tentou adivinhar o que cada um dos vagões transportaria. Mostrou-se também encantado com a superfície ondulada de um lago e falou dos inúmeros barquinhos que havia numa doca. No final da viagem, debrucei-me sobre o banco e disse ao pai:

− Que maravilhoso que é desfrutar o mundo através dos olhos de uma criança!

O homem sorriu e comentou:

− É verdade! Especialmente quando não se tem possibilidade de vê-lo.

O homem era cego.

*****

(Seleções do Reader’s Digest – abril de 1976)
       

Nenhum comentário:

Postar um comentário