O Grilo Professor
Lá em tempos muito remotos, num dia dos
mais quentes do inverno, o Diretor da Escola entrou de surpresa na classe em
que o Grilo dava aos Grilinhos sua aula sobre a arte de cantar, precisamente no
momento da exposição em que explicava que a voz do Grilo era a melhore a mais
bela entre todas as vozes, pois se produzia mediante o adequado esfregar das
asas contra as costas, enquanto os pássaros cantavam tão mal porque teimavam em
fazê-lo com a garganta; evidentemente o órgão do corpo humano menos indicado
para emitir sons doces e harmoniosos.
Ao escutar aquilo, o Diretor, que era
um Grilo muito velho e sábio, concordou várias vezes coma cabeça e se retirou,
satisfeito de que na Escola tudo continuava como nos seus tempos.
(Do Livro “A Ovelha
Negra e outras Fábulas”, de Augusto Monterroso)
O grande sábio e o imenso tolo
Por um acaso do destino, um velho e
sábio professor e um jovem e estulto aluno se encontraram dividindo bancos gêmeos
num ônibus interestadual. O estulto aluno, já conhecido do sábio professor
exatamente por sua estultície, logo cansou o mestre com seu matraquear
ininterrupto e sem sentido. O professor aguentou o quando pôde a conversa
insossa e descabida. Afinal, cansado, arranjou, na sua cachola sábia, uma
maneira de desativar o papo inútil do aluno. Sugeriu:
‒ Vamos fazer um jogo que sempre
proponho nestas minhas viagens. Faz o tempo passar bem mais depressa. Você me
faz uma pergunta qualquer. Se eu não souber responder, perco cem pratas. Depois
eu lhe faço uma pergunta. Se você não souber responder, perde cem.
‒ Ah, mas isso é injusto! Não posso
jogar esse jogo – disse o aluno, provando que não era tão tolo quanto
aparentava ‒, eu vou perder muito dinheiro! O senhor sabe infinitamente mais do
que eu. Só posso jogar com a seguinte combinação: quando eu acertar, ganho cem
pratas. Quando o senhor acertar, ganha só vinte.
‒ Está bem –
concordou o professor – pode começar.
‒ Me diz, professor – perguntou o
aluno, o que é que tem cabeça de cavalo, seis patas de elefante e rabo de pau?
O professor, sem sequer pensar,
respondeu:
‒ Não sei; nem posso saber! Isso não existe.
‒ O senhor não disse se devia existir
ou não. O fato é que o senhor não sabe o que é – argumentou o aluno – e,
portanto, me deve cem pratas.
‒ Tá bem, eu pago as cem pratas –
concordou o professor pagando ‒, mas agora é minha vez. Me diz aí: o que é que
tem cabeça de cavalo, seis patas de elefante e rabo de pau?
‒ Não sei –
respondeu o aluno. E, sem maior discussão, pagou vinte pratas ao professor.
Moral: A sabedoria,
nos dias de hoje, está valendo 20% da esperteza.
(Do livro “Fábulas
Fabulosas”, de Millôr Fernandes)
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