Era uma vez uma choupana
Era uma vez uma
choupana que ardia na estrada; a dona – um triste molambo de mulher – chorava o
seu desastre, a poucos passos, sentada no chão. Sendo quando, indo a passar um
homem ébrio, viu o incêndio, viu a mulher, perguntou-lhe se a casa era dela.
-
É minha, sim, meu senhor, é tudo que eu possuía neste mundo.
-
Dá-me então licença que acenda ali o meu charuto?
O padre que me contou isto certamente
emendou o texto original; não é preciso estar embriagado para acender um
charuto nas misérias alheias. Bom padre Chagas! – Chamava-se. Chagas. -
padre mais que bom, que assim me incutiste por muitos anos essa ideia
consoladora, de que ninguém, em seu juízo, faz
render o mal dos outros; não contando o respeito que aquele bêbado tinha
ao princípio da propriedade – a ponto de não acender o charuto sem pedir
licença à dona das ruínas. Tudo ideias consoladoras. Bom padre Chagas!
(Quincas Borba)
Pensamentos avulsos
“Em política não se perdoa nem se esquece nada.
“O maior pecado, depois do pecado, é a publicação do pecado.”
“(...) não é a verdade que vence, é a convicção.”
“A impunidade é colchão dos tempos; dormem-se aí sonos deliciosos.”
“O modo de compensar uma janela fechada é abrir outra
a fim de que a moral possa arejar continuamente a consciência.”
“Crê em ti, mas nem sempre duvides dos outros.”
Machado sentimental
Não há como a paixão do amor
para
fazer original o que é comum,
e novo o que morre de velho.
Cada qual sabe amar a seu modo;
o modo pouco importa:
o essencial é que saiba amar.
Este mundo é dos namorados.
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