Sem dúvida a Rua da Ponte (atual
Riachuelo) abrigou tipos que se perpetuaram na história da Porto Alegre antiga,
chegando alguns, inclusive, até os nossos dias. Um dos mais conhecidos foi
Antônio de Ávila, vulgo Amansa Burros,
professor que recebeu essa alcunha por ser de temperamento irascível e
admirador da famosa palmatória com que se deliciava em aplicar “bolos” nos seus
alunos. Iniciou suas atividades pedagógicas em Porto Alegre
precisamente em 8 de janeiro de 1800, apregoando seus serviços com dois cartazes
afixados na Rua da Graça (atual Andradas) e na Rua Formosa (atual Duque):
“Antônio de Ávila,
recém chegado a este continente (estado), participa ao público que vai abrir na
Rua da Ponte, perto da ponte, uma escola para ensinar a ler, escrever, contar e
doutrina cristã. As pessoas que quiserem se aproveitar do seu préstimo podem
trazer seus filhos para a dita escola”.
A dita escola ficava nas proximidades
do atual Arquivo Público. Casa baixa de porta e janela. Na parede da sala um
crucifixo, que o mestre mandava retirar numa ocasião especial: quando na Matriz
tocava o sino anunciando a saída do sacerdote para ir distribuir o sacramento
na residência de um enfermo, os discípulos iam à frente carregando a cruz e o
professor atrás, compenetrado, acompanhando o Viático à casa do doente.
(...)
O aluno mais ilustre do “Amansa
Burros”, educado, portanto, na base da palmatória e do grito, foi Antônio Alves Pereira Coruja, nascido a
31 de agosto de 1806 em
Porto Alegre e falecido no Rio em 4 de agosto de 1889. Foi
autor de uma Gramática Portuguesa, de uma História do Brasil, e de muitas
outras obras, mas ficou célebre pelas suas “Antigualhas”, precioso receptáculo
sobre vultos e fatos da Porto Alegre antiga.
Também na Rua da Ponte se encontrava
a escola de Antônio Paraíso Mariano,
vulgo “Tico-Tico”, que passou a funcionar a partir de julho de 1800.
“Tico-Tico” era de baixa estatura e possuidor de uma voz fina, aguda. O apelido
se originou de uma tentativa fracassada de engrossar a voz, certa vez. Castigava
severamente os seus discípulos, fazendo-os caminhar ajoelhados sobre grãos de
milho. Em matéria de energia ombreou como o “Amansa Burros” e deixou fama na
história escolar de Porto Alegre.
(Do livro “Crônicas
das Ruas de Porto Alegre”, de Leandro Telles)
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