domingo, 3 de fevereiro de 2019

O soneto de Rubem Braga


Apaixonado, Rubem produziu seu Soneto:


(Para Tônia Carrero, caminhando pelo Leblon)

E quando nós saímos era a Lua,
era o vento caído e o mar sereno,
azul e cinza azul anoitecendo
a tarde ruiva das amendoeiras.

E respiramos, livres das ardências
do sol, que nos levara à sombra cauta,
tangidos pelo canto das cigarras
dentro e fora de nós exasperadas.

Andamos em silêncio pela praia.
Nos corpos leves e levados ia
o sentimento do prazer cumprido.

Se mágoa me ficou na despedida,
não fez mal que ficasse, nem doesse:
era bem doce, perto das antigas.

Nas ruas de Paris, em 1947, com o marido, o cenógrafo Carlos Thiré, a professora de educação física Maria Antonieta Portocarrero esbarrou com o escritor Rubem Braga*. Surpresa, horas depois soube que o encontro não fora casual. “Ele estava completamente apaixonado por mim e me seguiu até lá”, conta. Tônia Carrero** se rendeu ao escritor, com quem teve um romance por seis meses. “Nos encontrávamos numa garçonniére de um amigo dele”, lembra. Caminhando com ela na praia do Leblon, Rubem fez um soneto. E ameaçou se suicidar caso ela o abandonasse, dizendo que se jogaria na frente de um carro. A história, real, é uma das que a atriz revelou na peça Amigos para Sempre, que esteve em cartaz em São Paulo.

*   Rubem Braga: Cachoeiro de Itapemirim, ES, 12 de janeiro de 1913 – 19 de dezembro de 1990, Rio de Janeiro, RJ.

**  Tônia Carrero: 23 de agosto de 1922, Rio de Janeiro, RJ – 3 de março de 2018, Rio de Janeiro, RJ.

“Sempre tenho confiança de que não serei maltratado na
porta do céu, e mesmo que São Pedro tenha ordem
para não me deixar entrar, ele ficar indeciso
quando eu lhe disser em voz baixa:
Eu sou de Cachoeiro...”



Na noite de uma segunda-feira, 17 de dezembro de 1990, o escritor Rubem Braga reuniu um pequeno grupo de amigos, cada vez mais selecionados por ele, na sua cobertura em Ipanema. Foi uma visita silenciosa, mas claramente subentendida pelos amigos Moacyr Werneck de Castro, Otto Lara Resende e Edvaldo Pacote. Às 23h30min da noite de quarta-feira, 19 de dezembro, sedado num quarto do Hospital Samaritano, Rubem Braga morreu, sozinho como desejara e pedira aos amigos.

A causa da morte foi uma parada respiratória em consequência de um tumor na laringe que ele preferiu não operar nem tratar quimicamente.


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