O homem no desemprego*
é um homem amordaçado.
Esconde grito contido.
Por isso parece calado.
O homem no desemprego
rumina áspero ódio.
O tempo boceja inútil
sem agendas ou relógios.
O homem no desemprego
não tem passagens ou malas.
Move-se num vai e vem
qual uma fera na jaula.
O homem no desemprego
parece perdido no espaço.
Manearam suas pernas.
Imobilizaram seus braços.
O homem no desemprego
é um homem no exílio.
Não tem idioma nem pátria.
É um trem fora dos trilhos.
O homem no desemprego
é um náufrago na tábua.
É um peixe asfixiado
num turvo aquário de mágoas.
O homem no desemprego
congelaram sua imagem.
O tempo rola seu filme,
mas ele ficou à margem.
Ao homem no desemprego
o alambique destila
a salvação pelos copos
e o triste roteiro das filas.
(Luiz Coronel –
Correio do Povo – maio de 2017)
*Desemprego ou desempregado é tudo a mesma coisa...
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