Em 1909, a política brasileira
era dominada pelo senador Pinheiro Machado. Ele morava em uma casa no alto do
Cosme Velho
e cultivava os hábitos de gaúcho, tomando seu chimarrão matinal, cuja água era
aquecida em uma chaleira de prata. A casa de Pinheiro Machado vivia cheia de
aduladores que disputavam a honra de pegar a chaleira para lhe reabastecer a
cuia quando o mate se esgotava. Em uma dessas ocasiões, um mais afoito, em vez
da alça, pegou no bico da chaleira, queimando os dedos. Daí nasceu a expressão
“pegar no bico da chaleira” para troçar dos aduladores, que se refletiu em “No
bico da chaleira”, grande sucesso do Carnaval de 1909. A letra dizia assim:
No bico da chaleira
Autor: Juca Storoni -
Gênero: polca
Iaiá me deixa
Subir essa ladeira,
Que eu sou do grupo
Que eu sou do grupo
Do pega na chaleira.
(bis)
Quem vem de lá,
Bela Iaiá,
Ó abre alas
Que eu quero passar.
Sou Democrata,
Águia de Prata,
Vem cá, mulata,
Que me faz chorar.
A polca fez tanto sucesso no carnaval
de 1909 que deu motivo para a peça de teatro-revista, de Raul Pederneiras e
Ataliba Reis, intitulada “Pega na chaleira”. E mais: foram compostas
duas outras músicas sobre o mesmo tema. A primeira, mais picante e maliciosa,
de Eustórgio Wanderley, igualmente chamava-se "No bico da chaleira"
(1); a segunda, "Pega na chaleira" (2), de Eduardo das Neves, fazia
crítica genérica aos aduladores.
(1) Letra de “No bico da chaleira”,
de Eustórgio Wanderley. “Menina eu quero só por brincadeira / Pegar no bico da
sua chaleira / Ela está quente e se você segura / Fica com uma grande
queimadura. / É moda agora e eu justifico / (Com que eu implico) / Pegar no
bico de uma chaleira / Muita senhora nos engrossando / Leva pegando a vida
inteira. / Se você vai apertar-me no bico / Não imagina como eu logo fico /
Não, eu seguro assim desta maneira / Lá no biquinho da sua chaleira. /Agora é
moda / Com o que eu implico / Pegar no bico / De uma chaleira / Moço da roda /
É gente fina / Tem esta sina / A vida inteira / Ai, se eu consigo pegar de bom
jeito / Você vai ver como eu pego direito / Sem ser no bico / Quer pegar na
asa? / Talvez consinta, passa lá em casa. / Vamos depressa tomar um chazinho /
Enquanto esquenta mais que um tempinho / Ela também está como eu fico / Quando
um chazinho toma-se no bico”.
(2) Letra de “Pega na chaleira”, de
Eduardo das Neves: “Neste século de progresso / Nesta terra interesseira / Tem
feito grande sucesso / O tal “pega na chaleira”.
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