quinta-feira, 18 de maio de 2017

Histórias de Paraquedistas XXIV


Um trágico lançamento de heróis


Acima, o C-82 utilizado nos saltos de Copacabana

No dia 26 de outubro de 1958, na Semana da Asa, com tempo nublado e ventos fortes, aeronaves decolaram do Campo dos Afonsos, em Marechal Hermes, para um lançamento de paraquedistas no mar de Copacabana.

As aeronaves C-82, da FAB, de prefixos 2205 e 2207, partiram, respectivamente, às 9h40min e 9h45min.

Os homens, nos aviões, estavam tensos e preocupados, nunca haviam saltado no mar antes. Os aviões, vindos na zona oeste do Rio de Janeiro, dirigiram-se à zona sul. Quando estavam a alguns metros da praia, vindos do Arpoador, quase chegando ao Leme, o mestre de salto do avião 2205, chegou à porta, olhou para baixo e viu o rabo vermelho do T da vertical do ponto e abortou o lançamento. O avião fez uma curva para o mar e voltou para a segunda tentativa de lançamento. Novamente, os precursores, em barcas no mar, sinalizaram que ainda não havia condições para a saída de paraquedistas dos aviões. Tudo começou como antes e, na terceira tentativa, o T estava totalmente amarelo (segundo alguns) e impedido segundo quem estava nas aeronaves e foi realizado o lançamento, sob as ordens do major Ernani Azevedo Henning, Pqdt 981 e MS 221, às 10 horas daquela manhã. Houve a abertura normal de 30 paraquedas T-7 inflados e planando no ar. Os homens sabiam que, ao chegar na água, deveriam se desvencilhar deles e, com salva-vidas presos aos corpos, dirigirem-se às barcaças que estavam próximas para fazer o resgate, mas...

Dois homens não conseguiram ter a mesma sorte de seus companheiros: o soldado José Ribamar Gama Lopes, pqdt 4938 do 1958/05, do Batalhão Santos Dumont e o sargento Hamilton Argolo Sacramento, pqdt 604 do 1951/06, e MS 517, do Pelotão de Saúde, morrendo afogados, ou enforcados pelas cordas dos paraquedas

Às 10h05min, chegou o avião C-82, de prefixo 2207, e também realizou seu lançamento, sob as ordens do major Aníbal Figueiredo de Albuquerque, pqdt 3076 do 1957/02, MS 490. Um homem, na abertura do seu paraqueda, com tranco do salva-vidas pressionando o seu pescoço, ou na água afogado ou ainda com as próprias cordas de seu paraquedas, também morreu: o tenente-coronel Ney de Linhares Barros, pqdt 5287 do 1958/09, do Estado Maior do Núcleo da Divisão Aeroterrestre. Segundo constou em uma reportagem do jornal carioca Última Hora, não havia água em seus pulmões, reforçando a hipótese de enforcamento pelas linhas do seu paraquedas. O corpo do tenente-coronel Barros foi recolhido mar com esse equipamento preso ao seu corpo.

Segundo quem assistiu aos saltos, os paraquedas, inflados, arrastavam os homens na água. As condições para o salto eram mínimas e os riscos eram altos. Alguma tragédia poderia acontecer, era muito difícil dar tudo certo...

O próprio comandante da época, o coronel Sylvio Américo Santa Rosa, pqdt 2246 do 1955/01 e MS 610, que participou do salto como primeiro homem à porta de um dos aviões e, conforme suas próprias palavras, já alertava do perigo por que passou: “Como já frisei acima, nos saltos de ontem, todos nós corremos grande perigo. Eu mesmo fui arrastado pelas águas, bebi muita água, mas, felizmente, consegui escapar, tive a felicidade de retirar a tempo o meu equipamento.”

Na época, correu a seguinte versão: “Deus foi justo até nas mortes, pois morreram militares de 3 graduações: um oficial, um sargento e um soldado”.

 Observações:

Houve muitas versões para a tragédia ocorrida. Uma dizia que houve uma ordem superior para que se amerissasse com o paraquedas T-7, mantendo- se firme na segurança do colete de cortiça, chamado, na época, de “papo-amarelo”.

Diziam, até, que houve uma discussão entre comandantes quanto à forma correta da cair no mar. Um dizia que não se poderiam perder os paraquedas, pois eram importados e caros para as Forças Armadas; outro, que era preferível perder um paraquedas do que perder um homem, pois aquele se fazia em poucas horas; e este se fazia em 18 anos. Teria prevalecido a primeira opinião, a do comandante superior da época.

Um oficial, que teria participado deste salto, disse que não houve a ordem de amerissar com o paraquedas.

Um sargento que, segundo o Manifesto do Voo, seguramente saltou em um dos aviões, o de prefixo 2205, onde ocorreram as mortes do sargento e do soldado, afirma categoricamente que houve a ordem de amerissar com o paraquedas.

Um soldado gaúcho, do 1958/05, da CPP1 do BSD, Batalhão Santos Dumont, disse que a versão que correu na época do acidente, 1958, reforça a afirmação do sargento.

Esse mesmo soldado afirma que (quase) todos que saltaram nesse dia, 28 de outubro de 1958, eram voluntários. Os escolhidos foram aqueles que afirmaram saber nadar. Ele declinou do convite, pois não sabia nadar. O soldado Gama, que morreu no mar, por ser forte e exímio nadador, aceitou o convite.

Em dois Manifesto de Voo desse salto, verifica-se que soldados são poucos. Havia 2 num avião e 3 em outro.

Havia no avião de prefixo 2205: 7 oficiais, 15 sargentos, 5 cabos e 2 soldados. Morreram um sargento e um soldado

Havia no avião de prefixo 2207: 9 oficiais, 18 sargentos e 3 soldados. Morreu um oficial.

Fotos da revista “O Cruzeiro” mostram paraquedistas mortos, dando destaque à morte do Cel Ney Linhares de Barros, estrangulado no mar com as cordas do seu paraquedas, no mar de Copacabana Ele estava com gorro de mergulho e camiseta branca.

