Noticiou, há dias, o Correio do Povo,
na seção Gatunos e Gatunices, que certo cavalheiro, residente em uma localidade
vizinha, e que aqui se achava a passeio, privava em um hotel da rua 24 de Maio*,
com a meretriz Olga de tal, moradora à rua Arlindo, no Menino Deus, quando
esta, aproveitando-se de um momento de descuido do forasteiro, varejou-lhe os
bolsos do casaco e subtraiu de um deles uma carteira que continha 200$000 réis,
batendo, em seguida, a linda plumagem.
Eu vou
contar-vos imediatamente, ponto por ponto a história desta farra...
Dispenso o
choro do violão plangente e o brejeiro estribilho da guitarra.
Olga, a formosa, ardente criatura,
abandonada, repelida flor,
tinha, na sua vida ingrata e escura,
mais sede de dinheiro que de amor...
tinha, na sua vida ingrata e escura,
mais sede de dinheiro que de amor...
E o cavalheiro ingênuo da comédia,
como qualquer ingênuo cavalheiro
de vida prática e de pança nédia,
como qualquer ingênuo cavalheiro
de vida prática e de pança nédia,
mais que ao amor, amava o seu dinheiro.
E vai palavra, então, puxa palavra:
“você paga... não paga ... seu nariz...”
E entre os dois um incêndio imenso lavra
e lavra muito mais que se não diz...
De Olga as faces se tornaram melancólicas
por ver quanto é mesquinho e mau seu fado,
e o cavalheiro em aflitivas cólicas,
corre em ceroulas para o reservado...
corre em ceroulas para o reservado...
Resplendem de Olga as faces melancólicas...
Ela bate a carteira e foge, então...
Leitores, aprendei nesta lição:
quem ama nunca deve sentir cólicas.
Diávolo
Da seção Pós de Mico,
Correio do Povo, 5/6/1912.
*A Rua 24 de Maio, que na origem
se chamava Beco da Fonte, no fim do Centro de Porto Alegre, divisa com a Cidade
Baixa para quem desce “por aqui”, começa na rua Formosa, que os políticos larápios,
bandidos e ignorantes (redundância, né?, bastaria dizer políticos), mudaram o
nome para rua Duque de Caxias (sobrinho da Rua da Olaria, que virou outro Lima
e Silva), inicia com um lançante de famosas escadarias. Mal afamadas desde
antanho, muito ruim a descida, um tropeço e adiós, e pelos muitos crimes ali
cometidos, na escuridão, com os desavisados que a descessem tarde da noite.
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