quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

Histórias de Paraquedistas XXIX

Um General Paraquedista


Djalma Dias Ribeiro, Paraquedista nº. 2245 do Turno de 1955/1


Gen Djalma brevetando um Pqdt americano

O Marechal Lott, Ministro da Guerra, designa como Comandante do Núcleo Divisão Aeroterrestre, um general pé-preto. Submetido ao exame médico é reprovado pela Junta de Saúde Paraquedista do Núcleo da Divisão Aeroterrestre. No dia seguinte, pela manhã, como de costume, nós, Pqdts, ao levantarmos, no quartel ou em nossas casas, a primeira providência era ligar a Rádio Relógio que existia na cidade do Rio de Janeiro. E o que ouvimos? Pasmem: “Você sabia?” General Djalma Dias Ribeiro, comandante dos paraquedistas, foi reprovado no exame médico; não pôde ser paraquedista! E plim! Hora certa; cinco horas e vinte minutos. Mais alguns anúncios e lá vem o minuto seguinte e, novo plim, e, você sabia? General Djalma Dias Ribeiro, comandante dos paraquedistas, foi reprovado no exame médico; não pode ser paraquedista! Plim! Isto quase que de minuto a minuto.

Companheiros, pensem bem: um general fardado e zangado, às seis horas da manhã, no quartel, bufando mais que um touro, à cata do “toureiro” que colocara o anúncio na rádio. Não foi difícil para ele localizar o autor do anúncio. Era o doutor João Pires Teixeira, Pqdt nº 50, (1949) que, ao chegar ao quartel, recebera ordem para sumir do Núcleo da Divisão Aeroterrestre... O general Djalma recorre à Junta Superior de Saúde, é considerado apto, realiza o curso de paraquedista, é brevetado, e, para mim, dos comandantes que conheci, era o melhor para sair de um avião em voo, A Revista Paraquedista de nº. 1, em sua capa, tem o General saindo do avião, atestando esta verdade.

Corria o ano de 1956, o quartel do 2º RI, Vila Militar era o local do Quartel General dos Paraquedistas, onde ocupávamos algumas das dependências dos nossos queridos irmãos pés-pretos, sem quaisquer ressentimentos recíprocos, brincadeiras de mau gosto. Ali permanecemos até serem concluídas as instalações do Quartel General da atual Brigada de Infantaria Paraquedista, Regimento Santos Dumont e outras dependências para a tropa paraquedista, sob o Comando do Gen Djalma, quando Ministro General Lott implantou uma substancial reforma no Exército. Foi o período que realmente a tropa paraquedista ficou mais guerreira e melhor armada. O período que antecedeu foi do General Penha Brasil, consolidador do paraquedismo militar no Brasil. Além de ocuparmos as instalações do 2º RI, tínhamos o privilégio de, nas nossas formaturas de brevetações de paraquedistas, usarmos a sua Banda de Música. Foi de lá que saiu voluntário ao paraquedismo nosso primeiro Mestre da Banda Pqdt.

Subtenente Nogueira, Pqdt nº 108, creio que, no final de 1961, quando, em conversas, relembrávamos nosso passado de convivência fraterna no famoso Dois de Ouro de muitos e valiosos serviços prestados à Pátria, disse-me assim: Prec Ly Adorno, o paraquedismo não pode ficar sem uma Banda de Música, vou convidar o Mestre da Banda do 2º RI para SER PÁRA-QUEDISTA! E lá foi o Prec Nogueira se encontrar com o Mestre. Em lá chegando, entrou de sola dizendo: “Mestre Prado, você tem o perfil de um paraquedista, vem para a nossa tropa, precisamos formar a nossa Banda paraquedista”.

Foi assim que, em 1962, o Subtenente Prado concluiu a instrução básica de paraquedista, brevetou-se e recebeu, na irmandade dos irmãos dos condores, seu número 9816 que o distingue como um valente e audaz paraquedista em qualquer situação!

