sábado, 14 de maio de 2022

Deus existe?

 Paulo Germano

Escrevi esses tempos que a verdade é a verdade e acabou. Quer dizer: não existe isso de “cada um tem a sua verdade”. Cada um pode ter sua opinião sobre uma verdade, claro, mas a verdade em si, por definição, é indiscutível – porque ela é justamente o que não pode ser posto em dúvida. Ela é o retrato inquestionável dos fatos, ela é inegociável, ela é absoluta. Ela é a verdade. 

Por exemplo: Paulo Germano é jornalista. Isso é uma verdade, não há como discutir, eu realmente me formei em jornalismo e exerço a profissão. Agora, se sou bom ou mau jornalista, aí é uma avaliação de cada um. 

Dito isso, bem, existem casos em que a verdade ainda não apareceu. Nem a ciência, nem a polícia, nem o jornalismo, nem qualquer estudo, auditoria ou investigação foram capazes até hoje de revelar a verdade sobre determinados temas. Deus é um bom exemplo. Qual é a verdade sobre Ele? Um dia, quando entrevistei para Zero Hora o padre Fábio de Melo, perguntei-lhe exatamente isso: 

− Como o senhor tem certeza de que Deus existe? 

E ele respondeu que, “se tivesse certeza, não precisaria ter fé”. 

− A experiência da fé nos dispensa das certezas − sorriu o padre. − Fé é confiança, não é certeza. É o que você pode experimentar, por exemplo, como filho. Você tem certeza do amor da sua mãe? 

− Claro que tenho − respondi depressa. 

− E você tem provas científicas desse amor por você? 

− Não... 

− Mas você confia. Você acredita. E basta. 

Achei perfeito. Por isso as pessoas dizem “eu acredito em Deus”. Porque acreditam que esta seja a verdade. Se houvesse plena convicção sobre a verdade, não faria sentido “acreditar” nela. Uma pessoa só acredita naquilo que julga provável, aceitável, possível, mas a verdade NÃO é isso. A verdade é irrefutável. A verdade é. 

Talvez por isso, por considerar falaciosa a conversa de “cada um tem a sua verdade”, uma das grandes inquietudes da minha vida se refira justamente a essa pergunta: Deus existe? 

− Não há nenhuma evidência concreta disso – ouço dos ateus e até concordo, mas logo vem o adendo: – Quem acredita nele é que precisa provar. 

Mas desde quando quem sente algo precisa provar qualquer coisa? Se uma pessoa de fato sente a existência de Deus – como sinto o amor da minha mãe –, quem sou eu para contestá-la? Ora, vai ver Ele existe. Só que alguns fiéis desaforados, tentando impor sua fé como verdade, preferem desdenhar: 

− Você aceitará Deus quando realmente precisar dele. 

Olha, já precisei Dele uma meia dúzia de vezes e não creio que um momento de extrema dor ou desespero seja o mais indicado para avaliações sensatas. Nem o mais indicado para encontrar a verdade. 

E o fato é que essa verdade a humanidade não vai descobrir. O máximo a que podemos chegar é “acreditar” na existência de Deus − ou não acreditar também. Paciência. Talvez o que importe, mesmo, seja o que o padre Fábio de Melo me disse ao final daquela entrevista: 

− Conheço muitos ateus que agem como se tivessem Deus no coração. No fim, é isso o que Ele quer. 

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(Do jornal Zero Hora, maio de 2022)

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