terça-feira, 23 de maio de 2017

Procissão



Imagem de Procissão em 1912 na Rua Maciel Pinheiro, em Campina Grande – Fonte – Acervo do Museu Histórico e Geográfico de Campina Grande.

Procissão

Gilberto Gil

Meu divino São José,
Aqui estou a vossos pés.
Dá-nos chuva com abundância,
Meu Jesus de Nazaré;

Olha lá vai passando a procissão
Se arrastando que nem cobra pelo chão.
As pessoas que nela vão passando
Acreditam nas coisas lá do céu.
As mulheres, cantando, tiram versos,
Os homens, escutando, tiram o chapéu.
Eles vivem penando aqui na Terra
Esperando o que Jesus prometeu.
E Jesus prometeu coisa melhor,
Pra quem vive neste mundo sem amor,
Só depois de entregar o corpo ao chão,
Só depois de morrer neste sertão.
Eu também estou do lado de Jesus,
Só que acho que ele se esqueceu
De dizer que na Terra a gente tem
De arranjar um jeitinho pra viver.
Muita gente se arvora a ser Deus,
E promete tanta coisa pro sertão:
Que vai dar um vestido pra Maria,
E promete um roçado pro João.
Entra ano, sai ano, e nada vem,
Meu sertão continua ao Deus dará,
Mas se existe Jesus no firmamento,
Cá na Terra isso tem que se acabar.

O administrador de empresas, político, cantor, compositor e poeta baiano Gilberto Passos Gil Moreira, proporciona na letra de “Procissão” uma interpretação marxista da religião, vista como ópio do povo e fator de alienação da realidade, segundo o materialismo dialético. A letra mostra a situação de abandono do homem do campo do Nordeste, a área mais carente do país. A música foi gravada por Gilberto Gil, em compacto simples, no LP Louvação, em 1967, pela gravadora Unima Music.


(Comentário final do Blog: Tribunal da Internet)



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