segunda-feira, 28 de julho de 2014

Nas ruas de Porto Alegre

Mário Ramos

Porto Alegre, tuas ruas têm infinitas histórias
E, em todas tuas rotas, vejo o poeta e a poesia;
O escrito e o escrevente, descrito nesta memória
Como o revoar das pombas, das torres da Reitoria...

Quem me dera se eu fosse um filho do Veríssimo,
Ou um neto do Quintana, bem que eu poderia ser,
Para dar-te, Porto Alegre, um verso muito ilustríssimo
E neles ilustrados as tuas ruas, em teu lindo amanhecer...

Eu bem que poderia ser mais um ipê da Redenção
E, num domingo de Bric, desfolhar-me na Bonifácio
Anunciando o outono, no final de mais um verão,
Enfeitando de flores as linhas deste meu prefácio...

E de lá iria com o vento, ou, quem sabe, ele eu seria
E assim eu correria pelo Guaíba, do Gasômetro a Ipanema
E assim atravessaria os morros da Glória até a Serraria
E, em Porto Alegre eu me esparramaria, como um simples poema...

E minhas palavras chegariam até o Moinhos de Vento
E passeariam pela Goethe até findar-se na Mariante
E esboçariam, em palavras, este meu grande sentimento
Depositadas em rimas, como uma flor lapidada em diamante...

Porto Alegre, quem me dera se tuas ruas falassem
E no adentrar da noite, suas histórias pudesse me contar.
Falar-me-ia dos passos na madrugada, como se cantassem
As Pegadas de Bebeto Alves, nas ondas sonoras soltas no ar...

Há em mim um pouco do Menino Deus, andando pela Getúlio,
Há, também, um pouco do Punk, desfilando pela Osvaldo,
Há todo aquele frio do vento na Andradas nas manhãs de julho
E o caminho da Farrapos, do centro até o São Geraldo...

Porto Alegre, lá me vou pela Borges seguindo ao Beira-Rio
Ou, quem sabe, pela Azenha até o Olímpico Monumental.
O vermelho e o azul equilibrando-se ao teu meio-fio
Em nestas tuas sendas, a história de um outro Gre-Nal...

Nas tuas esquinas, meninos vendem o Correio e a Zero Hora,
Trazem as notícias do que foi ontem, mas não preveem o futuro.
Ah, Porto Alegre, os meus passos eu firmo em ti agora
E observo na Mauá, o detalhe de um artista pintado no muro...

Ah, Porto Alegre, em tuas ruas um povo que luta e protesta:
Os caras pintadas, colonos sem terra, professores e suas sinetas...
Também há comemoração, trilegal tuas ruas sempre abertas
Magia simples, casas antigas, venezianas nas venetas...

Porto Alegre, quem me dera morrer, e, assim, virar poeira
Esparramando-me pelas solas dos sapatos, nas noites sem lua.
Assim estaria nos seus caminhos planos, até em suas ladeiras
E me eternizaria, feliz, nos ladrilhos de tuas ruas...



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