O hoje capitão José Álvaro Diniz Nogueira, pqdt 108, precursor 15, MS 109, falou-nos que o que era ensinado na Área de Estágios foi o seguinte: O paraquedista colocava o colete salva-vida, ajustava o paraquedas, e, antes amerissar, batia na caixa de abertura, segurando o paraquedas inflado com as mãos. A cinco metros, desvencilhava-se do velame, caindo no mar só com o colete protetor.

Ora, se um paraquedista amerissasse com o paraquedas, num dia de forte vento, as linhas poderiam enroscar-se em seu corpo e ocorreria um acidente fatal. Um dos paraquedista mortos tinha uma mancha escura no pescoço, sinal de estrangulamento. As fotos abaixo da revista “O Cruzeiro” comprovam as afirmações acima:

Apesar dos Manifestos de Voo constarem a presença de 30 paraquedistas em cada aeronave, o avião, que foi utilizado nos saltos, foi o C-82, Vagão Voador, lançando 180 paraquedistas em 6 (seis) aviões.

As fotos do acidente na revista O Cruzeiro


O Coronel Linhares foi retirado da água já inconsciente, depois ter lutado desesperadamente contra o mar encapelado. (Fotos “Última Hora”)


Ney, estrangulado pelas cordas do seu paraquedas, em Copacabana


Izidro, o mais antigo do SS*, retira o equipamento do Major*

* Notem que, se a foto for realmente do Major, parecia que ele estava apoiado no barco, mas percebe-se, perfeitamente, que o paraquedista estava inconsciente e, provavelmente, já morto.

Veja como a imprensa da época noticiou o fato:

Encerramento pungente da Semana da Asa

Santa Rosa: “A morte trágica dos nossos companheiros enlutou corações, mas não abaterá os soldados do ar!”.

- Ser paraquedista é viver perigosamente e o lamentável acidente de ontem, que entristeceu a toda a Corporação e a população do Rio, não abaterá o nosso ânimo, pois continuaremos sempre paraquedistas, prontos a desempenhar nossa missão - declarou à reportagem de Última Hora o Coronel Santa Rosam comandante da Divisão Aeroterrestre.

O militar, visivelmente emocionado, adiantou ainda que os dois* soldados do ar perderam a vida tragicamente eram, como os demais, elementos de escol das Forças Armadas: “O destino roubou dois valores de nossa Divisão - o Tenente-Coronel Ney Linhares de Barros e o soldado Gama.* Os corpos de ambos estão agora na Capela do Hospital central do Exército, de onde sairão para o sepultamento, hoje à tarde. Prestaremos aos nossos camaradas as homenagens que merecem”.

* Foram três os mortos;
* Mais o sargento Sacramento.
* SS ( Salva-mar)
* Veja, no fim desta matéria, dois de seis Manifestos de Voo com a relação dos pqdts em cada avião.

Morte por asfixia

Sobre as causas do acidente, explicou o Coronel Santa Rosa: “Todos os que saltaram ontem (26 de outubro), correram grande risco, pois o vento muito forte dificultou as manobras de desvencilhamento. Nossos três companheiros não conseguiram se desequipar e mergulharam na água com os pesados apetrechos. O vento, fortíssimo, arrastou mar afora. Pode-se dizer que eles não morreram afogados, mas enforcados, pois ao serem retirados da água, tinham as linhas do paraquedas enroladas no pescoço e o estômago apresentava-se vazio. Não beberam água. Removidos para o Pronto Socorro do Lido, os médicos ali de serviço fizeram tudo que lhes estava ao alcance para salvá-los. A mais moderna aparelhagem da técnica médica foi empregada. Em vão. Respiração artificial, injeções, tudo enfim. Os médicos só abandonaram as tentativas quando verificaram a dura realidade: ambos estavam mortos. Nada mais havia a fazer.”

120 mil saltos: 10 mortes

- Apesar dos perigos que enfrentamos, e aos quais já estamos habituados - continuou o Coronel Santa Rosa - fatos como o de ontem não podem deixar de entristecer-nos. Mas temos um crédito a nosso favor: dos 120 mil saltos já realizados pelo Núcleo, registramos 10 mortes, e toda em circunstâncias diferentes como a de ontem, na qual fatores estranhos ao salto em si concentraram-se para roubar vidas. Como já frisei acima, nos saltos de ontem, todos nós corremos grande perigo. Eu mesmo fui arrastado pelas águas, bebi muita água, mas, felizmente, consegui escapar, tive a felicidade de retirar a tempo o meu equipamento.

O Coronel Santa Rosa estava abatido, cansado, rouco, mas não acabrunhado. Seu ânimo forte não permite deixar-se vencer. A reportagem agradeceu a atenção do comandante dos soldados do ar, e retirou-se, pois aquele homem duro e forte merecia ficar a sós com seus pensamentos - ele sentiu, por todos os companheiros, a infortunada sorte que vitimou um oficial, um sargento e um soldado.

A morte esteve presente

Mais de 300 mil pessoas lotaram a Praia de Copacabana, do Leme ao Posto 6, para assistir ao encerramento da “Semana da Asa”, transferido da semana passada, na homenagem das autoridades ao cinegrafista da TV-Tupi, Ortiz Rúbio Alexim, morto por um caça da “Esquadrilha da Fumaça”. O destino, porém, preparara um fim não menos triste para o monumental “show” aéreo, quando ao ter início a programação dos saltos, em pleno mar, dos paraquedistas, devido ao forte vento, embaraçaram-se às cordas o Tenente-Coronel Ney Linhares de Barros, o Soldado Gama e o Sargento Hamilton Argolo do Sacramento e mais 7 praças, que afundaram no mar, sob os olhos atônitos da multidão. Apesar de todos os esforços nas operações de socorro, o oficial, o sargento e o soldado perderam a vida. As lanchas de salvamento, auxiliadas pelo helicóptero H-19-D, da Marinha, devido ao forte mar, com ondas enormes, não conseguiu retirar a tempo aquelas três vítimas.

