Quando chegou em Pipeiras o
delegado Nonô Pestana foi aquele zunzum, aquele mal-estar. O delegado veio
arrastando enorme palmatória. Era com muito orgulho que Nonô dizia mostrando o
instrumento de trabalho:
− Comigo não tem esse negócio de
confissão espontânea coisa nenhuma! Comigo todo mundo entra no instrumental. É
o único jeito da autoridade saber se o sujeito é criminoso ou inocente.
E bem Nonô não havia arregaçado
as mangas apareceu um retinto dizendo ter dado morte por esquartejamento a um
tal de Chico Cabeção. Pelo que confessou estar arrependido e pronto a purgar,
nas malhas da lei, o crime de sua lavra:
− Matei e enterrei Chico Cabeção no quintal de minha casa.
De fato, o esquartejado lá estava mortinho da silva de nunca mais voltar a ser Chico Cabeção. Foi quando o delegado, dentro dos seus princípios justiceiros, passou o confessante por uma palmatória braba e esperta. E o sujeitinho tanto apanhou que acabou desconfessando tudo. Jurou de mãos postas que era mentiroso e inventeiro. Que outro tinha esquartejado Chico Cabeção. E Nonô orgulhoso:
− É o que eu digo e provo. Não tem como uma palmatória para o suspeito contar a verdade. Se não ministro esse corretivo, o delegado Nonô Pestana, que sou eu, mandava para uma cadeia de trinta anos um pobre inocente.
E soltou o homem.
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Do livro “Se eu
morrer telefone para o céu”, de José Cândido de Carvalho
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