O crime perfeito de Jack, o Estripador
→ Por que a fama do serial killer
mais famoso da história se alimenta do sensacionalismo e da identidade até hoje
não revelada.
→ Jack o Estripador com a legenda “Inimigo da Negligência”,
na revista “Punch” em 29/9/1888; feminicídios aterrorizavam Londres (Crédito:
Divulgação)
→ Em 16 de outubro de 1888, no
distrito de Whitechapel, quatro mulheres já tinham sido mortas da mesma forma
quando o inspetor George Lusk, encarregado da região leste de Londres repleta
de cortiços e prostíbulos, recebeu uma caixa contendo uma carta e um frasco com
um pedaço de rim preservado em
formol. A mensagem, enviada “do inferno”, dizia: “Envio-lhe a
metade do rim que eu tirei de uma mulher e que conservei para o senhor. O outro
pedaço eu fritei e comi e estava muito bom. Talvez eu envie a faca ensanguentada
que o tirou se esperar um pouco mais”. Lusk não deu importância à carta,
considerou-a um trote, até porque sua chefatura recebia centenas delas desde
que a lenda de Jack o Estripador se espalhara, com a colaboração da cobertura
sensacionalista e entusiasta da imprensa.
→ O livro “Jack, o Estripador”,
do historiador Donald Rumbelow, lançado pela editora Record, reúne a
“investigação definitiva” sobre o assunto. Segundo Rumbelow, Jack foi uma
criação da imprensa e da indústria do entretenimento. Ele arrola a documentação
sobre o caso, depositada nos Arquivos Nacionais: três pacotes de papéis soltos,
“envoltos por capas marrons fixadas com fita adesiva”. Parte do material foi
surrupiado por pesquisadores e não se conservaram órgãos, amostras de sangue
nem digitais, pois o exame de digitais só seria introduzido em 1905. O resto é
especulação.
→ Rumbelow conta que foram os
jornais que apelidaram o assassino compulsivo de Jack, o Estripador, em
referência a Jack Pés de Mola. Apelidado o “Terror de Londres” entre 1837 e
1838. Disfarçado de morcego, rasgava as roupas das mulheres e fugia aos pulos.
Virou personagem de romances populares e farsas de circo. O novo e lúgubre Jack
ganhava fama mundial por meio de boletins via telégrafo enquanto perpetrava o
que hoje chamaríamos de feminicídios seriais Mais uma vez, mas de forma intensa
e com nuances macabras, o crime se convertia em espetáculo. O
público reagia esgotando as edições dos jornais baratos. E mostrava ter enorme
apetite por sangue que cabia à imprensa saciar.
→ Mas nem tudo era
sensacionalismo. Duas evidências fizeram os policiais levarem o criminoso a
sério. Uma das vítimas do famoso “duplo incidente” de 30 de setembro, Catherine
Eddowes, tivera o rim direito extirpado, conforme a carta. Além disso,
diferentemente de outras cartas, a “do inferno” não era assinada por Jack. Ela
é considerada o único documento produzido pela mão do assassino.
→ Para coroar o terror, em 10 de
novembro, era degolada e eviscerada a quinta e última vítima, Mary Jane Kelly.
A partir de então, ao longo de 20 anos, outros homicídios foram atribuídos a
Jack. Em torno dele, produziram-se ensaios, romances, peças, filmes e séries.
Jack se tornou um dos personagens mais populares da Londres do horror à luz de
gás.
→ Os itens culturais ampliaram o
mito, mas serviram para lançar névoa sobre o assunto. “Meu objetivo é retornar
ao básico e encorajar outros a fazer o mesmo e decifrar o caso”, diz o autor.
“Mas ninguém pode impedir que a lenda triunfe sobre os fatos.” Passaram-se 120
anos e o crime não foi desvendado. A fama de Jack continua a se alimentar da
irresolução. Até prova em contrário, ele cometeu o crime perfeito.
Rastro da investigação
O cenário → O serial killer atingiu o ápice com o “duplo evento”,
ao matar Catherine Eddowes e Elizabeth Stride na noite de 30/9/1888 no East
End.
As mortes → São cinco as “vítimas canônicas”, todas prostitutas,
entre elas Annie Chapman em 8/9/1888 (foto abaixo), Mary Ann Nichols, 13/8/1888
e Mary Jane Kelly em 9/11/1888.
Os policiais → Entre os encarregados do caso, destacou-se o chefe
de polícia George Lusk, foto abaixo, que recebeu a carta “do inferno”, entre
centenas de outras.
A carta → A carta “do inferno” considerada legítima, é assinada por
“Pegue-me se puder”, citação da canção popular “Catch me if you can”.
Os suspeitos → Entre os 200 citados sem prova, estão o duque de Clarence,
foto abaixo, e M. J. Druitt, cujo corpo apareceu boiando no rio Tamisa em 1889.
(Da revista IstoÉ)
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