Em seu famoso quadro estão
atrizes, jornalistas, um banqueiro, um diplomata e a garota do interior que se
tornou a esposa do pintor.
David Stewart
O famoso
quadro “Le Dejeuner des Canotiers” pintado entre 1870 e 1871
No verão de 1880, os convidados reúnem-se
no restaurante Fournaise, em uma ilha do Rio Sena, nos arredores de Paris.
Serão imortalizados pelo pintor impressionista Pierre Auguste Renoir. E seu “O
Almoço dos Barqueiros” se tornará um dos mais famosos trabalhos de arte do
mundo.
Estou convencido de que a razão pela
qual esse quadro nos chama a atenção é que muitas pessoas ali retratadas eram
amigos de Renoir. Hoje, mais de um século depois, os estudiosos ainda discutem
sobre a identidade de alguns dos modelos. Mas as intrigantes histórias do “O Lanche
dos Remadores” nos atraem para a vida de Renoir.
O robusto rapaz de barba, à esquerda,
em pé, é Alphonse Fournaise Jr., que
cuidava dos aluguéis de barcos no restaurante Fournaise. Seu pai havia
inaugurado o estabelecimento na Ilha Chatou, parte da qual se chama agora Ilha
dos Impressionistas, assim denominada por volta de 1860.
As pequenas ilhas do Sena ofereciam
aos parisienses do século XIX a oportunidade de praticar dois novos esportes –
natação e remo – que eram a paixão da época. E havia festivais, danças,
regatas, concertos e jantares ao ar livre.
Poetas e escritores estavam entre os
primeiros a descobrir esses prazeres. Mas foi o impressionista e outros pintores,
tais como Claude Monet, Edgar Degas e a americana Mary Cassatt, que melhor
captaram essas cenas.
“Você podia me achar no Fournaise a
qualquer momento”, disse certa vez Renoir. “A li encontrava tanta gente
esplêndida quanto conseguia pintar.”
Aline Charigot, de 21 anos, sentada
abaixo de Fournaise, usando um chapéu de palha bem decorado, é uma das
“esplêndidas criaturas” com que Renoir se deparou. Uma animada garota do
interior, dezoito anos, mais jovem que o artista, ela se casaria com ele dez
anos mais tarde. Aline seguiu Renoir da pobreza em Paris para um relativo
conforto em Cagnes. Dois
de seus três filhos foram feridos na Primeira Guerra Mundial.
Em Renoir, Meu Pai, o segundo filho deles, o notável cineasta Jean, escreve:
“Renoir estava pintando o retrato de Aline Charigot antes de conhecê-la. A
figura de Vênus (em um vaso pintado quando ele tinha 16 anos) é minha mãe –
antes de nascer.”
Mais adiante, inclinando-se pensativa
(com a mão direita no queixo), está uma mulher que alguns identificam como Alphonsine Fournaise, irmã de Alphonse.
Ela tem 34 anos e era chamada de “a linda Alphonsine” pelos clientes do
restaurante de sua família. Aos 18 anos, Alphonsine havia casado com um
parisiense, mas ficou viúva muito cedo. Ela não se casou outra vez, durante o
resto de sua vida bastante infeliz. Investindo no mercado russo, perdeu tudo. A
casa da família Fournaise se deteriorou rapidamente, e Alphonsine morreu pobre,
aos 91 anos.
É possível que alguns dos quadros que
Renoir deu aos Fournaise, quando ainda era um artista pobre e desconhecido,
tenham ajudado a sustentar Alphonsine durante os anos de sua decadência. Jean
Renoir recria esta conversa entre seu pai e a família:
Os
Fournaise: Você nos dá esta paisagem que
pintou?
Renoir: Estou avisando, ninguém quer este quadro.
Os Fournaise: Que diferença faz? Temos que colocar alguma coisa nas paredes para
ocultar as manchas de umidade.
Renoir: Se ao menos todos os amantes da arte fossem
assim!
