sexta-feira, 2 de maio de 2014

Orações para o coração

Oportunidade

Walter Malone


(1866-1915)

Ofende-me os que dizem que não voltarei.
Porque bati à tua porta e não te encontrei;
Porque todas as noites permaneço à tua porta,
E ordeno que despertes e te ergas para lutar e vencer.
Não chores pelas preciosas chances que passaram;
Não chores pela idade de ouro que se foi;
Todas as noites queimo o registro do dia;
Ao erguer do sol todas as almas nascem de novo.
Ri como um menino aos esplendores que passaram.
Às alegrias que se esvaíram sê surdo e mudo.
O meu julgamento sela o passado que morreu,
Mas nunca prende um momento ainda por vir.
Mesmo afundado na lama, não torças as mãos nem chores.
Dou o meu braço a todos que dizem: “Eu posso!”
Nenhum pária algum dia caiu tão baixo
Que não pudesse erguer-se e ser um homem novamente!
Lastimas a mocidade perdida?
Hesitas em desfechar um golpe merecido?
Volta-te então dos arquivos pegados do passado,
E encontrarás as brancas páginas do futuro.
Choras uma pessoa amada?
Liberta-te da magia;
És um pecador?
O pecado tem perdão;
Cada manhã te dá asas com que voar do inferno,
Cada noite uma estrela para te guiar aos céus.

Oração ao otimismo

Para cada existência pela morte ceifada, outros nascimentos são à vida lançados.
Para cada velhice inevitada, várias infâncias prometedoras estão lançadas.
Para cada despedida lacrimosa, uma centena de encontros langorosos.
Para cada doença desenganada, as curas são cada vez mais prodigiosas.
Para cada soluço de desânimo, mil gestos de entusiasmo extravasados.
Para cada paixão desesperada, esplêndidos pactos de amor serenizados.
Para cada fracasso amedrontado, um punhado de triunfos consagrados.
Para cada desistência estremunhada, tantos impulsos de ração encorajada.
Para cada ajuda sonegada, uma vintena de amparos desinteressados.
Para cada recusa glacial, uma cascata de esmolas incessadas.
Para cada frustração inesperada, empilham-se êxitos merecidos.
Para cada desaforo encarado, caudais de palavras consoladoras.
Para cada brutalizada desventura, um cento de bálsamos de candura.
E para cada um esgar de amargor, catadupas de promessas de amor.


 Paulo Santana

(1939-2017)


Nenhum comentário:

Postar um comentário