Um General Paraquedista
Djalma Dias Ribeiro,
Paraquedista nº. 2245 do Turno de 1955/1
Gen Djalma brevetando
um Pqdt americano
O Marechal Lott, Ministro da Guerra,
designa como Comandante do Núcleo Divisão Aeroterrestre, um general pé-preto.
Submetido ao exame médico é reprovado pela Junta de Saúde Paraquedista do Núcleo
da Divisão Aeroterrestre. No dia seguinte, pela manhã, como de costume, nós,
Pqdts, ao levantarmos, no quartel ou em nossas casas, a primeira providência
era ligar a Rádio Relógio que existia na cidade do Rio de Janeiro. E o que
ouvimos? Pasmem: “Você sabia?” General Djalma Dias Ribeiro, comandante dos paraquedistas,
foi reprovado no exame médico; não pôde ser paraquedista! E plim! Hora certa; cinco
horas e vinte minutos. Mais alguns anúncios e lá vem o minuto seguinte e, novo
plim, e, você sabia? General Djalma Dias Ribeiro, comandante dos paraquedistas,
foi reprovado no exame médico; não pode ser paraquedista! Plim! Isto quase que
de minuto a minuto.
Companheiros, pensem bem: um general
fardado e zangado, às seis horas da manhã, no quartel, bufando mais que um
touro, à cata do “toureiro” que colocara o anúncio na rádio. Não foi difícil
para ele localizar o autor do anúncio. Era o doutor João Pires Teixeira, Pqdt
nº 50, (1949) que, ao chegar ao quartel, recebera ordem para sumir do Núcleo da
Divisão Aeroterrestre... O general Djalma recorre à Junta Superior de Saúde, é
considerado apto, realiza o curso de paraquedista, é brevetado, e, para mim,
dos comandantes que conheci, era o melhor para sair de um avião em voo, A
Revista Paraquedista de nº. 1, em sua capa, tem o General saindo do avião,
atestando esta verdade.
Corria o ano de 1956, o quartel do 2º
RI, Vila Militar era o local do Quartel General dos Paraquedistas, onde
ocupávamos algumas das dependências dos nossos queridos irmãos pés-pretos, sem
quaisquer ressentimentos recíprocos, brincadeiras de mau gosto. Ali
permanecemos até serem concluídas as instalações do Quartel General da atual Brigada
de Infantaria Paraquedista, Regimento Santos Dumont e outras dependências para
a tropa paraquedista, sob o Comando do Gen Djalma, quando Ministro General Lott
implantou uma substancial reforma no Exército. Foi o período que realmente a
tropa paraquedista ficou mais guerreira e melhor armada. O período que
antecedeu foi do General Penha Brasil, consolidador do paraquedismo militar no
Brasil. Além de ocuparmos as instalações do 2º RI, tínhamos o privilégio de,
nas nossas formaturas de brevetações de paraquedistas, usarmos a sua Banda de
Música. Foi de lá que saiu voluntário ao paraquedismo nosso primeiro Mestre da
Banda Pqdt.
Subtenente Nogueira, Pqdt nº 108,
creio que, no final de 1961, quando, em conversas, relembrávamos nosso passado
de convivência fraterna no famoso Dois de Ouro de muitos e valiosos serviços
prestados à Pátria, disse-me assim: Prec Ly Adorno, o paraquedismo não pode
ficar sem uma Banda de Música, vou convidar o Mestre da Banda do 2º RI para SER
PÁRA-QUEDISTA! E lá foi o Prec Nogueira se encontrar com o Mestre. Em lá
chegando, entrou de sola dizendo: “Mestre Prado, você tem o perfil de um paraquedista,
vem para a nossa tropa, precisamos formar a nossa Banda paraquedista”.
Foi assim que, em 1962, o Subtenente
Prado concluiu a instrução básica de paraquedista, brevetou-se e recebeu, na
irmandade dos irmãos dos condores, seu número 9816 que o distingue como um
valente e audaz paraquedista em qualquer situação!
