sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

O chimarrão como símbolo da amizade e seu linguajar poético



O chimarrão também é rico em poesia, pois ao longo da sua história, ainda hoje em algumas regiões ele é utilizado como veículo sutil da comunicação com objetivos também sentimentais.

Mate com açúcar
Mate com açúcar queimado
Mate com canela
Mate com casca de laranja
Mate com mel
Mate frio
Mate lavado
Mate enchido pelo bico da bomba
Mate muito amargo (redomão)

Mate com sal
Mate muito longo
Mate curto
Mate servido com a mão esquerda
“só amizade”
“simpatia”
“só penso em ti”.
“vem buscar-me”
“quero casar contigo”
“desprezo”
“vá tomar mate noutra casa”
“está na hora de ir embora”
“chegaste tarde já tenho novo amor”
“não apareça mais aqui”
“a erva está acabando”
“pode prosear a vontade”
“a pessoa não é bem vinda”

Um causo

Certa ocasião, no interior do Rio Grande do Sul, lá pelas bandas do interior de Palmeira das Missões, avistou-se no alto de uma coxilha um caminhante a cavalo.

Era um viajante das bandas de São Paulo, com uma mochila cheia de secos e molhados. O vivente já vinha de língua de fora, cansado uma barbaridade. Chegou à porteira da Estância do Intendente Gabriel e gritou: “Ó de casa!” O peão abriu a porteira e o viajante pediu pousada.

O capataz o mandou entrar, desencilhar o cavalo e ficar a vontade. À noite, na hora da janta, conversa vai, conversa vem, até que o patrão falou ao capataz Juvenal:

− Trate bem o homem, Juvenal, hoje à noite dê a ele canjica, leite gordo, charque, salame, queijo, tudo de bom. E amanhã bem cedo não esqueça: o mate.

O viajante grelou os olhos que nem cusco dentro de canoa e só observava os movimentos. Em alta madrugada, quando o galo cantou, o viajante paulista levantou bem devagarito, foi até o galpão, pegou o cavalo, juntou todos os trastes, botou o pé na estrada e saiu deitando o cabelo em desabalada carreira.


Aquarela de José Lutzenberger

(Do livro “A Importância Social do Chimarrão”, 
de Luiz Rotilli Teixeira)


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