sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

O que é o Homem?



O homem, essa enfermidade, essa sombra, esse átomo, esse grão de areia, essa gota de água, essa lágrima caída dos olhos do destino.

O homem que vive na perturbação e na dúvida, sabendo pouco do dia de ontem e nada do de amanhã, vendo no caminho o necessário para pousar os pés e o resto em trevas: trêmulo, se olha para diante; triste, se olha para trás, o homem, envolto nessas obscuridades - o tempo, o espaço, o ser, - e nelas perdido, tem em si um abismo - sua alma - e fora de si o céu.

O homem, que em certas horas se curva com uma espécie de horror sagrado a todos os esforços da natureza, ao ruído do mar, ao irradiar das estrelas.

O homem, que não pode levantar a cabeça de dia sem que a luz o cegue; de noite sem que o perturbe o infinito, o homem que nada conhece, nada vê, nada entende; que pode ser levado amanhã, hoje, agora mesmo pela onda que passa, pelo vento que soa.

O homem, esse ser tímido inseto, miserável servo do acaso, o ludíbrio do minuto que passa.

O homem, humilde verme da terra, quer destruir as obras de Deus e impugnar a religião que regou com seu sangue, que Ele selou com a sua morte e à qual prometeu a sua assistência!

Miséria das misérias!

Victor Hugo


Victor-Marie Hugo (Besançon, 26 de fevereiro de 1802Paris, 22 de maio de 1885) foi um escritor e poeta francês de grande atuação política em seu país. É autor de Les Misérables e de Notre-Dame de Paris, entre diversas outras obras.

“Do atrito de duas pedras chispam faíscas; 
das faíscas vem o fogo; do fogo brota a luz.”

Victor Hugo


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