Jatos e “Esquadrilha da Fumaça”

Não fora a tragédia brutal que empanou o brilhantismo das solenidades de encerramento da “Semana da Asa”, com a perda de três vidas, o espetáculo em si revestiu-se de verdadeira harmonia pelo entrosamento dos velozes caças a jato, os gigantescos C-82 (vagões voadores) que transportaram os paraquedistas, os bombardeiros “Camberra”, (dois deles da Força Aérea do Peru) e ainda os aviões da famosa “Esquadrilha da Fumaça”. Aberto o desfile pelo comandante geral, Brigadeiro Martinho dos Santos, seguiram-se os saltos dos paraquedistas – 180 homens recolhidos no mar por lanchas do Corpo de Bombeiros, Yatch Club, FDF e helicópteros da FAB e Marinha. Logo após, em voo rasante, passava o 1° Esquadrão  de Ligação e Observação, pilotado por cadetes do 2° ano; prosseguindo, houve a revoada de aviões do 1° Grupo de Transportes e um número de grande perícia: dois NA-T6, pilotados pelos Tenente Pinheiro e pelo Capitão Frias, voando lado a lado com as asas ligadas por fios, desfraldaram a Bandeira Nacional. O vão entre os dois aparelhos era de um metro e meio. Os audaciosos pilotos confirmaram o “slogan” da Aeronáutica: “O avião conduz mais alto a Bandeira do Brasil.”

Textos do jornais: O Globo, Correio da Manhã, Tribuna da Imprensa e Última Hora, fotos de O Cruzeiro.

Manifestos de Voo dos aviões

MINISTÉRIO DA GUERRA

NÚCLEO DA DIVISÃO AEROTERRESTRE

1º  PESSOAL

Número
de ordem
Arma
e
Unidade
Posto
ou
Graduação

N O M E

Observação
01
EMG
Maj
Ernani Azevedo Henning
MS AV
02
BSD
Cb
João Henrique Conceição Fortes

03
Saúde
Cb
Olívio Carlos Leite Salomão

04
BSD
Ten
Heber Leal Ferreira

05
²
Sd
Lênio de Sá

06
²
²
João Severino Cezar

07
²
Sgt
Genival Montenegro Guerra

08
Int
Cb
Geraldo Gomes Vidal

09
Saúde
Sgt
Jair Torres Brandão

10
²
²
Dalmo Nunes de Oliveira

11
QG
²
Waldomiro Luiz Barbosa

12
BSD
Cb
Manoel Luiz Brum

13
QG
Sgt
José Carlos Ferreira de Araújo

14
M Pqdt
²
Albertino Lago Macedo

15
BSD
Ten
Edson de Carvalho Nascimento

16
CIEP
Cap
Ítalo Mazzoni da Silva
AUX MS
17
Saúde
Ten
Walse José Dias

18
BSD
Sd
José Ribamar Gama Lopes
Faleceu
19
²
Sgt
Carlos Leandro Medina

20
²
²
Eugênio Manoel Moreira

21
Saúde
²
Hamilton Argolo Sacramento
Faleceu
22
C Eng
²
Lenines Corrêa Lima

23
CMMB
²
Nestor de Brito

24
BSD
Cb
Carlos Almir Freitas da Silva

25
M Pqdt
Cb
Luiz Olyntho Teixeira Schirmer

26
CIEP
Sgt
Domingos Ferreira Gonçalves

27
QG
²
Celso Phol Moreira de Castilho

28
BSD
Ten
Robespierre Pacheco de Moraes

29
QG
Sgt
Amasvindo de Oliveira Sant´Anna

30
BSD
Ten
Paulo Ney Machado Ramalho de Azevedo


Número de Pqdt  e ano do curso - segundo ordem acima

01 –   981 do 1953/03
02 – 3235 do 1957/04
03 – 4414 do 1958/02
04 – 3276 do 1957/05
05 – 3314 do 1957/05
06 – 4916 do 1958/05
07 – 1248 do 1954/02
08 – 1611 do 1955/01
09 – 2226 do 1955/09
10 – 1246 do 1954/02


11 – 2899 do 1956/11
12 – 3993 do 1957/11
13 – 4278 do 1957/14
14 – 2083 do 1955/07
15 – 5292 do 1958/09
16 – 1598 do 1955/01
17 –     77 do 1949/03
18 – 4938 do 1958/05
19 – 4313 do 1958/01
20 – 4321 do 1958/01


21 –   604 do 1951/06
22 –   750 do 1952/03
23 – 4381 do 1958/02
24 – 3087 do 1957/03
25 – 3036 do 1957/02
26 – 2696 do 1956/08
27 – 1139 do 1954/01
28 – 4312 do 1958/01
29 – 4387 do 1958/02
30 – 4376 do 1958/02
Ata: 26.10.1958: Avião 2205  - Decolagem: 9h40min  - Salto: 10h  - Aterragem: 11h30min

MINISTÉRIO DA GUERRA

NÚCLEO DA DIVISÃO AEROTERRESTRE

1º  PESSOAL

Número
de ordem
Arma
e
Unidade
Posto
ou
Graduação

N O M E

Observação
01
GUD
Maj
Aníbal Figueiredo de Albuquerque
MS AV
02
²
Cap
João Ferreira de Almeida

