Manuel Bastos Tigre
Foi na extrema hora da partida,
Pediu-me a benção,
Abençoei dizendo:
“Segue, meu filho, vai por esta
vida,
vai pelo mundo que tu achas
lindo.
Pela áurea estrada esplêndida
E florida da tua exuberante
mocidade.”
Ele saiu dali, partiu sorrindo
E eu, um beijo último,
atirei-lhe
envolto em uma lágrima de
saudade.
Partiu sorrindo pela estrada a fora,
a rir feliz como um aventureiro.
Tendo na fronte as irradiações
da aurora
E os sonhos triunfais do mundo
inteiro.
“Anda! Sê forte!
Evita os mil perigos.
Pela gratidão jamais esperes.
Não creia na lisonja dos amigos.
Não confie no sorriso da
mulheres.”
Ele saiu dali, partiu sorrindo,
Tendo na fronte o albor dos
rosicleres.
Anos volveram.
Perpassaram-se dias.
As minhas pobres barbas
branqueceram-se
E nem uma palavra alentadora
daquele pobre filho que se fora.
daquele pobre filho que se fora.
Até que por manhã de claro
estio,
pelo claro da lisa e larga
estrada,
surge um mendigo, receoso e
esguio,
com os pés em sangue e a roupa
lacerada.
Caminha devagar e lento e lento...
Vem, pouco a pouco, se
arrastando à porta.
Triste nênia de luto entoa o
vento
e a própria natureza é quase
morta.
Vem mais se aproximando o
forasteiro
já quase frente a frente, rosto
a rosto.
Quem será esse moço assaz
trigueiro
que encarna a própria imagem do
desgosto?
E o mendigo com voz
entrecortada,
olhando para trás, olhando a
estrada,
que ficava dali meio distante,
num gesto contristado e
claudicante
vai dizendo entre lágrimas
banhado.
“Eu sou aquele miserável moço,
de olhar radiante e de sonhar
tão lindo.
Que, há dez anos, daqui partiu
sonhando,
que, há dez anos, daqui partiu
sorrindo.
Pai! Eu sou aquele filho
miserando.
Que um dia, se partiu daqui
sorrindo,
agora, volta como vês:
chorando.”
Tigre Bastos, nos coloca em um lugar, que jamais imaginaria que como Pai, seria o personagem central.
ResponderExcluirRONALDO ADRIANO BRITO - VARGEM GRANDE DO RIO PARDO-MG
A vida é isso, meu amigo, ela sempre nos oferece coisas surpreendentes...
ResponderExcluir