Voltando ao Gen Djalma, num desses dias que o mar não estava pra peixe, naqueles anos de Aragarceiros, Jacareacangueiros e outros eiros, nos quartéis só dava prontidões de semanas, umas após outras. O Gen Djalma entra no quartel, chama o Oficial de Dia e lhe transmite uma série de ordens; sendo que uma delas era a de que: ninguém podia sair do quartel. Tenente Pernasseti, naquela sua calma tão peculiar aos “canhoneiros de peças aladas”; precursor que ao invés de se ajustar à porta, era esta que se ajustava a ele na hora de lançar a equipe Prec, chama seu Adjunto e passa a seguinte ordem: “Sargento Nogueira, ninguém sai do quartel sem minha ordem! Transmita pessoalmente ao Comandante da Guarda e todos os seus comandados.” Nogueira, quando Adjunto, era daqueles que, após a parada e todos se apresentarem ao Oficial de Dia e se dispersavam, saía em direção às suas subunidades e, de repente, ouviam seu grito: “Sargentos, por que não se apresentaram ao Sargento Adjunto como determina o regulamento?”

Nogueira recebe do Comandante da Guarda a apresentação da guarda em forma e diz:

- Ordem do Oficial de Dia. Ninguém sai do quartel sem a permissão do Oficial de Dia! Entendido!

Todos responderam: Entendido!

A confusão política nesse dia era de muito tumulto: viaturas cruzando a Avenida Duque de Caxias, Campo dos Afonsos, aviões roncando os motores, rádio com notícias alarmantes e muito burburinho... Lá vem, em direção ao corpo da guarda, no seu Buick preto, querendo sair do quartel, nosso General Comandante. A sentinela paraquedista, decidida, de arma cruzada, assoma à frente do carro do General; o motorista pisa no freio, General Djalma bravo com o solavanco, salta do carro e grita:

- Soldado, eu sou o General Comandante você não me está reconhecendo?

- Estou, meu General, mas é ordem do Oficial de Dia que ninguém pode sair do quartel!

- Quem lhe deu esta ordem?

- Foi o Sargento Ajudante! Comandante da Guarda.

- Cadê o Adjunto?

- Estou aqui, meu General!

- Quem lhe transmitiu essa ordem?

- Foi o Senhor Oficial de Dia!

- Então vá chamar o Oficial de Dia e diga que o General quer sair do quartel em que ele é o comandante!

Não precisa dizer mais nada que o Tenente Pernasseti, lentamente, vem se aproximando e ouve do General:

- Tenente, autorize ao soldado a saída do seu comandante!

- Sentinela, o General Comandante pode sair!

A sentinela dá um passo atrás, perfila-se e apresenta arma ao seu comandante. Bufando, o General entra no carro, grita para seu motorista:

- Vamos que estou com pressa!

O carro arranca e, incontinente, freia bruscamente no meio da Avenida Duque de Caxias, o General desce do carro, parado no meio da avenida, interrompe todo o tráfico de veículos, apontando para o Corpo da guarda na direção da sentinela, aos urros, gritava:

- Aqui tem soldado, não pode sair não sai, nem mesmo o seu comandante!

E repetiu uma porção de vezes, entrou no carro e disparou para falar com o Ministro da Guerra, General Lott.

*****

Se quiserem saber mais sobre o General Djalma, é só ler no livro “Ser Pára-quedista”,* página 151, edição de 1995.

Ly Adorno de Carvalho − Pqdt nº 503 do Turno 1951/3
MS 197, Prec 16, FE 15 e CAC 14.**

*  Pára-quedista, grafia antiga; a gora a correta é paraquedista.

**Pqdt = Paraquedista, MS = Mestre de Salto, Prec = Precursor, FE = Forças Especiais e CAC = Comandos. 



2 comentários:

  1. Olá meu amigo, sou o escritor José Wilson Aguiar, de Rio Branco, Acre. Faço pesquisas sobre o general Djalma. Voce tem dados biográficos dele? Meu email wjosewilsonaguiar@gmail.com. Darei créditos no livro que escrevo sobre ele. Um abraço TFA.

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    1. A história contada neste almanaque sobre o General Djalma foi-me narrada pelo Cap Ly Adorno de Carvalho, já falecido. Creio que deverias entrar em contacto com o Cap Domingos Gonçalves, no QG da Brigada de Infantaria Paraquedista que possui, em seus arquivos, dados militares do general. Lamento não poder ajudar mais. Sucesso na tua pesquisa!

      Nilo da Silva Moraes, de Porto Alegre, RS.

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