Yvette Guilbert
Henri Toulouse-Lautrec
Durante dez anos Lautrec desenhou as
dançarinas de Montmartre com suas longas e graciosas pernas − tão diferentes das
suas. Mas por volta de 1894, ano em que fez trinta anos, o frescor abandonara o
Moulin Rouge, e a vida noturna em voga mudara-se para o coração de Paris. Uma
mulher alta, de cabelos vermelhos, nariz arrebitado e braços finos envoltos por
longas luvas negras, meio cantava, meio recitava suas canções obscenas nos
cafés-concertos. Yvette Guilbert, filha de uma costureira, era um imenso
sucesso, e o descendente de condes de Toulouse e viscondes de Lautrec ia vê-la
com frequência.
Talvez ele tenha se apaixonado.
Yvette não era bonita − tinha, segundo ele, o “perfil de um cisne da sarjeta”
−, mas as singularidades o atraiam. Ele projetou fazer um pôster dela e lhe
enviou o esboço − um perfeito (e portanto não lisonjeiro) retrato que os amigos
dela insistiram em que ela reprovasse. “Fica para outra vez”, escreveu-lhe ela
de modo consolador. “Mas não me faça tão espantosamente feia! Só um pouco
menos!”
Encorajado, Lautrec propôs um álbum
de litografias inteiramente dedicado a ela. Naquela primavera, acompanhado pelo
dramaturgo Maurice Donnay, ele veio almoçar na avenue de Lilliers para discutir
o assunto. Yvette estava preparada para sua baixa estatura, mas não, como
escreveu mais tarde, para a “grande cabeça de cabelos pretos... o nariz grande
o bastante para dois rostos, e uma boca que cortava a cara de bochecha a
bochecha”. Mas os olhos por trás dos óculos eram “surpreendentemente
luminosos”. Ela se preocupou com a maneira como ele sentaria na cadeira, que
não tinha apoios. No almoço, seu queixo ficou apenas vinte centímetros acima da
toalha da mesa, mas ele era tão boa companhia, que ela sucumbiu a seu charme.
Mais tarde veio a conhecer o seu lado
amargo. No decorrer da amizade dos dois, Lautrec zombava das suas inclinações
românticas; Yvette, por sua vez, o castigava bebendo excessivamente e vivendo
de esmolas num bordel. As litografias foram elogiadas por toda a parte, mas a
irritou que ele tivesse exagerado no grotesco. “Realmente”, disse ela, sem
pensar, “você tem o dom de pintar a deformidade!’’ “Mas é claro”, respondeu
ele.
Litografias da cantora Yvette Guilbert
(Do livro “Primeiros
Encontros”,
de Nancy Caldwell Sorel e Edward Sorel)
de Nancy Caldwell Sorel e Edward Sorel)
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