Os quadros
que Renoir deu aos Fournaise se tornaram valiosíssimos.
Amantes e Outros
Embora não possamos ver seu rosto, o
homem a quem Alphonsine parece estar dando toda a sua atenção foi fundamental
para a criação de “O Lanche dos Remadores”. Ele é o Barão Raoul Barbier
(de costas com chapéu), um diplomata que ajudou a reunir os 14 modelos. Os
interesses de Barbier eram as mulheres, cavalos e remo; insistia em dizer que
não sabia nada sobre pintura. Talvez seja por isso que ele e Renoir se tornaram
amigos.
Outro menos interessado em pintura do
que em mulheres era o jornalista Paul
Lhote. É o homem de barba, que esta usando um chapéu de palha e uma camisa
de malha listrada, no trio localizado no canto superior direito do quadro.
Lhote parecia gostar da companhia dos
artistas, por causa da proximidade desses aos modelos femininos. Renoir, que
não era nenhum puritano, mas sim um homem prático e franco, observou: “Lamento
pelos homens que estão sempre correndo atrás de mulheres. Sempre atentos, dia e
noite, sem um minuto de descanso!”
Paul é retratado flertando com Jeanne Samary (de preto), de 23 anos,
famosa atriz que apreciava o trabalho de Renoir. A admiração era mútua, mas o
casamento não era uma perspectiva. “Ele não é do tipo casamenteiro”,
acredita-se que ela tenha dito sobre Renoir. “Ele se casa com todas as mulheres
que pinta, mas com seu pincel.”
À esquerda da Lhote e Samary está Eugène Pierre Lestringuez, um excêntrico
funcionário público. Dizem que uma vez ele hipnotizou um amigo, ordenou-lhe que
se despisse e o mandou sair à rua.
Atrás de do trio de Samary, Charles Ephrussi, colecionador de
pinturas impressionistas, conversa com Jules
Laforgue, seu secretário pessoal. A cartola formal de Ephrussi parece
incongruente, mas como banqueiro rico, ele simplesmente trouxe a moda urbana de
Paris.
Pintor e modelos
O jovem de camiseta sem manga (à
direita e abaixo), Gustave Caillebotte,
componente do trio localizado no canto inferior direito do quadro, recebe um
lugar de destaque, talvez por ser amigo especial de Renoir. Pintor
impressionista, supostamente disse: “Espero que um dia meu trabalho seja bom o
suficiente para ser pendurado na antecâmara da sala onde os quadros de Renoir
são pendurados.”
O jovem elegante ao lado de
Cailebotte, é um jornalista. Maggiolo
é seu nome. Sentada a seu lado está uma senhora, usando um vistoso chapéu que
cobre a maior parte de sues cabelos ruivos. É provável tratar-se de Ellène Andrée, atriz e modelo predileta
de muitos impressionistas. Uma outra modelo popular, Angèle, está sentada contemplando seu copo de vinho sobre a mesa,
próxima a um homem ainda não identificado. (Alguns estudiosos, a propósito,
acreditam que a ruiva seja Angèle, e que essa mulher seja Ellen Andrée). Angèle
conheceu Renoir quando ele ocupava um pequeno apartamento, num bairro pobre de
Paris. Ela era uma dedicada amiga.
Uma noite, Renoir foi agredido por
vários homens. Ele tentou correr, mas ficou preso em uma cerca. Temia o pior
quando, de repente, um dos assaltantes o reconheceu. “Ei, é o senhor Renoir!”,
exclamou. O pintor ficou satisfeito em pensar que sua reputação o salvaria, até
que o homem voltou a falar. “Não vamos enforcar nenhum amigo de Angèle!”, disse
ele.
Posteriormente, a minúscula ilha
mágica do Rio Sena foi ocupada por enorme população e ficou muito tumultuada.
