segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Professores da antiga Porto Alegre



Sem dúvida a Rua da Ponte (atual Riachuelo) abrigou tipos que se perpetuaram na história da Porto Alegre antiga, chegando alguns, inclusive, até os nossos dias. Um dos mais conhecidos foi Antônio de Ávila, vulgo Amansa Burros, professor que recebeu essa alcunha por ser de temperamento irascível e admirador da famosa palmatória com que se deliciava em aplicar “bolos” nos seus alunos. Iniciou suas atividades pedagógicas em Porto Alegre precisamente em 8 de janeiro de 1800, apregoando seus serviços com dois cartazes afixados na Rua da Graça (atual Andradas) e na Rua Formosa (atual Duque):

“Antônio de Ávila, recém chegado a este continente (estado), participa ao público que vai abrir na Rua da Ponte, perto da ponte, uma escola para ensinar a ler, escrever, contar e doutrina cristã. As pessoas que quiserem se aproveitar do seu préstimo podem trazer seus filhos para a dita escola”.

A dita escola ficava nas proximidades do atual Arquivo Público. Casa baixa de porta e janela. Na parede da sala um crucifixo, que o mestre mandava retirar numa ocasião especial: quando na Matriz tocava o sino anunciando a saída do sacerdote para ir distribuir o sacramento na residência de um enfermo, os discípulos iam à frente carregando a cruz e o professor atrás, compenetrado, acompanhando o Viático à casa do doente.

(...)


O aluno mais ilustre do “Amansa Burros”, educado, portanto, na base da palmatória e do grito, foi Antônio Alves Pereira Coruja, nascido a 31 de agosto de 1806 em Porto Alegre e falecido no Rio em 4 de agosto de 1889. Foi autor de uma Gramática Portuguesa, de uma História do Brasil, e de muitas outras obras, mas ficou célebre pelas suas “Antigualhas”, precioso receptáculo sobre vultos e fatos da Porto Alegre antiga.

Também na Rua da Ponte se encontrava a escola de Antônio Paraíso Mariano, vulgo “Tico-Tico”, que passou a funcionar a partir de julho de 1800. “Tico-Tico” era de baixa estatura e possuidor de uma voz fina, aguda. O apelido se originou de uma tentativa fracassada de engrossar a voz, certa vez. Castigava severamente os seus discípulos, fazendo-os caminhar ajoelhados sobre grãos de milho. Em matéria de energia ombreou como o “Amansa Burros” e deixou fama na história escolar de Porto Alegre.


(Do livro “Crônicas das Ruas de Porto Alegre”, de Leandro Telles)



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