Darcy Ribeiro*
O sábio mais sábio do mundo foi o que
descobriu o nada. Nada mesmo. Ele teve a ideia genial de que onde não há nada,
nadinha mesmo, há o nada. E fez do nada um algarismo, o zero.
A ciência seria impossível sem a
Matemática e a Matemática mais impossível ainda sem o zero. É difícil imaginar
como a humanidade pôde atravessar tantos milênios, produzindo muitos homens
sábios, que não sabiam a verdadeira matemática, ou não tinham instrumentos para
criar uma, É certo que os egípcios sabiam fazer, com seus astrólogos, muitos
cálculos astronômicos. Os gregos eram filósofos, que ainda nos espantam por sua
inteligência. Os romanos nos legaram leis que funcionam até hoje, coordenando
relações entre as pessoas.
Mas a nenhum deles ocorreu essa ideia
fundamental de que onde não há nada, algo existe: o nada. Com o zero, que não é
nada, pode-se coordenar os números, assim: o número um é um só, com o zero
adiante, ele decuplica, passa a ser dez; dois zeros, ele centuplica; três, ele milifica.
Posto o zero na frente do número, ele se divide. O um, com um zero na frente, é
um décimo; com dois zeros na frente, é um centésimo, etc. e tal.
Vou dar a você, de presente, hoje,
uns números grandotes para você se divertir. O primeiro número é 60 000 000 000
000 000 000 000 000 000, com um 6 e 28 zeros, é a idade da Terra, em milhões de
anos.
O segundo número é
0,00000000000000000000000166, formado por um zero, uma vírgula e mais 24 zeros
seguidos do número 166, corresponde à massa do átomo do hidrogênio, em gramas.
Isso não é nada. Podemos fazer
números muitíssimo maiores. Se você fizer um número que vá daqui até a Lua, ele
ainda não será o maior número do mundo. Pondo mais um zero, ele se multiplica
por dez, e vai por aí afora. Parece brincadeira, não é?
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*Darcy Ribeiro (Montes
Claros, 26 de outubro de 1922 − Brasília,
17
de fevereiro de 1997)
foi um antropólogo,
escritor e político brasileiro,
conhecido por seu foco em relação aos índios e à educação no país.
Suas ideias de identidade latino-americana influenciaram
vários estudiosos latino-americanos posteriores. Como Ministro da Educação do Brasil realizou
profundas reformas que o levou a ser convidado a participar de reformas
universitárias no Chile,
Peru, Venezuela, México e Uruguai, depois
de deixar o Brasil devido à ditadura militar de 1964.
Foi casado com a etnóloga e antropóloga Berta Gleizer Ribeiro, até 1974.
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