domingo, 11 de setembro de 2016

No bico da chaleira



Em 1909, a política brasileira era dominada pelo senador Pinheiro Machado. Ele morava em uma casa no alto do Cosme Velho e cultivava os hábitos de gaúcho, tomando seu chimarrão matinal, cuja água era aquecida em uma chaleira de prata. A casa de Pinheiro Machado vivia cheia de aduladores que disputavam a honra de pegar a chaleira para lhe reabastecer a cuia quando o mate se esgotava. Em uma dessas ocasiões, um mais afoito, em vez da alça, pegou no bico da chaleira, queimando os dedos. Daí nasceu a expressão “pegar no bico da chaleira” para troçar dos aduladores, que se refletiu em “No bico da chaleira”, grande sucesso do Carnaval de 1909. A letra dizia assim:

No bico da chaleira

Autor: Juca Storoni - Gênero: polca

Iaiá me deixa
Subir essa ladeira,
Que eu sou do grupo
Do pega na chaleira.

(bis)

Quem vem de lá,
Bela Iaiá,
Ó abre alas
Que eu quero passar.

Sou Democrata,
Águia de Prata,
Vem cá, mulata,
Que me faz chorar.

A polca fez tanto sucesso no carnaval de 1909 que deu motivo para a peça de teatro-revista, de Raul Pederneiras e Ataliba Reis, intitulada “Pega na chaleira”. E mais: foram compostas duas outras músicas sobre o mesmo tema. A primeira, mais picante e maliciosa, de Eustórgio Wanderley, igualmente chamava-se "No bico da chaleira" (1); a segunda, "Pega na chaleira" (2), de Eduardo das Neves, fazia crítica genérica aos aduladores.

(1) Letra de “No bico da chaleira”, de Eustórgio Wanderley. “Menina eu quero só por brincadeira / Pegar no bico da sua chaleira / Ela está quente e se você segura / Fica com uma grande queimadura. / É moda agora e eu justifico / (Com que eu implico) / Pegar no bico de uma chaleira / Muita senhora nos engrossando / Leva pegando a vida inteira. / Se você vai apertar-me no bico / Não imagina como eu logo fico / Não, eu seguro assim desta maneira / Lá no biquinho da sua chaleira. /Agora é moda / Com o que eu implico / Pegar no bico / De uma chaleira / Moço da roda / É gente fina / Tem esta sina / A vida inteira / Ai, se eu consigo pegar de bom jeito / Você vai ver como eu pego direito / Sem ser no bico / Quer pegar na asa? / Talvez consinta, passa lá em casa. / Vamos depressa tomar um chazinho / Enquanto esquenta mais que um tempinho / Ela também está como eu fico / Quando um chazinho toma-se no bico”.

(2) Letra de “Pega na chaleira”, de Eduardo das Neves: “Neste século de progresso / Nesta terra interesseira / Tem feito grande sucesso / O tal “pega na chaleira”. 


Nenhum comentário:

Postar um comentário