quinta-feira, 26 de maio de 2022

Homeschooling:

 mais um delírio bolsonarista 

Por Jéferson Tenório 

Dias atrás, a Câmara dos deputados aprovou o texto-base do projeto de lei que regulamenta a prática do ensino domiciliar (homeschooling). O projeto altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) para admitir o ensino domiciliar na Educação Básica (pré-escola, Ensino Fundamental e Médio). A educação domiciliar é uma das prioridades do presidente Jair Bolsonaro. Na verdade, o texto tende a ser mais um ataque aos docentes do que necessariamente uma proposta para a educação brasileira. 

O argumento para a implantação do ensino domiciliar tem a ver com a ideologia bolsonarista de que é preciso “proteger” os filhos de professores doutrinadores, protegê-los das pautas esquerdistas. Querem proteger os filhos de discussão sobre gênero, sobre educação sexual, sobre racismo, sobre feminismo, sobre igualdade e todas as pautas que fazem parte de uma sociedade que precisa mudar a mentalidade para ser mais justa e menos excludente. 

Num ponto, os bolsonaristas têm razão: professores são doutrinadores. É claro que os professores querem influenciar seus alunos. Não há obviedade maior. Eu mesmo fui um desses. Levei para a sala de aula do Ensino Médio textos e discussões que me pareciam pertinentes: de Michel Foucault a Judith Butler e Angela Davis. Discutíamos assuntos polêmicos e difíceis. E não vejo nada de errado nisso, muito pelo contrário. A doutrina, segundo o dicionário, “é um conjunto coerente de ideias fundamentais a serem transmitidas, ensinadas” ou “conjunto das ideias básicas contidas num sistema filosófico, político, religioso, econômico”. Nessa concepção, os professores são aqueles que trabalham com determinados saberes e conceitos básicos a serem ensinados, debatidos e avaliados. 

A visão equivocada do governo Bolsonaro sobre o ensino vai além do conservadorismo, passa por um profundo desconhecimento do que significa aprendizado. Desconsidera a importância do processo de sociabilidade no ambiente escolar. Quem defende o estudo domiciliar não faz ideia do que significa dedicar-se integralmente à educação dos filhos. 

Se de fato os professores fossem doutrinadores poderosos, influenciadores natos, certamente teríamos um país melhor, com menos preconceito, com pessoas exercendo o bom senso e a gentileza. Se os professores fossem tão eficientes em suas doutrinas ideológicas como dizem os bolsonaristas, o Brasil não teria um governo fascista. Ainda assim, um viva aos professores doutrinadores. Não parem. 

(Do jornal Zero Hora, maio de 2022)



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