sexta-feira, 8 de março de 2019

Adagiário gaúcho



→ Os adágios, anexins, ditos gauchescos autênticos, ainda não foram estudados e classificados com a devida exação. Reduzem-se sempre a uma simples constatação da experiência, uma experiência avisada e prudente, que desconfia dos grandes rasgos e se limita a aconselhar:

“Não te apotres, que domadores não faltam.”
“Se correres eguada xucra, grita; mas com os homens, apresilha a língua.”
“Quem não compra bulha, não ata porongo nos tentos.”
“Devagarito nas pedras.”
“Quando dois brincam de mão, o diabo cospe vermelho.”
“Animal bagual põe os mansos a perder.”
“Não guasqueies sem precisão nem grites sem ocasião.”
“Mulher, arma e cavalo do andar, nada de emprestar.”
“Cavalo de olho de porco, cachorro calado e homem de fala fina, sempre de ralancina.”

→ Com referência ao amor, ora é o realismo cru:

“Mulher e barro, pelo meio.”

→ Ora é o pessimismo

“Amor de china, fogo em faxina.”

→ Ora é desconfiança:

“Mulher sardenta e cavalo passarinheiro, alerta companheiro!”

→ Diante da exploração do fraco pelo forte e dos abusos do poder, atesta simplesmente:

“Cavalo do comissário ganha sempre.”
“Quem ordenha, bebe o apojo.”

→ Quem nasce torto:

“Filho de arisco, nasce matreiro.”
“Cachorro ovelheiro, só morto endireita.”

→ Não há rosa sem espinho...

“Não há tropa sem boi corneta.”

→ Às vezes, a poesia da imagem abranda o pessimismo:

“O sol é poncho do pobre.”

→ Ou a consciência do campeiro aquece tudo, para constatar, mas sempre com autocrítica:

“O bom domador seu bagual adora.”
“Moço monarca não assina, mas risca a marca.”
“Entre bois não há cornada.”
“Sinal de relho o tempo apaga.”
“Do couro é que sai a guasca.”
“No entrevero todos se rebuscam.”
“Inverno sem minuano, caracu sem tutano.”

(Do livro “Guia do Folclore Gaúcho”, de Augusto Meyer)

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