Bendito
seja o nosso fígado de cada dia,
Venha a nós um copo cheio,
Nunca
apenas pelo meio.
Seja feita a nossa cachaçada,
Assim
tanto no boteco como na calçada.
O mé nosso de cada dia nos dai hoje,
Amanhã
e sempre.
Perdoai as nossas bebedeiras,
Assim como nós perdoamos
A quem não tenha bebido.
Não nos deixai cair no refrigerante
E livrai-nos da água com gás,
Barmem!
Miguel M. Abrahão, na obra “O Ônibus” de 1978
O texto “Oração do Bebum” é, explicitamente, um pastiche do texto “Oração do Pai Nosso”. O autor Miguel Abrahão não tem a intenção de ironizar ou criticar o texto religioso no qual se espelha. Miguel utiliza do bom humor e da compreensão do interlocutor para que seu texto não pareça mal intencionado.
Reza do bebum
Pânico
Santa
Cana que estais na roça.
Purificada
seja o vosso nome.
Venha
a nós o vosso liquido,
Aguardente
sem mistura,
Pra
ser bebida a nossa vontade,
Assim no boteco como em qualquer lugar.
Cinco
litros por cada dia nos dai hoje,
Perdoai
os dias que bebemos menos,
Assim
como nós perdoamos o mal que ela nos faz.
Livrar-nos
de ficar atordoado e da rádio-patrulha,
Amém!
Pode
beber que não faz mal pra ninguém.
Aí
você bebe mais um copo, aí reza o credo:
Creio
na subutilidade do gole,
Todo
o produto, o da cana e o da caninha.
Creio
na aguardente que é o nosso alimento
Qual
foi concebida pelo aperto da moenda,
Que
foi derramada no cocho ao terceiro dia,
Ressurgiu
da garrafa,
Subiu
ao céu da boca
Dos cachaceiros paus-d´água.
Tome
outra, mas bem arroiado,
Onde
devia alegrar os grande e os pequenos:
Creio
no espírito de 40 graus,
Nas
santas safras do mel,
Na
comunicação dos impostos,
Na
remição sem pena,
E
na ressaca de todos nós,
Amém!
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