Voltando ao Gen Djalma, num desses
dias que o mar não estava pra peixe, naqueles anos de Aragarceiros,
Jacareacangueiros e outros eiros, nos quartéis só dava prontidões de semanas,
umas após outras. O Gen Djalma entra no quartel, chama o Oficial de Dia e lhe
transmite uma série de ordens; sendo que uma delas era a de que: ninguém podia
sair do quartel. Tenente Pernasseti, naquela sua calma tão peculiar aos
“canhoneiros de peças aladas”; precursor que ao invés de se ajustar à porta,
era esta que se ajustava a ele na hora de lançar a equipe Prec, chama seu
Adjunto e passa a seguinte ordem: “Sargento Nogueira, ninguém sai do quartel
sem minha ordem! Transmita pessoalmente ao Comandante da Guarda e todos os seus
comandados.” Nogueira, quando Adjunto, era daqueles que, após a parada e todos
se apresentarem ao Oficial de Dia e se dispersavam, saía em direção às suas
subunidades e, de repente, ouviam seu grito: “Sargentos, por que não se
apresentaram ao Sargento Adjunto como determina o regulamento?”
Nogueira
recebe do Comandante da Guarda a apresentação da guarda em forma e diz:
- Ordem do Oficial de Dia.
Ninguém sai do quartel sem a permissão do Oficial de Dia! Entendido!
Todos
responderam: Entendido!
A confusão política nesse dia era de
muito tumulto: viaturas cruzando a Avenida Duque de Caxias, Campo dos Afonsos,
aviões roncando os motores, rádio com notícias alarmantes e muito burburinho...
Lá vem, em direção ao corpo da guarda, no seu Buick preto, querendo sair do
quartel, nosso General Comandante. A sentinela paraquedista, decidida, de arma
cruzada, assoma à frente do carro do General; o motorista pisa no freio,
General Djalma bravo com o solavanco, salta do carro e grita:
- Soldado,
eu sou o General Comandante você não me está reconhecendo?
- Estou,
meu General, mas é ordem do Oficial de Dia que ninguém pode sair do quartel!
- Quem
lhe deu esta ordem?
- Foi
o Sargento Ajudante! Comandante da Guarda.
- Cadê
o Adjunto?
- Estou
aqui, meu General!
- Quem
lhe transmitiu essa ordem?
- Foi
o Senhor Oficial de Dia!
- Então vá chamar o Oficial
de Dia e diga que o General quer sair do quartel em que ele é o comandante!
Não precisa dizer mais nada que o
Tenente Pernasseti, lentamente, vem se aproximando e ouve do General:
- Tenente,
autorize ao soldado a saída do seu comandante!
- Sentinela,
o General Comandante pode sair!
A sentinela dá um passo atrás, perfila-se
e apresenta arma ao seu comandante. Bufando, o General entra no carro, grita
para seu motorista:
- Vamos
que estou com pressa!
O carro arranca e, incontinente,
freia bruscamente no meio da Avenida Duque de Caxias, o General desce do carro,
parado no meio da avenida, interrompe todo o tráfico de veículos, apontando
para o Corpo da guarda na direção da sentinela, aos urros, gritava:
- Aqui
tem soldado, não pode sair não sai, nem mesmo o seu comandante!
E repetiu uma porção de vezes, entrou
no carro e disparou para falar com o Ministro da Guerra, General Lott.
*****
Se quiserem saber mais sobre o
General Djalma, é só ler no livro “Ser Pára-quedista”,* página 151, edição de
1995.
Ly Adorno de Carvalho
− Pqdt nº 503 do Turno 1951/3
MS 197, Prec 16, FE
15 e CAC 14.**
* Pára-quedista,
grafia antiga; a gora a correta é paraquedista.
**Pqdt = Paraquedista, MS = Mestre de Salto, Prec =
Precursor, FE = Forças Especiais e CAC = Comandos.
Olá meu amigo, sou o escritor José Wilson Aguiar, de Rio Branco, Acre. Faço pesquisas sobre o general Djalma. Voce tem dados biográficos dele? Meu email wjosewilsonaguiar@gmail.com. Darei créditos no livro que escrevo sobre ele. Um abraço TFA.
ResponderExcluirA história contada neste almanaque sobre o General Djalma foi-me narrada pelo Cap Ly Adorno de Carvalho, já falecido. Creio que deverias entrar em contacto com o Cap Domingos Gonçalves, no QG da Brigada de Infantaria Paraquedista que possui, em seus arquivos, dados militares do general. Lamento não poder ajudar mais. Sucesso na tua pesquisa!
ExcluirNilo da Silva Moraes, de Porto Alegre, RS.