Amor à pele...
− Puxe por aqui! − bradou o coronel
Cazuza ao João Barbeiro, encontrando este em namoro com a filha. Suma-se da
minha vista!
− Mas,
coronel, eu tenho boas intenções...
− Ora boas intenções! Então você
pensa que eu vou casar minha filha com um barbeiro? Puxe!
O rapaz não
era de brigas: meteu a viola no saco, e foi-se embora.
Passaram-se
tempos.
Um dia, o velho Cazuza estava sendo
barbeado, e a navalha deslizava-lhe pela altura do gogó, quando o barbeiro lhe
disse:
− O coronel
parece que não quer casar as filhas...
O velho esbugalhou os olhos,
reconhecendo o antigo pretendente repelido. E com um sorrisozinho amarelo:
− Que diabo! Também você não
aparece...
A vocação vem de berço.
A maior preocupação que assaltava a
mente do pai amantíssimo era definir o futuro de seu filho, um menino de nove
anos, do qual queria fazer um grande cidadão, orgulho da família. E, depois de estudar
vários projetos, decidiu-se por um simples e prático, que lhe permitiria
estabelecer quais eram as verdadeiras inclinações do garoto e qual poderia ser
a sua futura atividade de homem.
- Verás, -
disse à sua mulher -
tenho uma ideia excelente para saber quais são as aptidões do nosso filho. E
agora mesmo faremos a experiência, antes que venha do colégio.
E, ato contínuo, tomou as
providências que o caso requeria. Sobre a mesa da sala de jantar, pôs uma nota
de cem cruzeiros, uma garrafa de uísque e uma Bíblia.
- Agora, -
explicou à sua esposa - vamos nos esconder para ver o que faz o nosso filho
diante destes objetos, sem que ele nos veja. Sua curiosidade será atraída pelas
três coisas que deixo sobre a mesa. Fatalmente escolherá uma, e essa decisão
nos permitirá estabelecer a inclinação de nosso filho, que certamente será a
que influirá poderosamente sobre o seu futuro.
Momentos mais tarde apareceu o menino
no corredor. Aproximou-se da mesa, sem suspeitar que estava sendo vigiado.
Olhou com curiosidade para as três coisas, tomou nas mãos a nota de cem
cruzeiros, olhou-a contra a luz e tornou a deixá-la sobre a mesa. Em seguida,
segurou a Bíblia e folheou-a rapidamente, colocando-a logo depois no mesmo
lugar onde estava. A seguir, pegou a garrafa, olhou a etiqueta, desarrolhou-a e
aspirou com prazer o cheiro do uísque. Depois tapou a garrafa, meteu-a de baixo
do braço; pegou anota de cem cruzeiros e enfiou-a no bolso; segurou com a outra
mão a Bíblia e a colocou debaixo do outro braço e, assim carregando, com a
garrafa, a Bíblia e as cem pratas, abandonou a sala de jantar.
O pai olhou para a mãe com assombro,
e deixando-se cair sobre uma cadeira de braços, exclamou:
- Deus dos Céus! Estamos
fritos! O nosso filho vai ser político!...
(In, Almanaque do
Barão de Itararé, 2°
semestre de 1955)
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