Em 1979, o restaurante Fournaise esteve perto do fim. A demolição era iminente
quando uma aliança de residentes locais, o governo francês e amantes da arte
vieram em seu socorro. Em novembro de 1990, o restaurante Fournaise, mais uma
vez, acolheu convidados em seu famoso terraço de toldo listrado.
Há mais de cem anos, Renoir escrevera
a um amigo: “Não posso deixar Chatou agora, porque minha pintura ainda não está
terminada. Venha para cá e almoce comigo. Não existe lugar mais encantador do
que este.”
Seu convite continua vigorando. Todo
verão, há um festival na ilha com música, dança e trajes da época. Ou visite o
próprio “O Lanche dos Remadores”, de Renoir, na Coleção Phillips, em
Washington, Estados Unidos.
(Texto de Seleções do
Reader's Digest – junho de 1997)
01. Aline
Charigot
02. Alphonse Fournaise 03. Alphonsine Fournaise 04. Barão Raoul Barbier 05. Jules Laforgue 06. Hélène Andrée 07. Angèle |
08.
Charles Ephrussi
09. Gustave Caillebotte 10. Maggiolo 11. Eugène Pierre Lestringuez 12. Paul Lhote 13. Jeanne Samary |
→ Pierre Auguste Renoir foi um
importante artista plástico francês. Fez parte do impressionismo e destacou-se
por suas lindas pinturas. Nasceu em 25 de fevereiro de 1841, na cidade francesa
de Limoges. Morreu em 3 de dezembro de 1919 em Cagnes-sur-Mer (cidade no
sudoeste da França).
→ Já na infância demonstrou
grande interesse pelas artes plásticas. Quando criança trabalhou como decorador
em uma indústria de porcelanas em
Paris. Com 18 anos, Renoir começou a pintar e decorar
persianas e leques. Em 1862, foi estudar na Academia de Belas Artes. Estudou
também na academia do pintor suíço Charles Gabriel Gleyre. Nesta academia
conheceu outros artistas famosos da época como, por exemplo, Claude Monet e
Alfred Sisley. De Monet, Renoir recebeu influência no tratamento da luz, sendo
que o trabalho com as cores foi influência recebida de Delacroix.
→ Seu estilo artístico era
marcado pela presença de cores fortes e brilhantes, texturas e linhas
harmônicas. O sentimento lírico é outra característica importante nas obras de
Renoir. Em suas pinturas prevaleceram as formas humanas individuais, grupos de
pessoas e paisagens.
→ Sua primeira exposição
artística ocorreu em Paris, no ano de 1864. Porém, não conseguiu muito
reconhecimento. O reconhecimento veio somente em 1874, durante a primeira
exposição de artistas da nova escola impressionista. Em 1874, sua pintura Le
Moulin de la Galette
foi reconhecida como uma grande obra de arte impressionista.
→ A carreira artística de Renoir
foi consolidada com a exposição individual realizada em Paris, na galeria
Durand-Ruel, no ano de 1883.
→ Os últimos 20 anos de vida,
Renoir sofreu com sua saúde. Portador de uma doença articular (artrite), o
artista continuou pintando com dificuldades. Amarrava o pincel em seu braço
para poder realizar suas obras. Mesmo assim, criou trabalhos ricos e
importantes.
Principais obras de
Renoir
- Mulher com sombrinha (1867)
- Retrato de Frédéric Bazille (1867)
- O passeio (1870)
- O Camarote (1874)
- A bailarina (1874)
- Le Moulin de la
Galette (1876)
- Madame Georges Charpentier e suas filhas (1878)
- Remadores em Chatou (1879)
- Elizabeth e Alice de Anvers (1881)
- A dança em Bougival (1883)
- Mulher amamentando (1886)
- As grandes banhistas (1887)
- Menina com espigas (1888)
- Menina jogando criquet (1892)
- Ao piano (1893)
- Odalisca (1904)
- Retrato de Claude Renoir (1908)
- Banhista enxugando a perna direita (1910)
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