segunda-feira, 28 de julho de 2014

Machadianas



Era uma vez uma choupana

Era uma vez uma choupana que ardia na estrada; a dona – um triste molambo de mulher – chorava o seu desastre, a poucos passos, sentada no chão. Sendo quando, indo a passar um homem ébrio, viu o incêndio, viu a mulher, perguntou-lhe se a casa era dela.
- É minha, sim, meu senhor, é tudo que eu possuía neste mundo.
- Dá-me então licença que acenda ali o meu charuto?

O padre que me contou isto certamente emendou o texto original; não é preciso estar embriagado para acender um charuto nas misérias alheias. Bom padre Chagas! – Chamava-se. Chagas. - padre mais que bom, que assim me incutiste por muitos anos essa ideia consoladora, de que ninguém, em seu juízo, faz  render o mal dos outros; não contando o respeito que aquele bêbado tinha ao princípio da propriedade – a ponto de não acender o charuto sem pedir licença à dona das ruínas. Tudo ideias consoladoras. Bom padre Chagas!

(Quincas Borba)

Pensamentos avulsos

“Em política não se perdoa nem se esquece nada.

“O maior pecado, depois do pecado, é a publicação do pecado.”

“(...) não é a verdade que vence, é a convicção.”

“A impunidade é colchão dos tempos; dormem-se aí sonos deliciosos.”

“O modo de compensar uma janela fechada é abrir outra
a fim de que a moral possa arejar continuamente a consciência.”

“Crê em ti, mas nem sempre duvides dos outros.”

Machado sentimental

Não há como a paixão do amor para
fazer original o que é comum,
e novo o que morre de velho.

Cada qual sabe amar a seu modo;
o modo pouco importa:
o essencial é que saiba amar.

Este mundo é dos namorados.

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