03
²
²
Yvan Lassance de Oliveira

04
²
²
Achiles Mussoline de Souza e Silva

05
E M G
²
Jair Fialho Fernandes

06
BSD
Sgt
Agripino Pires Vieira

07
²
²
Antônio Carlos Pereira

08
²
²
José Mozart Nogueira Pismel

09
²
²
Valério Reck

10
Saúde
²
Guilherme Ribeiro de Menezes

11
²
²
Reneaul Vieira do Nascimento

12
EMG
²
Décio Costa Ferraz

13
CMMB
²
Francisco Lima de Oliveira

14
CQG
²
Aroldo José Antunes

15
EMG
Ten Cel
Ney de Linhares Barros
Faleceu
16
CIEP
Ten
Péricles Lins da Costa
AUX MS
17
C Saúde
Sd
Rubens Gomes Botão

18
CSM
Sd
Mayrton Bezerra de Menezes

19
QG
Sgt
Jayme Dutra da Silveira

20
BSD
Ten
Luiz Octávio Cardoso de Menezes

21
GO
Sgt
Nelson Joaquim Alves

22
²
²
Délio Márcio Lucchetti da Costa

23
Int
Sd
Orison Guimarães Schneiber

24
BSD
Sgt
Edilvar Torres Palma

25
²
²
José Ribamar Cruz e Silva

26
²
Ten
Bernardino Nazareth Machado de Souza

27
²
Sgt
Waldir Felippe

28
²
²
Marley Prates

29
²
²
Leonório Ivalino Canzi

30
²
²
Nilton Borges de Carvalho


Número de Pqdt e ano do curso - segundo ordem acima

01 – 3076 do 1957/02
02 – 5290 do 1958/09
03 – 4367 do 1958/02
04 – 1497 do 1954/04
05 – 5288 do 1958/09
06 – 2190 do 1955/08
07 – 1571 do 1954/06
08 – 1811 do 1955/03
09 – 5007 do 1958/05
10 –   478 do 1951/02

11 – 1775 do 1955/03
12 – 4385 do 1958/02
13 –   544 do 1951/04
14 – 2359 do 1956/04
15 – 5287 do 1958/09
16 – 1612 do 1955/01
17 – 4180 do 1957/14
18 – 4462 do 1958/02
19 – 1762 do 1955/03
20 – 1568 do 1954/06


21 – 1960 do 1955/05
22 – 2287 do 1956/03
23 – 3585 do 1957/07
24 – 4333 do 1958/01
25 – (MS 598)
26 – 4297 do 1958/01
27 – 3232 do 1957/04
28 – 3237 do 1957/04
29 – 2076 do 1955/07
30 – 2991 do 1957/01



Ata: 26.10.1958: Avião 2207 - Decolagem: 9h45min - Sal to: 10h10min - Aterragem: 11h30min

A tragédia na imprensa

Tribuna da Imprensa – 27.10.1958
  
No “show” aéreo coronel morreu enforcado no ar

O vento foi o causador dos acidentes de ontem em Copacabana

Um tenente-coronel, um soldado e um sargento, todos do Exército, morreram, ontem, os dois primeiros em Copacabana, durante o “show” área que encerrou “A Semana da Asa”. O sargento morreu no Hospital Central do Exército.

O enforcamento, ainda no ar, foi a causa da morte do coronel. As presilhas do pára-quedas* do militar enroscaram em sua garganta. Ele, quando caiu, já estava morto. O soldado e o sargento foram vítimas também do pára-quedas, mas já dentro d’água, onde se asfixiaram.

No hospital

Os dois subalternos foram retirados da água ainda com vida, levados ao Posto do Lido, foram socorridos, mas se apresentavam em estado grave. O soldado expirou ali mesmo, instantes depois. O sargento, no HCE. O corpo dos dois estava sendo velado, ontem à noite, naquela dependência do Exército.

As vítimas

O coronel Ney Linhares de Barros era do Estado-Maior do Exército, tinha 50 anos. O sargento, de 26 anos, era Hamilton Argolo do Sacramento, e o soldado José Ribamar Gama Lopes, de 19 anos.

Os três pertenciam ao Núcleo da Divisão Aeroterrestre (Batalhão Santos Dumont). O vento forte, que soprava na hora do salto coletivo, foi-lhes fatal.

O “show” da morte

O “show” do Exército e da Aeronáutica, em homenagem a Santos Dumont, começou às 10 horas, na praia de Copacabana. Milhares de pessoa acorreram ao local para aplaudir a exibição. Mais de 150 aviões e um esquadrão de pára-quedistas participaram do “show”. Foram feitas acrobacias pela “Esquadrilha da Fumaça”, Grupo Senta a Pua, lançamento de fardos e material de guerra, salto dos pára-quedistas* e manobras de helicópteros.

Disparos

Demonstrações de disparos e bombardeios sobre alvos ao longo do mar foram executados pelas unidades do 1° Grupo de Caças, o famoso Senta a Pua, que guerreou na Itália.

Os aviões a jato, sob o comando do coronel-aviador Keller, realizaram voos rasantes e, com perícia, causando “suspense” ao povo, metralharam objetivos sobre as águas.

Lanchas rondam

Enquanto as aeronaves da FAB faziam evoluções no ar, diversas lanchas da Marinha de Guerra, Prefeitura e Corpo de Bombeiros, Iate Clube manobravam na água, colaborando com o Exército.

Quando do salto com os pára-quedistas, recolheram a todos, com rapidez, conforme os planos pré-estabelecidos.*

* Mas não isso que aconteceu na praia...

Saltos

Os pára-quedistas se projetaram no espaço, seguidos de material de guerra, preso a pára-quedas, sob o comando do Coronel Sílvio Santa Rosa.

O transporte se fez por C-82 da FAB. A Esquadrilha era comandada pelo cel-aviador Osvaldo Terra de Faria.

Desfile aéreo

129 aviões da Escola de Aeronáutica desfilaram pelos céus de Copacabana. A “Esquadrilha da Fumaça”, com arrojo e perícia, apresentou-se fazendo várias acrobacias: os aviões dispersos, com precisão matemática.

Por sua vez a Esquadrilha de Ligação e Observação – a que na semana passada deu o alarme do mau tempo reinante, com o que se transferiu para ontem o espetáculo – fez inúmera exibições, inclusive com o uso de helicópteros.

Presentes

Num palanque armado no Copacabana Palace, autoridades presenciaram o “show” final da Semana da Asa. Compareceram, entre outros, o brigadeiro Reinaldo de Carvalho Pinto,chefe do Estado-Maior da Aeronáutica e representante do ministro Correa de Melo, o brigadeiro Daher, presidente da Comissão de festejos da “Semana”, generais das Forças Armadas, além do brigadeiro Moraes Nélson, chefe da seção aeronáutica da Comissão Mista Brasil-Estados Unidos.

