sábado, 16 de fevereiro de 2019

Chavões sobre as novelas

Tudo que você queria saber sobre as novelas
 e tinha vergonha de perguntar


Por que novela é assim?

Por que ninguém nunca tranca a porta do apartamento/casa mesmo quando está fazendo a coisa mais errada do mundo?

Por que alguém do passado distante sempre aparece para chantagear algum personagem?

Por quer sempre há uma criança chata metida a sabe-tudo?

Por que, além de deixarem as portas sempre destrancadas, nenhum porteiro interfona antes e deixa a pessoa subir depois de autorizada?

Por que todas as novelas das oito começam depois das nove, exceto às quartas-feiras?

Por que nas novelas nunca, nunca, nunca chove no Natal nem no Ano Novo?

Por que eles nunca escovam os dentes depois das refeições, mesmo com algum compromisso importante marcado para a sequência.

Por que, no final de um capítulo, a personagem que fizer a cara mais babaca, a câmera vai fechar no rosto dela?

Clichê de novela mexicana

A mocinha


É sempre uma coitada miserável e tudo de ruim acontece com ela, mas está sempre feliz.

É sempre criada pela madrinha ou pelo padrinho, que são muito pobres e doentes.

É sempre virgem.

Geralmente, o padrinho ou na madrinha morre nos primeiros capítulos, deixando a pobrezinha completamente só.

Na realidade, ela é sempre filha ou neta de poderoso milionário que tenta desesperadamente encontrá-la.

A procura irá até a metade da novela.

Todos os homens da novela são apaixonados por ela, mas um safado quer seduzi-la.       

Todo mundo ama a mocinha pela sua bondade e pureza.

O galã


Possui sempre nomes duplos como Pedro Afonso, Carlos Eduardo, Carlos Augusto...

É sempre um milionário à procura do verdadeiro amor.

Pode as mulheres mais gostosas da novela dar em cima dele, que ele não comerá ninguém.

A megera


Mulher inescrupulosa e falida que quer se casar com o mocinho.

Sempre “arma uma” dizendo que está grávida do mocinho quando, na verdade, o bebê é de outro. Numa noite, ela embebeda o mocinho, o que o faz acreditar ser o pai da criança.

A mãe da megera é sempre uma perua.

A mãe do mocinho sempre apoia a megera por achar que ela ainda é rica e do mesmo nível social do mocinho.

O desfecho


A mocinha sempre se torna uma mulher deslumbrante e fina e dá emprego para todos da sua ex-comunidade, uma vez que, a essas alturas, o pai, mãe, ou avô já a encontrou e ela administra a empresa com ideias inovadoras.

Depois de muitas idas e vindas, exatamente no último capítulo, tudo se resolve: a mãe, que não aprovava o amor dos filhos, fica boazinha, o casal tem muitos filhos e a mulher inescrupulosa fica louca ou morre.

Finais-chavão de novelas:

Alguém se casa.

O vilão fica louco/morre/foge.

Um casal se separa, mas os dois continuam amigos.

Alguém descobre que (não) é o pai de alguém.
(variação: mãe/irmão/primo/cunhado/cunhado do vizinho).

Uma personagem sofrida vai pagar por algo que não cometeu, vai ficar a novela inteira tentando se vingar, mas há que ter paciência, a vingança só acontecerá no ultimo capítulo.

Passam-se X meses...

O filho de alguém nasce... Há confidências e desculpas e uma festa com o elenco vestido de branco...

Como fazer uma novela rural

Toda a novela rural fica perto de Cerro Azul, Cerro Alegre, ou Cerro Triste.

Alguém foi expulso da cidade por um motivo e volta para se vingar.

Há “coroné”, aquele que frequenta um bordel. Essa casa da luz vermelha, onde há sempre uma “rolinha ou dama da noite” que é inocente, praticamente virgem (sabe-se lá como), mas é apaixonada e, claro, vai terminar a novela com um jovem inocente e bom partido, normalmente filho de alguém importante ou do prefeito.

Há também uma grande perua, alguém espalhafatosa e cheia de bordões. Outra figura importante é aquela solteirona, toda encruada, mas que tem delírios eróticos que algum malandro vai ter a honra de inaugurar...
  
Vai haver pássaros voando, peixe passando, arara batendo asas, café fumegando, gado pastando, carroça com mula, cavalo pastando...

Ah, e um terço da novela se passa com pessoas em volta da mesa durante as refeições.

ponto de partida: 
“Homem Chavão” da Editora Panda Books

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