Prova difícil
Cornélio Pires
Pregava
Nhô Tatinho do Lajão
Numa
sessão do centro de Jandira:
- Meus irmãos, a brandura cobre a ira,
Humildade
é que vence a tentação!
Ninguém
seja teimoso, nem brigão.
Nisso,
Nhô Bem, na sala, tosse, vira,
Aponta
a mesa e grita meio gira:
- Vancê faz o que fala, meu irmão?
Antes
mansinho, a conversar no banco,
Na
raiva agora e a levantar de arranco,
Nhô
Tatinho berrou para Nhô Bem:
- Saia daqui, miolo de cachaço,
Cale
a boca!... Se eu falo mas não faço,
Isso
não é da conta de ninguém!
Visita à casa paterna
Luiz Guimarães Júnior
Como
a ave que volta ao ninho antigo,
Depois
de um longo e tenebroso inverno,
Eu
quis também rever o lar paterno,
O
meu primeiro e virginal abrigo.
Entrei.
Um gênio carinhoso e amigo,
O
fantasma talvez do amor materno,
Tomou-me
as mãos – olhou-me grave e terno
E,
passo a passo, caminhou comigo.
Era
esta a sala... Oh! Se me lembro! E quanto!
Em
que da luz noturna à claridade,
Minhas
irmãs e minha mãe... O pranto
Jorrou-me
em ondas... Resistir
que há de?
Uma
ilusão gemia em cada canto,
Chorava
em cada canto uma saudade!
Canção
Cecília Meireles
Se
não chover nem ventar,
se
a lua e sol forem limpos
e
houver festa pelo mar,
ir-te-ei
visitar.
Se
o chão se cobrir de flor,
e
o endereço estiver claro,
e
o mundo livre de dor,
ir-te-ei
ver, amor.
Se
o tempo não tiver fim,
se
terra e céu se encontrarem
à
porta do teu jardim,
- espera por mim.
Cantarei
minha canção
com
violas de eternamente
que
são de alma e em alma estão,
- De outro modo, não.
Ninguém mais
Cassiano Ricardo
Quando
pergunto alguma coisa
ao
silêncio da hora triste,
não
sei de onde uma voz me responde.
Quando
olho no espelho do rio
no
azul sem mágoa da planície d′água
vejo
alguém que me espia longamente...
Quando
vou pela estrada
que
serpeia no oceano de areia
sob
a lua que me ilumina o passo incerto,
noto
que um vulto, alguma sombra estranha,
pelo
caminho me acompanha...
Só
tenho três amigos!
Meu
eco,
minha
imagem,
minha
sombra.
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