O que a gente procura muito e
sempre não é isto nem aquilo. É outra coisa.
Se me perguntam que coisa é essa,
não respondo, porque não é da conta de ninguém o que estou procurando.
Mesmo que quisesse responder, eu
não podia. Não sei o que procuro. Deve ser por isso mesmo que procuro.
Me chamam de bobo porque vivo
olhando aqui e ali, nos ninhos, nos caramujos, nas panelas, nas folhas de
bananeira, nas gretas do muro, nos espaços vazios.
Até agora não encontrei nada. Ou,
encontrei coisas que não eram a coisa procurada sem saber, e desejada.
Meu irmão diz que não tenho mesmo jeito, porque não sinto o prazer dos outros na água do açude, na comida, na manja, e procuro inventar um prazer que ninguém sentiu ainda.
Ele tem experiência de mato e de
cidade, sabe explorar os mundos, as horas. Eu tropeço no possível, e não
desisto de fazer a descoberta do que tem dentro da casca do impossível.
Um dia descubro. Vai ser fácil,
existente, de pegar na mão e sentir. Não sei o que é. Não imagino forma, cor,
tamanho. Nesse dia vou rir de todos.
Ou não. A coisa que me espera,
não poderei mostrar a ninguém.
Há de ser invisível para todo
mundo, menos para mim, que de tanto procurar fiquei com merecimento de achar e
direito de esconder.
Carlos Drummond de
Andrade
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