Dolores Duran
(07.06.1930 –
24.10.1959)
A resposta em forma de canção
A cantora e compositora Dolores Duran
(Adileia Silva da Rocha) se apresentava na boate Vogue, no Rio de Janeiro. Em
algumas noites, vinha um grã-fino, esnobe e preconceituoso, que se sentava de
costas para o palco, chamava o maitre, o italiano Alberico Campana, pois não
falava com qualquer um, e dizia no seu ouvido:
- Pede
pra Negrinha para cantar “Por Causa de Você”.
Alberico cochichava no seu ouvido e ela
cantava. Mas Dolores ficou notando que as suas atitudes não mudavam. Passava um
tempo, ele retornava, chamava o italiano, falava baixinho:
- Pede
pra Negrinha cantar “Castigo”.
Negrinha era forma pejorativa pela
qual ele se referia à cantora. Todos sabem que Dolores era, realmente, mulata,
mas a forma como ele falava demonstrava claramente um ranço racista. Ela,
sabendo de quem vinha a solicitação, sempre se negava a cantar qualquer música
para ele.
- Pra esse sujeito eu não canto
de jeito nenhum!
Alberico argumentava:
- Por favor, Dolores, tem
que atender ao pedido, ele está tomando uísque escocês, está gastando muito.
Billy Blanco (08.05.1924 –
08.07.2011), que na época namorava a compositora, assistia a tudo de longe.
Notava que no fim da noite, ele fazia um pedido ao garçom: Filés da melhor
qualidade, colocados cuidadosamente numa bandeja, que o garçom levava até o
automóvel do milionário, pois este se negava a carregar embrulho.
Numa manhã, Billy entregou a
ela uma composição sua.
- Hoje, à noite, você cantará
esta música. É a resposta que vamos dar a ele por ser o que ele é.
Dolores começa a sua apresentação,
espera o ricaço sentar na sua mesa de costume e pedir o seu uísque de sempre.
- Vou cantar agora uma
música inédita dedicada àquelas pessoas que se julgam melhores do que as
outras, esquecendo que o bom mesmo é amar.
E cantou, sempre olhando na direção
do esnobe, que ouviu a música, olhando meio de lado, fingindo que não era nada
com ele...
Banca do distinto
Não fala com pobre,
Não dá mão a preto,
Não carrega embrulho.
Pra que tanta pose, doutor?
Pra que esse orgulho?
A bruxa, que é cega,
Pra que tanta pose, doutor?
Pra que esse orgulho?
A bruxa, que é cega,
Esbarra na gente
E a vida estanca.
O enfarte lhe pega, doutor,
E acaba essa banca.
A vaidade é assim,
E a vida estanca.
O enfarte lhe pega, doutor,
E acaba essa banca.
A vaidade é assim,
põe o bobo no alto
E retira a escada,
Mas fica por perto
E retira a escada,
Mas fica por perto
Esperando sentada
Mais cedo ou mais tarde
Mais cedo ou mais tarde
Ele acaba no chão.
Mais alto o coqueiro,
Mais alto o coqueiro,
Maior é o tombo do coco afinal.
Todo mundo é igual
Todo mundo é igual
Quando a vida termina
Com terra em cima e na horizontal.
Com terra em cima e na horizontal.
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