Livro traz a história da primeira prova para carros
movidos a gasogênio.
movidos a gasogênio.
Por: Ricardo Chaves
O Ford 50 do piloto
Norberto Jung, na primeira prova
para carros movidos a gasogênio, em 1943
Foto: Reprodução / Calendário Metal Leve 2003
para carros movidos a gasogênio, em 1943
Foto: Reprodução / Calendário Metal Leve 2003
Durante os anos da II Guerra Mundial
(1939-1945), foram inúmeras as dificuldades para a manutenção da normalidade
cotidiana. Mesmo distantes do confronto, os brasileiros sentiram as mudanças e,
claro, o automobilismo sofreu as consequências enfrentando a falta de
combustível que, praticamente, inviabilizou o esporte. No início dos anos 1940,
o Brasil precisou entrar na economia de guerra e muitos dos produtos
estratégicos foram restringidos. Toda a gasolina importada era,
prioritariamente, oferecida para manter o funcionamento mínimo do país em áreas
essenciais do transporte, da segurança e da saúde.
Em abril de 1942, o governo federal
determinou o racionamento de combustíveis. Entretanto, a criatividade serviu
para reativar uma antiga tecnologia: o gasogênio. Embora ele apresentasse
dificuldades técnicas e um rendimento inferior para o funcionamento do motor,
representou uma solução, principalmente para o uso de automóveis por
particulares. O equipamento proporcionou às empresas manterem as suas
atividades e não fecharem as portas nos momentos mais críticos da economia. A
Ribeiro Jung garantia a instalação do aparelho em "apenas" oito dias
de serviço, demonstrando readequação às condições de mercado, uma vez que a
produção de veículos estava suspensa e as vendas limitadas ao reduzido estoque
da concessionária. Nessa época, a Ford parou de produzir seus veículos, uma vez
que suas linhas de montagem haviam sido requisitadas pelas autoridades
militares dos Estados Unidos para a fabricação de aviões e tanques de guerra.
Aqui, a empresa gaúcha se dedicou apenas à manutenção da frota já existente e à
transformação da fonte de combustível dos veículos.
O racionamento obrigou os motoristas
a adaptarem seus carros a um combustível utilizado como quebra-galho, o
gasogênio (gás obtido por meio da queima de carvão). Para isso, montava-se um
equipamento em cima do porta-malas. Assim, a Ribeiro Jung conseguiu se manter
em operação por cinco longos anos da década de 1940, até a guerra acabar. Essa
alternativa possibilitou, também, a retomada das competições automobilísticas
no Estado.
A primeira prova foi realizada em 18
de julho de 1943, e o regulamento exigiu automóveis de passeio com aparelho de
gasogênio fabricado no Rio Grande do Sul. Criticado e desprezado, o “trambolho
movido a gás pobre”, oriundo da queima de carvão ou lenha, substituiu, com
muitos méritos, a gasolina. Para organizar e fomentar a produção, foi criada a
Comissão Estadual do Gasogênio, que encontrou no automobilismo um amplo campo,
não apenas para testes, mas também para provar à população a viabilidade e o
desempenho do novo combustível. Dessa forma, com o apoio do Touring Club e do
extinto jornal Folha da Tarde, foi organizada a primeira corrida para carros
movidos a gasogênio, no Circuito do Cristal.
Propaganda que
anuncia a adaptação ao combustível alternativo
Foto: Reprodução /
Cem anos do automóvel, 1986.
Após as 9h, foi autorizada a largada
para os 28 participantes. A corrida teve 15 voltas no Circuito do Cristal,
totalizando 225
quilômetros pelas ruas da Capital. Catharino Andreatta
registrou a média de pouco mais de "incríveis" 76 km/h e finalizou na
primeira colocação, com o tempo de 2h56min58s. O gasogênio que equipou o seu
Ford era da marca Rimoli.
Mesmo que bastante modestos em
relação ao desempenho obtido usando gasolina tradicional, os resultados
alcançados foram significativos em termos de demonstração de confiabilidade e
de eficiência do gasogênio. Andreatta contou com uma equipe bem ajustada no
box. Os mecânicos Valentim Morais e Avelino André Gandani cumpriram o
reabastecimento do gerador em todo o complexo procedimento em apenas trinta e
sete segundos.
Fonte: trecho adaptado do inédito
livro “Norberto Jung: Ás do automobilismo”, de autoria do historiador Stephanos
Demetriou.
(Do Almanaque Gaúcho
de Zero Hora)
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