quinta-feira, 8 de maio de 2014

Humor em paródias


Quatro momentos paródicos do humor brasileiro

(A séria)

Via-Láctea

Xlll

“Ora (direis) ouvir estrela! Certo
Perdeste o senso!”E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: “Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?”

E eu vos direi: “Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ser ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas.”

(Olavo Bilac, 1903)

**********

(As sátiras)

Chee scuitá strella, né meia strella!
Vucê stá maluco! E io diró intanto,
Chi pra scuitalas moltas veis livanto,
I vô dá uma spiada na gianella.

I passo as notte acunversáno c’oella,
Inguanto Che as outra lá d’um canto
Sto mi spiano. I o sol come um briblianto
Nasce. Oglio p’ru céu: - Cadê strella?

Direis intó: – Ó migno inlustre amigo!
O chi é chi as strellas ti dizia
Quano illas viéro acunversá contigo?

Io ti diró: – Studi p’ra intendela,
Pois só chi giá studô Astrolomia,
É capaiz de intendê estas strella.

(Juó Bananére, 1924)

**********

Ora! – direis – ouvir panelas! certo
ficaste louco... E eu vos direi, no entanto,
que muitas vezes paro, boquiaberto,
para escutá-las pálido de espanto.

Direis agora: – Mas meu louco amigo,
Que poderão dizer umas panelas?
O que é que dizem quando estão contigo
E que sentido têm frases delas?

E direi mais: –- Isso quanto ao sentido,
Só quem tem fome pode ter ouvido
Capaz de ouvir e entender panelas.

(Aparício Torelly, o Barão de Itararé, 1926)

**********

Ora direis, ouvir estrelas! Vejo
que estás beirando a maluquice extrema.
No entanto o certo é que não perco o ensejo
de ouvi-las nos programas de cinema.

Não perco fita; e dir-vos-ei sem pejo
Que mais eu gozo se escabroso é o tema.
Uma boca de estrela dando um beijo,
É, meu amigo, assunto para um poema.

Direis agora: – Mas enfim, meu caro,
As estrelas que dizem? Que sentido
Têm suas frases de sabor tão raro?

– Amigo, aprende inglês para entendê-las,
Pois só sabendo inglês se tem ouvido
Capaz de ouvir e de entender estralas.

(Bastos Tigre, 1927)

**********

– Ora, dirâis, ubire estelas... Passo!
Num póde sêre! E eu bus dirâi: – Aflito
para ubí-las, acordo, olho p’ru ispaço,
tiro a cêra d’ubido com um palito.

i cumbirsamos, digo-lhe e rupito,
até que rompa a uróra. Aí, que eu faço?
Bou miter-me na cama, quensadito,
com uma dôre infadonha nu queichaço.

Dirâis, agora: – Isso é tapiação!
Cumo é podes tal combersa têre
cu’as istrillitas que tão longe estão?

E eu bus dirâi: – Amai uma quechópa
váim nutrida, suca e hábeis de bêre
i ubire istelas de pagóde! É sôpa!

(Fernandes Albaralhão – pseudônimo de Horácio Campos, 1927)

Nenhum comentário:

Postar um comentário