Cenário: Mesa de Restaurante.
Cena: Dois amigos sentados,
doutor Doctor e senhor Monsieur.
Ao fundo, gerente e garçom.
Doutor Doctor − Garçom, a conta!
Garçom − (Aproximando-se.) Mas
doutor! O senhor já pagou a conta.
Doutor Doctor − Não discuta. O
freguês tem sempre razão! Traga a conta que eu quero pagar.
(Garçom afasta-se.)
Doutor Doctor − (Ao seu amigo,
senhor Monsieur.) Esses garçons andam terríveis!
(Garçom volta novamente com a
conta.)
Garçom − Aqui está, doutor.
Doutor Doctor −
(Pagando.)Toma. Pode guardar o troco.
Senhor Monsieur − Vamos embora.
Doutor Doctor − Vamos sim. Antes
deixa só eu pagar a conta.
(Chama.) − Garçom!
Garçom − (Aproximando-se.) Pois
não, doutor.
Doutor Doctor − A conta, por
favor.
Garçom − Mas doutor! O senhor
pagou duas vezes!
Doutor Doctor − Você quer
discutir comigo, é?! Seu malcriado! Traga logo a conta que eu quero pagar?
Garçom − (Assustado.)
Trago sim, doutor.
Doutor Doctor − Eu não
estou dizendo? Esse serviço anda péssimo.
(Garçom volta novamente com a
conta.)
Garçom − (Meio com medo.) Está
aqui.
Doutor Doctor − (Pagando mais uma
vez.) E não se esqueça de guardar o troco.
(Garçom vai se afastando, quando
doutor Doctor chama-o de novo)
Doutor Doctor − Ah, garçom.
E não se esqueça de trazer a conta.
Garçom − Por favor, doutor! O
senhor já pagou mais de três vezes!!
Doutor Doctor − (Levanta-se
e vai saindo furioso.) É um absurdo ter que discutir com este garçom! Nunca
mais eu ponho os pés neste restaurante!!! (Sai.)
Garçom − Mas eu não entendo…
(Confuso.)
(Aproxima-se o gerente e pergunta)
Gerente −Afinal de contas, o que
foi que houve?
Senhor Monsieur − (Que continua
sentado.) Nada, não. É uma mania que o meu amigo tem de ficar pagando a conta.
Toda vez que eu saio para almoçar com ele é a mesma coisa. Quer pagar sempre.
Mas agora pra mim chega. Hoje quem paga sou eu. Garçom, a conta!
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(Do livro “O
Astronauta sem Regime”, de Jô Soares)
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