O Globo – 28.10.1958

A fúria do vento arrastou à morte os três pára-quedistas

O falecimento do Tenente-Coronel Ney de Linhares Barros, do Sargento Hamilton Argolo do Sacramento e do Soldado José Ribamar Gama Lopes é uma fatalidade inerente à nossa profissão – disse-nos esta manhã o Coronel Sílvio Santa Rosa, Comandante do Núcleo da Divisão Aeroterrestre sobre acidente que enlutaram as demonstrações aéreas de ontem (26.10.1958), em Copacabana.

Nós vivemos perigosamente e uma das provas de que a profissão é muito árdua é que todos nós somos voluntários – acrescentou o Coronel Sílvio Santa Rosa, acentuando que a sua  unidade lamenta e chora o fim trágico daqueles companheiros, “mas reconhece que ele se verificou porque as missões cumpridas pelos pára-quedistas desafiam, muitas vezes, a própria morte.

Como ocorreu o acidente

Ajuntou o entrevistado:

- O acidente se processou principalmente porque as três vítimas não se desequiparam no ar. Quando nós caímos dentro d’água, a trinta metros de altura, já abrimos o equipamento e deixamo-lo preso somente em baixo de nossos braços. A uma altura de três metros, levantamos os braços. E o pára-quedas, não tendo mais aquele peso sob ele, fica flutuando, num instante nos escorregamos por dentro do equipamento e mergulhamos, saindo imediatamente do local aonde ele vai cair, para não nos emaranharmos nas suas linhas. Esses três pára-quedistas entraram na água com seus equipamentos fechados não se tendo desequipado no ar talvez em consequência das fortes rajadas de vento que lhes surpreenderam no momento do salto.

Arrastados os pára-quedistas

- Ao entrar na água, como todos que estavam na praia verificaram, os pára-quedas continuaram enfurnados, servindo de vela e arrastando os pára-quedistas, que deslizavam sobre á água. A velocidade e o arrastamento era muito grande e nos obrigava a procurar ficar de costas para a água a fim de não sermos arrastados com a cabeça mergulhada. A impressão que eu tenho é que os três não conseguiram virar-se dentro d’água para não tomar essa posição mais adequada é natural. Somente ao se sentirem sufocados no arrastamento, se descontrolaram e se amaranharam ainda mais nas linhas no momento em que o pára-quedas perdia a velocidade. Também fui arrastado violentamente, bebendo muita água, mas consegui manter-me calmo. Lutando com o pára-quedas até ser socorrido. Quando os três militares foram socorridos, o soldado José Ribamar Gama Lopes já estava morto. O Tenente-Coronel Ney de Linhares Barros e o sargento Hamilton Argolo do Sacramento ainda foram retirados com vida, sendo assistidos na própria lancha pelos médicos, que imediatamente iniciaram as manobras para a normalização da respiração. Foram, a seguir, transportados para o Pronto Socorro do Lido, onde os atenderam com maior solicitude, utilizando o que há de mais modernos para esses exercícios de regularização do aparelho respiratório. O sargento, dado como recuperado, foi transportado para o Hospital Central do Exército, onde deveria continuar o seu repouso para a recuperação total. No HCE, entretanto, apesar de também ter sido atendido com toda a dedicação pelo médico de dia, e embora tenha permanecido todo o tempo com a máscara de oxigênio, cerca das 20 horas manifestou um colapso periférico entrando ele imediatamente em apneia e falecendo.

Previsão

Por último declarou o Coronel Sílvio  Santa Rosa:

- O serviço de Salvamento de Água foi previsto com adoção de coletes de paina fornecidos pela Marinha de Guerra e de trinta e sete embarcações, tendo surpreendido o grupo das embarcações civis, o diretor do Serviço de Salvamento da Prefeitura do Distrito Federal. Todos os pára-quedistas sabiam nadar perfeitamente, tendo saltado 145* homens e sido lançados, naqueles pára-quedas coloridos, 25 fardos. Comandei pessoalmente o salto e constatei a bravura dos meus camaradas, que, no momento da luta, souberam conduzir-se com galhardia. A morte de nosso três companheiros nos enche de profundo pesar. Deixa em nós uma saudade imensa, mas estou certo de que a nossa missão continuará com o mesmo élan e o mesmo entusiasmo. Quero ressaltar a colaboração espontânea e dedicada de todos os civis e militares que estavam nas embarcações, pelo denodo e esforço com que se empenharam no serviço de salvamento dos pára-quedistas, lutando contra o vento, cuja violência dificultava sobremodo o apanhamento dos homens. O vento foi uma dessas coincidências desastrosas que nos impõe a atmosfera: tão logo foi retirado o último homem, ele amainou totalmente. Não temos ninguém passado mal. Todos estão em perfeito estado de saúde.*

* Muitos paraquedistas, por hipotermia, apanharam pneumonia, ficando um bom tempo em tratamento médico. Isso o Cel não falou. * Falaram em 145 e 180 paraquedistas.

Jornal do Brasil – 28.10.1958

Cel. Santa Rosa não sofreu acidente:
“Foi apenas um aranhão sem importância”

O Coronel Santa Rosa, Comandante do Núcleo da Divisão Aeroterrestre, desmentiu ontem para o repórter do Jornal do Brasil as notícias de que também se havia acidentado nas demonstrações aéreas de domingo.

- O que houve comigo – disse o Coronel – foi coisa rotineira que sempre acontece com pára-quedistas: lanhos e aranhões sem importância.

Continua no quartel dos Pára-quedistas e entre a oficialidade do Exército o clima de pesar pelo acidente que vitimou na manha de domingo o Tenente-Coronel Ney de Linhares Barros, o Sargento Hamilton Argolo do Sacramento e o Soldado José Ribamar Gama Lopes, que morreram enforcados pelas linhas de nylon de seus pára-quedas.

Culpa do vento

Ninguém, entre os que presenciaram o espetáculo de domingo, percebeu os apuros por que passava os 180* pára-quedistas lutando contra o vento para livra-se das cordas de seus pára-quedas. Dois pára-quedistas, todos abordados pela reportagem, afirmaram unanimemente que o salto foi perfeito. Depois que caíram no mar foi que o vento complicou tudo, soprando violentamente e enchendo de vento o velame dos pára-quedas que os impulsionou fazendo-os deslizar em grande velocidade na superfície da água, onde se mantinha por força dos coletes salva-vidas que os impediu de afundar.

