Quatro momentos
paródicos do humor brasileiro
(A séria)
Via-Láctea
Xlll
“Ora (direis) ouvir estrela!
Certo
Perdeste o senso!”E eu vos direi,
no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez
desperto
E abro as janelas, pálido de
espanto...
E conversamos toda a noite,
enquanto
A via-láctea, como um pálio
aberto,
Cintila. E, ao vir do sol,
saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: “Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que
sentido
Tem o que dizem, quando estão
contigo?”
E eu vos direi: “Amai para
entendê-las!
Pois só quem ama pode ser ouvido
Capaz de ouvir e de entender
estrelas.”
(Olavo Bilac, 1903)
**********
(As sátiras)
Chee scuitá strella, né meia
strella!
Vucê stá maluco! E io diró
intanto,
Chi pra scuitalas moltas veis
livanto,
I vô dá uma spiada na gianella.
I passo as notte acunversáno
c’oella,
Inguanto Che as outra lá d’um
canto
Sto mi spiano. I o sol come um
briblianto
Nasce. Oglio p’ru céu: - Cadê
strella?
Direis intó: – Ó migno inlustre
amigo!
O chi é chi as strellas ti dizia
Quano illas viéro acunversá
contigo?
Io ti diró: – Studi p’ra
intendela,
Pois só chi giá studô Astrolomia,
É capaiz de intendê estas
strella.
(Juó Bananére, 1924)
**********
Ora! – direis – ouvir panelas!
certo
ficaste louco... E eu vos direi,
no entanto,
que muitas vezes paro,
boquiaberto,
para escutá-las pálido de espanto.
Direis agora: – Mas meu louco
amigo,
Que poderão dizer umas panelas?
O que é que dizem quando estão
contigo
E que sentido têm frases delas?
E direi mais: –- Isso quanto ao
sentido,
Só quem tem fome pode ter ouvido
Capaz de ouvir e entender
panelas.
(Aparício Torelly, o
Barão de Itararé, 1926)
**********
Ora direis, ouvir estrelas! Vejo
que estás beirando a maluquice
extrema.
No entanto o certo é que não
perco o ensejo
de ouvi-las nos programas de
cinema.
Não perco fita; e dir-vos-ei sem
pejo
Que mais eu gozo se escabroso é o
tema.
Uma boca de estrela dando um
beijo,
É, meu amigo, assunto para um
poema.
Direis agora: – Mas enfim, meu
caro,
As estrelas que dizem? Que sentido
Têm suas frases de sabor tão
raro?
– Amigo, aprende inglês para
entendê-las,
Pois só sabendo inglês se tem
ouvido
Capaz de ouvir e de entender
estralas.
(Bastos Tigre, 1927)
**********
– Ora, dirâis, ubire estelas...
Passo!
Num póde sêre! E eu bus dirâi: –
Aflito
para ubí-las, acordo, olho p’ru
ispaço,
tiro a cêra d’ubido com um
palito.
i cumbirsamos, digo-lhe e rupito,
até que rompa a uróra. Aí, que eu
faço?
Bou miter-me na cama, quensadito,
com uma dôre infadonha nu
queichaço.
Dirâis, agora: – Isso é tapiação!
Cumo é podes tal combersa têre
cu’as istrillitas que tão longe
estão?
E eu bus dirâi: – Amai uma
quechópa
váim nutrida, suca e hábeis de
bêre
i ubire istelas de pagóde! É
sôpa!
(Fernandes Albaralhão
– pseudônimo de Horácio Campos, 1927)
Nenhum comentário:
Postar um comentário