Ah, o romantismo!
Será que ainda se encontra alguém romântico por aí?
Será que ainda se encontra alguém romântico por aí?
Após um dia de pouco trabalho, no
qual permaneceu tímido a maior parte do tempo, o Sol se despedia das nuvens
beijando-lhes a face branca, que, envergonhadas, ruborizaram-se em tons de
vermelho, laranja e rosa. O manto escuro da noite já se desenrolava lá em cima
e ia sendo pregado ao firmamento, cada estrela, um botão. Enquanto um último
quinhão de luz atrasado corria para esconder-se atrás de um monte, era observado
por um par de olhos indiferentes à indiferença das pessoas ao redor. Sentada
ali naquela praça, construída no lugar mais alto da cidade, Maria era a única
espectadora daquela valsa de luzes e cores.
Naquele cenário, poderia ela própria
fazer parte do espetáculo, pois sua beleza em nada devia a das estrelas de
luzes fugidias. Era um presente da natureza aos olhos humanos. Dos pêssegos
emprestou a textura da pele e, do mel, a cor. As pérolas mais raras que se
formam em milhares de anos invejavam seus dentes alinhados em um sorriso
brilhante envolto em lábios delicados como a seda. A cor dos olhos veio da
noite sem estrelas, e o oceano lhes concedeu sua profundidade. Não se pode
dizer que caminhava, mas bailava em harmonia de formas e gestos. Mas, sentada
ali naquela praça, permanecia imóvel como uma obra-prima esperando um artista
que eternize sua glória.
Repetia esse ritual sempre que
possível e sempre que o Sol estivesse disposto a exibir-se em sua retirada como
hoje. Ao olhar na direção do poente, não pensava exatamente na beleza de tudo
aquilo. Pensava nas centenas de pessoas que por ali passavam e não notavam a
natureza pedindo atenção. Perguntava-se se existiam realmente pessoas sensíveis
como nos livros de Shakespeare ou nos filmes de amor ou ainda, quem dera, como
nos contos de fadas, princesas e príncipes. Sonhava com a vinda de um nobre
mancebo que comparasse seus olhos às estrelas como fez Romeu, que lhe trouxesse
uma sapatilha de cristal, que brandisse sua espada e a salvasse de um dragão.
Ou que ao menos compreendesse a beleza de um pôr-do-sol.
Seus pensamentos foram trazidos de
volta à terra firme ao perceber que um rapaz se aproximava. Achou que ele era
bem apessoado e sentiu uma estranha atração por ele. Ele pediu licença,
sentou-se ao lado dela e ficou um minuto olhando para o horizonte que dava as
boas vindas à nova noite e suas estrelas. “Poderá ser este?” − perguntou ela a
si mesma. O moço virou-se para ela com um olhar penetrante, ensaiando as
palavras perfeitas para a ocasião, hesitou por um momento e, finalmente, disse:
− Putz, você
é muito gata! Tem MSN?
(Autor: Lucas no blog
K-blog)
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