As linhas de nylon se cruzavam em torno deles apertando-os e raro foi o que não saiu lanhado. O Tenente-Coronel Ney de Linhares Barros, o Sargento Hamilton Argolo do Sacramento e o Soldado José Ribamar Gama Lopes não conseguiram livrar-se das linhas que se enrolaram em seus pescoços e morreram enforcados, embora ainda tivessem sido recolhidos com vida.

Os pára-quedistas sabem que é perigoso o seu exercício e estão bem treinados e preparados para enfrentar os imprevistos. Mas quase nenhum deles previu o que aconteceu domingo. O próprio Coronel Santa Rosa, que tem muita experiência em saltos, não evitou de ser “lanhado” pelas cordas de seu pára-quedas.

Ouvido pelo repórter do Jornal do Brasil, o Coronel Santa Rosa esclareceu que nada de grave aconteceu com ele: “os repórteres me viram no posto médico com o braço um pouco lanhado e imaginaram logo o acidente. Mas ele não aconteceu comigo nada de grave. Pelo menos para um pára-quedista”.

Queixaram-se também os pára-quedistas de   que não houve o apoio satisfatório por parte do pessoal que devia recolhê-los no mar. Dizem que neste ano, para recolher 180 pára-quedistas, havia quase o mesmo número lanchas que no ano passado quando apenas 40 executaram o salto.

O “show” aéreo

O “show” aéreo realizado em Copacabana, na manhã de domingo, começou às 10 horas e durou até pouco depois do meio-dia.

Após o reconhecimento da área pelo Comandante da Escola de Aeronáutica, Brigadeiro Martinho Cândido dos Santos, cinco aviões C-82 do Grupo de Transporte Aéreo lançaram em primeiro lugar os fardos de material bélico em pára-quedas coloridos vindo a seguir o salto dos 180 pára-quedistas.

A demonstração seguinte esteve a cargo da “Esquadrilha da Fumaça” da FAB, que fez inclusive voos a baixa altura sobre a praia. Logo depois, aviões a jato “Meteor”simularam um bombardeio visando cinco alvos que boiavam no mar., em frente do Copacabana Palace e a cerca de 500 metros deste.

Apenas um alvo foi atingido e para ele rumaram depois lanchões do Corpo de Bombeiros que aproveitaram para fazer também uma exibição de seus jactos cruzados de água


*pára-quedas e pára-quedista(s) mantivemos, em todo texto, a grafia usada na época da reportagem.

Observação:

Este trabalho de pesquisa foi realizado junto ao arquivo da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, em cópias em CD-ROM (Tribuna de Imprensa e O Globo) e xérox do Jornal do Brasil. Agradecemos a colaboração dos funcionários daquele órgão público pelo carinho e a gentileza com que colaboraram para o presente trabalho de pesquisa de um trágico acontecimento histórico da Brigada de Infantaria Paraquedista.

 Os editores do Grafonsos
  
Salto em Copacabana

Comentários de quem estava lá...

Lembro muito bem do “Salto em Copacabana”, dizia-se, à época, que era para o Gen Santa Rosa impressionar Autoridades... No meu avião morreram dois, Hamilton Argolo Sacramento, Sgt da Cia de Saúde e o Sd José Ribamar Gama Lopes, do BSD (Batalhão Santos Dumont) este com Medalhas de vencedor em competições de natação! Acho que o primeiro erro aconteceu quando, ao lado do Pavilhão, o Maj Retumba, da Manutenção de Paraquedas, em cima de uma mesa, e o Maj Brasil (Paulo Altenburg Brasil, Pioneiro em Salto Livre) fizeram a recomendação: “Não percam o paraquedas, se não terão que pagar C$ 20.000,00 Cruzeiros!” Eu era Cabo, à época, acho que não ganhava nem um décimo disso, pagar como? Consequência, não obedeci à recomendação, como tantos outros, de se desvencilhar do paraquedas. A cerca de 2 metros da água, bati no peito, liberei, mas fiquei vestido, pelos ombros, com o meu valoroso T- 7, não poderia perdê-lo! Quando bati na água, com o forte vento que estava, por sorte caí de costas. O paraquedas inflou e saí deslizando com uma velocidade que não me permitia desvencilhar, até que uma onda de quase 3 metros deu uma interrompida nessa corrida. soltei o paraquedas e o vi seguir, sozinho, rumo a Niterói... (o reserva lhe dava lastro). Fiquei na água até ser resgatado por um navio cargueiro que saía da Barra (entre o Pão de Açúcar e a Fortaleza de Santa Cruz).

As lanchas de socorro, a maioria, estavam indisponíveis, pois, quando chegavam perto para recolher o Pqdt, as linhas enrolavam na hélice, aí estava fora de situação... Quando o navio me recolheu, eu estava com hipotermia, tremia e não conseguia ficar de pé, deram-me uma cachaça e me levaram para a Casa de Máquinas, uns 60 Graus, mais ou menos. Instantaneamente, “melhorei”, trouxeram-me até defronte ao Forte de Copacabana, onde uma lancha do Salva-vidas foi me buscar. Chegando ao Posto 6, falaram para eu descer, que já dava pé, desci, não dava, nadei e saí... Dei meu nome para alguém que fazia a anotação, mas nem perguntaram pelo meu T-7, e fui para casa. Bem, saí da hipotermia para um calor de casa de máquinas, voltei para água gelada (posto 6), consequência: peguei uma pneumonia bilateral (pneumonia dupla, em linguagem popular), quase morri! Mas, felizmente, para nós, sobreviventes, tudo acabou bem e, hoje, 54 anos depois estou aqui recordando esses fatos...

22 de dezembro de 2012.

