segunda-feira, 11 de março de 2019

História do Primeiro Grenal



Programa e escalação dos times


Grêmio:

Em pé: Kallfels, Depperman e Becker.
No meio: Carls, Black e Mostardeiro.
Sentados: Brochado, Moreira, Booth, Schröder e Grünewald.
Diretor de campo (capitão do time): Guilherme Kallfels


Internacional:

Em pé: Poppe II, Portella e Simoni.
No meio: Vinhola, Pires e Wetternich.
Sentados: Poppe I, Horácio, Carvalho, Cezar e Mendonça.
Diretor de Campo (capitão do time): José Eduardo Poppe

(...) A Federação ao anunciar o jogo na quarta página de sua edição de 17 de julho de 1909, um sábado (o jornal não circulava aos domingos), o periódico lançava uma conclamação que, lida cem e dez anos depois sob a luz de uma das mais ferrenhas rivalidades esportivas do Brasil, não deixa de soar irônica:

O encontro de domingo será o mais brilhante para o melhor conceito do “foot-ball” entre nós e deverá ser o exemplo para o maior estimulo e incentivo, que romperão as rivalidades que existem, dando ao foot-ball seu completo desenvolvimento.

Às duas da tarde, os footballers rubros saíram em bonde expresso da sede do club, na Avenida Redenção*, em direção ao Moinhos de Vento. Uma hora e dez minutos depois, as duas equipes cruzaram lado a lado a roleta à margem do campo e entraram no gramado, precedidas pelos respectivos presidentes e pela banda da Brigada Militar. As 2 mil pessoas da assistência aplaudiram com entusiasmo. Os jogadores do Grêmio ostentavam fardamento estilo inglês, com camisas metade azul, metade branca, e calções pretos; os colorados, camisas listradas de vermelho e branco e calções brancos, à moda italiana. O árbitro foi Waldemar Bromberg, auxiliado por Castro Silva e Sommes (juízes linha) e Theobaldo Förnges e Theobaldo Bugs (juízes de gol). Os juízes de gol ficavam sentadinhos num banquinho ao lado das goleiras. Eram muito necessários por uma razão bem simples: as goleiras ainda não estavam equipadas com redes. Aí, qualquer chute que passasse próximo às traves originavam a maior discussão: foi gol, não foi. Aos juízes de gol competia deliberar acerca dessas angustiantes polêmicas.

Às 15h25min “foi dado o signal de kick-off” (pontapé inicial), batendo na bola o center-forward Booth, do Grêmio. Nos primeiros minutos, indecisão. O Grêmio estudava a força do adversário. Mas logo os “porto-alegrenses”, como eram chamados os gremistas, tomaram conta da partida. Aos dez minutos, Booth marcou o primeiro gol do jogo e da história do clássico Grenal. O goleiro do Inter, Poppe II, até então bem na partida, começou a dar sinais de nervosismo. Aos vinte ele tomou o segundo gol. O Grêmio faria um terceiro, anulado por off-side (impedimento). O primeiro tempo terminou em 2 X 0.

Naquela época, cada tempo durava quarenta minutos, às vezes só meia hora, com um intervalo de dez minutos. O primeiro Grenal teve dois tempos de quarenta minutos. O Grêmio voltou para o segundo período ainda mais empenhado em provar a sua superioridade. O Inter tentou dois ataques, mas, em ambas as vezes, a bola parou nas poças de lama do campo de defesa do Grêmio. Aos dez, quando os gremistas ampliaram para 3 X 0, os colorados mostravam-se cansados. Só os forwards Mendonça, Carvalho e Poppe I continuavam correndo. Foi uma tranquilidade para os bem treinados e experientes jogadores do Grêmio. Em trinta minutos, assinalaram sete gols. O jogo transcorreu todo no lado do campo do Internacional. Estava tão fácil que o goleiro Kallfels e os beques Deppermann e Becker passaram vários minutos conversando com os torcedores à beira do gramado. No dia seguinte, o juiz Bromberg confessaria ter se cansado de dar a saída de jogo tantas vezes. Quando ele encerrou a partida, o placar estava 10 X 0 para o Grêmio.

O campo foi invadido pela torcida, que carregou os jogadores do Grêmio sobre os ombros. Às seis da tarde, juízes, jogadores e dirigentes foram até a sede dos Atiradores Alemães, ao lado da Baixada, e lá beberam cerveja e bailaram até a madrugada. Os colorados brindaram a homenagearam os vencedores, como rezava a boa educação, e aproveitaram a festa.

Alguns, contudo, se deixaram abater pela humilhação do primeiro Grenal. Caso do presidente João Leopoldo Seferin. Aos poucos, desanimado, ele foi se afastando do clube, dedicando-se mais ao seu trabalho na Phamacia Fischer. No final do ano, entregaria a presidência em definitivo para Henrique Poppe. O time passou três meses sem jogar, bem próximo do fechamento. O que não ocorreu devido à fibra de alguns bravos. Com destaque para dois, entre eles: o maragato gritão Antenor Lemos e o primeiro ídolo da torcida, Carlos Kluwe.

*Avenida Redenção é a atual Avenida João Pessoa, ao lado do Parque Farroupilha (Redenção).


Carlos Kluwe, no centro da foto, ajoelhado, o primeiro craque colorado.
  
(Do livro “A História dos Grenais, de David Coimbra, Nico Noronha, 
Mário Marcos de Souza, Carlos André Moreira)




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