Outro dia, eu estava no Mercado Público quando vi, no final de um corredor, um amigo da época da escola que eu não encontrava há séculos. Feliz com o reencontro, aproximei-me, já falando alto:
- Oswaldo, sua bichona! Quanto tempo!
E fui com a mão estendida para cumprimentá-lo. Percebi que Oswaldo me reconheceu, mas, antes mesmo que eu pudesse chegar perto dele, só vi o meu braço sendo algemado.
- Você vai pra delegacia! – disse o PM que costuma frequentar o mercado.
Sem entender nada, perguntei:
- Mas o que foi que eu fiz?
- Homofobia! Bichona é pejorativo, o correto seria chamá-lo de “homossexual”.
Nessa hora, antes mesmo de eu me defender, Oswaldo interferiu tentando argumentar:
- Que é isso, meu amigo, o “quatro-olhos” aí é meu amigo antigo do tempo de escola, a gente se trata assim, na camaradagem mesmo!
- Ah, então você estudou vários anos com ele. e sempre se trataram assim?
- Isso, autoridade, é coisa de criança!
E nessa hora, o policial já colocou a outra ponta da algema no Oswaldo:
- Então, você está detido também!
Aí, foi minha vez de intervir:
- Mas, meu Deus! O que foi que ele fez?
- Bullying! Chamando-o de “quatro-olhos” por vários anos durante o tempo de escola.
Oswaldo, então, se desesperou:
− Que é isso, seu policial! A gente é amigo de infância! Tem amigo que eu não perdi o contato até hoje. Vim aqui comprar umas carnes para churrasco com outro camarada que pode confirmar tudo!
E nessa hora, eu vi Jairzinho “Pé-de-pato” chegando perto da gente com dois quilos de alcatra na mão. Eu, já vendo o circo armado, nem mencionei o “Pé-de-pato” pra não piorar as coisas, mas ele, sem entender nada, ao ver Oswaldo algemado, já chegou falando:
- Que porra é essa, negão! O que tu aprontou aí?
Aí, então, não teve jeito, fomos os três parar na delegacia, e hoje estamos respondendo processo por homofobia, bullying e racismo.
Moral da história:
Nos dias de hoje, é muito perigoso reencontrar velhos amigos!
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