Manoel Luiz Brum, Pqdt 3993 – 1957/11 - MS 796 e Salto Livre 059

Um major, em cima de um palanque, deu-nos a ordem; “Não percam seus paraquedas, senão terão que pagar dos seus bolsos o prejuízo!”. Logo, ninguém queria arcar com a despesa da perda de um importante equipamento. Não havia condições para o salto, o vento era muito forte. Os salva-vidas foram emprestados pela Marinha, totalmente obsoletos, feito ainda de cortiça. Eu era morador de Copacabana, sabia tudo de mar e era bom de natação. Na água, uma das linhas do paraquedas prendeu no meu tornozelo e me arrastou do posto 3 até o Lido. Ficava com aboca na água, só subia para respirar. Quando uma barca de pescadores me retirou do mar. Fui andando até o meu apartamento, na Rua República do Peru, deitei e dormi. Quando me apresentei, tinha sido dado como morto. Todos sabem, como eu, que a ordem para o salto, em circunstância tão dramática, foi dada pela insistência do comandante do GU da época, Todos conhecem o seu nome...

P.S. Uns dias antes, fiz, com outros paraquedistas, um treinamento de natação na Praia Vermelha e fui considerado apto para o salto. Outro detalhe é que a claridade do mar não dava a real aproximação da água, não se podia perceber o momento exato de se desvencilhar do paraquedas e cair na água.

Luiz Reisemberger Fernandes de Souza, Pqdt 2629 – 1956/8 – MS 835

Estávamos assistindo do terraço do nosso edifício, na Rua Domingos Ferreira, a 50 metros da praia de Copacabana, posto 4, eu (capitão) e o 1° Ten. (Ramiro Júlio Souto) Bozano (ambos Pqdts), não escalados para a demonstração promovida a militares dos Estados Unidos. Foram imagens inesquecíveis gravadas na memória de quem viu dezenas de companheiros deslizando como velozes esquis aquáticos, abrindo esteira na água, puxados pelos paraquedas abertos insuflados pelo vento, como as velas de um navio.

A velocidade do vento superava a muito a estipulada pelas normas, desrespeitadas em favor da preocupação de proporcionar a exibição aos visitantes. Outra causa foi a inadequação do equipamento para saltos no mar: em vez de boias infláveis, eram usados coletes de cortiça que “enforcavam” os paraquedistas ao serem puxados com força excessiva, pelo paraquedas aberto na posição em que se encontravam.

No dia seguinte, segurei, no cemitério, uma das alças do caixão de um Tenente-Coronel cujo nome me falta (Ney de Linhares Barros), mas me recordo de que era tio do Capitão Pqdt Jair. O Tenente-Coronel Ney tinha o perfil da pessoa que nunca deveria morrer.

Nelson Santos, Pqdt 1422 – 1954/4 – MS 276

Aconteceram centenas de fatos que levaram a grande tragédia. Perdi três companheiros, Cel Nei, Sgt Argolo e o Sd Gama. Morreram cumprindo uma série de ordens absurdas, inegável que foram voluntários. Mas não poderiam imaginar as irresponsabilidades de um superior. Teria que escrever um livro para contar toda esta triste história. Eu era Cabo, escapei porque não cumpri a ordem de “Não desequipar” quem perdesse o paraquedas teria pagá-lo. Desequipei-me quando percebi o vento fortíssimo e a grande distância da praia de Copacabana. (Mais de 1200 metros) Por sorte, eu era exímio nadador, abandonei meu paraquedas Socorri o Sgt Leopoldo, que estava enrolado nas linhas do T-7 (Sim, todos nós saltamos com velhos paraquedas T-7). Três AVISOS da Marinha para recolher 90 homens no mar (Absurdo) Não posso mais continuar falando, desculpem...

Prezado Nilo, estou à sua disposição para qualquer depoimento sobre o salto trágico ocorrido em Copacabana em 1958. Infelizmente, fomos vítimas da vaidade inescrupulosa do Cel Santa Rosa. Na ocasião, eu era um simples Cabo, porém consciente e disciplinado. Nadei por mais de uma hora, pude ajudar ao Sgt Leopoldo, que estava em apuros, preso em várias linhas do seu T7, fiquei com ele até chegar uma lancha particular, que ouviu os apelos desesperados pela Rádio e dirigiu-se até lá para ajudar o salvamento. Fiquei indignado com tanta incoerência. Para resgatar aqueles fatos teremos que culpar quem autorizou o lançamento com o T impedido. (Cel Santa Rosa).

Luiz Olintho Teixeira Schirmer*

Pqdt 3036 do 1957/2, MS 846, Dompsa 74 – SL 44 – FE 39
 e Comando 48

*Saiu do EB por ter se formado em Medicina.

Considerações finais

Esse salto, em Copacabana, fazia parte de uma grande festa para a Semana da Asa, uma das comemorações mais importantes da Aeronáutica Brasileira. As grandes apresentações seriam as evoluções da Esquadrilha da Fumaça da Força Aérea Brasileira e o salto no mar dos Paraquedistas do Exército.

Quase toda a extensão de areia e a calçada de Copacabana estavam lotadas de gente de todo o Rio de Janeiro. As condições atmosféricas poderiam até não serem as ideais, mas não se podia mais recuar do salto. Era o Exército, naquilo que ele tinha de melhor: a tropa de paraquedistas; contra aquilo que a Aeronáutica tinha de mais profissional: os seus pilotos e seus aviões.

O comandante geral da GU seria um dos primeiros homens à porta. Ele daria, com o seu exemplo, a certeza de que o salto tinha que ser realizado de qualquer jeito.

Quase todos os voluntários eram jovens e voluntariosos, a exceção, talvez, dos dois mais antigos Pqdts a bordo dos aviões: o Cel Santa Rosa e o Ten-Cel Barros, que faziam parte do Estado Maior da Brigada.

Seria ainda oportuno salientar que o Ten-Cel, que faleceu no salto, era inexperiente. Ele foi formado no 1958/9, o último curso do ano citado. Provavelmente, ele daria o seu 6° salto de uma aeronave em voo e ainda no mar!

As ordens não foram bem claras: alguns afirmam que deveriam se desvencilhar de seus paraquedas ainda no ar, caindo  no mar só com o salva-vidas ajustado no corpo; outros, que não deveriam perder seus paraquedas, pois eram caros e importados.

A não ser que houvesse duas ordens: uma para oficiais, que poderiam se desprender de seus paraquedas, fazendo o procedimento correto, e outra ordem para o pessoal menos graduado, que deveria cuidar dos seus equipamentos, amerissando com os paraquedas.

As versões são desencontradas. Temos, até agora, o relato fiel de três paraquedistas que participaram desse salto. Um afirma uma coisa e dois afirmam outra.

A única certeza conhecida é que morreram três paraquedistas. Esperamos, nos futuros saltos de demonstrações n'água, que essa lição seja bem lembrada...

P.S. Provavelmente, se tivessem atendido a marcação dos Precs na orla, que colocaram o T impedido em vermelho, talvez, o acidente poderia ter sido evitado...

Testemunho de um dos filhos do Pqdt Cel Ney de Linhares Barros

Estávamos lá naquele dia, nublo e cinzento, de 26 de outubro de 1958, eu, com 4 anos, meu irmão Fernando, com 14, família e amigos na escadaria que dá para a areia da praia de Copacabana. Corroboramos nosso testemunho ao que já foi descrito anteriormente sobre as condições de tempo impróprios à realização do salto, prenúncio da tragédia  que a mim foi dado. Ao se iniciar a demonstração, os paraquedistas se lançaram à deriva do vento forte, em direção ao Morro do Lido, na Praia Vermelha e alto mar, arrastados pelos velames, o que fez com que nos retirássemos à nossa residência para o aguardo de notícias. Vieram elas através do primo Cap. Jair Fernandes Fialho, também PQDT, da forma mais trágica e detalhando o desfalecimento de nosso pai no decorrer do salto, com os braços distendidos junto seu corpo, sem nenhum  controle sobre o paraquedas, determinando o seu enforcamento pelas cordas.

Nossa mãe, Maria Edith Silva Barros, presente ao sepultamento, dentro de sua fortaleza de caráter e coragem ímpar, sem derramar lágrimas, dispensou toda e qualquer cerimônia de honra militar a que tinha direito nosso pai Ney, respeitando seu desejo e “in memorium”.

Retornamos ao final de 1958 a Porto Alegre, terra natal, procurando o conforto dos familiares maternos.

Em 1961, Fernando, às escondidas, viajou ao Rio de Janeiro alistando-se na Escola de Paraquedistas, para a inconformidade traumática e sofrida de nossa mãe. A mim restava encarar meu irmão como o herói redentor, símbolo da alma paraquedista, da honra a nosso pai. Foi brevetado pelo Gen. Sílvio Américo Santa Rosa, Comandante do Núcleo da Divisão Aeroterrestre, na escadaria frontal ao prédio do QG do Núcleo, da mesma forma que nosso pai, emblema de sua redenção. Seu retorno a Porto Alegre foi marcado pela mistura de angústia e fúria inconformada de mamãe, por desabar em choro convulsivo de ambos. Sou testemunha desse fato, estupefato e sem entender nada, meu herói surrado por mamãe.

Nossos destinos nos separaram por longo tempo. Fernando foi ao mundo gauderiar, eu e meu irmão do meio a carregar o pesado fardo de honrar a memória de nosso pai, traumatizados em consequência e pressionados a seguir os mesmos passos da carreira tradicional em nossa família. Desabei. Não dei continuidade à tradição, assim como meu irmão do meio, João Manoel, já falecido, mesmo que pelo incentivo da família e dos militares, comandantes e comandados de nosso pai, personalidades amigas como o Gen Salvador César Obino, nosso tio Joia. O Bananão (apelido de papai desde o CMPA) nos esmagara.

Hoje, quem leva o baluarte dessa tradição é meu filho Thomaz Selistre Barros, cadete do 3º ano da AMAN*, gema de meu orgulho.

Aos PQDT’s Nilo e Freire meu mais entranhado agradecimento em proporcionarem o meu resgate nesse tributo em memória a meu pai. É a minha redenção.

Antonio Carlos Silva Barros e Fernando José Silva Barros- PQDT 8459, filhos do Gen. Div. Post Mortem Ney de Linhares Barros.
    
*À época em que o texto foi escrito


Sentados, da esquerda para a direita, Antônio e Fernando:
em pé, na mesma ordem, os Pqdts Freire e Nilo. 
           
Antônio e Fernando são filhos do Gen Ney de Linhares Barros.

12 comentários:

  1. Agradeço as palavras de Nelson Santos Pqdt 1422 como filho de Ney de Linhares Barros, meu primo Jair Fialho Fernandes estava no mesmo salto e ele nos deu a notícia do ocorrido.
    Eu estava lá em tenra idade e presenciei.
    Agradeço também ao Nilo pela postagem da última foto de meu pai.
    Antonio Carlos Silva Barros.

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    1. Amigo Antonio Carlos Silva Barros, filho do inesquecível herói do Exército Brasileiro Cel Ney de Linhares Barros, cuja morte poderia ter sido evitada, se não fosse a teimosia de um comandante, mas... vamos deixar pra lá. Quis, com esta matéria resgatar um trágico lançamento de heróis paraquedistas. Um abraço do amigo, Nilo da Silva Moraes.

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  2. Naquela época faziam parte da família o Cel. Pedro Luís Osório e como um próximo da família Cel. Di Prímio.

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  3. Desculpe Nilo, mas o que mostra a foto o meu pai não está desmaiado ou desfafecido, nota-se sua mão direita a empurrar Izidro apoiado em seu cotovelo esquerdo.

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    1. Onde se lê desfafecido leia-se desfalecido, não tive como corrigir.

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    2. Leia o adendo, amigo Antonio, com o teu belo texto sobre o acidente...

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  4. Meu sogro participou .. Olívio Carlos Leite Salomão

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    1. Realmente, seu nome está num dos Manifestos de Voo: Sd 4414 do Turno de 1958/2

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  5. Sou sobrinho do Hamilton Argolo e tenho o mesmo no dele como homenagem. Meus Instagram @teuz_nasc

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  6. Sgt Hamilton Argolo Sacramento, PQD número 604, do Turno do 1951/6, Mestre de Salto número 507, faleceu nesse trágico salto em Copacabana, em 26.10.1958.

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