Don Herold*
(9 de julho de 1889 -
1 de junho de 1966)
Foi um humorista, escritor, ilustrador e cartunista estadunidense.
É claro que
não se pode desfritar um ovo, mas não há lei que proíba de pensar no assunto.
Se eu pudesse recomeçar minha vida,
tentaria cometer mais erros. Viveria mais despreocupado. Seria mais fútil do
que fui nesta jornada. Sei de poucas coisas que eu tomaria a sério. Eu seria
menos higiênico. Iria a mais lugares. Escalaria montanhas e nadaria em mais
rios. Tomaria mais sorvetes e comeria menos cereais. Teria mais preocupações
reais e menos preocupações imaginárias.
Vocês compreendem, eu fui um desses
sujeitos que levam uma vida prudente e sadia, hora após hora, dia após dia.
Tive meus bons momentos, mas se eu pudesse fazer tudo de novo, teria mais
desses momentos, muitos mais. Nunca vou a lugar algum sem um termômetro, um
gargarejo, uma capa de borracha e um paraquedas. Se eu pudesse fazer tudo de
novo, viajaria com menos bagagem.
Talvez seja tarde demais para um
cachorro velho desaprender os velhos truques, mas talvez uma palavra de menos
juízo venha a servir de alguma ajuda para uma geração futura, ajudando-a a cair
em algumas das ciladas que eu evitei.
Se eu pudesse recomeçar minha vida,
daria menos atenção às pessoas que pregam o esforço contínuo. Neste mundo de
especialização, nós temos, naturalmente, uma superabundância de indivíduos que
nos clamam que levemos a sério sua própria especialidade. Dizem-nos que temos de aprender Latim ou História,
senão seremos uns desgraçados, arruinados, reprovados, fracassados. Depois de
uns doze ou mais desses protagonistas terem exercido sua ação sobre um espírito
jovem, é provável que o deixem com sérias dificuldades para a vida. Queria que
eles me tivessem convencido de que Latim e História eram divertidos.
Procuraria mais professores que incentivassem
o descanso e os divertimentos. Felizmente tive alguns assim, e acho que foram
eles que me impediram de levar a breca completamente. Foi com eles que aprendi
a colher as poucas e míseras flores que colhi pelo caminho ingrato da vida.
Se eu pudesse recomeçar minha vida,
começaria a andar descalço desde o começo da primavera, e continuaria até o fim
do outono. Mataria aula mais vezes, jogaria mais bolinhas de papel nos
professores. Teria mais cachorros. Deitaria mais tarde. Teria mais namoradas.
Pescaria mais. Iria mais ao circo. Iria a mais bailes. Andaria em mais
cavalinhos de pau. Seria despreocupado o mais possível, ou pelo menos, até ter
alguma preocupação – em vez de procurar adiantadamente.
A seriedade provoca mais erros do que
a alegria. Os atritos da vida de uma família vêm, em geral, mais nos momentos
de grande seriedade do que nos momentos de alegria. Para dar um exemplo em
ponto grande: como seria melhor se as nações, em vez de declararem guerras,
declarassem festivais internacionais!
Num mundo em que toda a gente parece
obcecada pela gravidade da situação, eu me levantaria para cantar a leveza da
situação. Pois eu concordo com Will Durant em que “a jovialidade é mais sábia
do que a sabedoria”.
Duvido, entretanto, que eu cause
muito dano com o meu credo. A oposição é bastante forte. Há muita gente séria
tentando fazer com que todo o resto do mundo fique sério também.
Seleções do Reader´s Digest – Fevereiro de 1954
* Poema adaptado de uma prosa de
Don Herold, “I‘d Pick More Daisies” (Eu colheria mais margaridas) de 1953.
Don Herold (1889-1966) foi um humorista, escritor,
ilustrador e cartunista estadunidense.
Quando nos últimos dias de sua
vida, Nadine Stair de Louisville, Kentucky, de 85 anos, foi perguntada sobre o
que faria se pudesse viver sua vida novamente. Ela disse:
"Se pudesse viver minha vida de
novo, eu trataria de cometer mais erros na próxima vez. Seria mais relaxada.
Seria mais flexível. Seria mais tola do que fui nesta viagem. Não levaria as
coisas tão a sério. Correria mais riscos, conheceria mais lugares, escalaria
mais montanhas, nadaria em mais rios. Tomaria mais sorvete, comeria menos
vagem. Talvez tivesse mais problemas concretos, mas teria menos problemas
imaginários. Afinal, fui uma dessas pessoas sensatas e equilibradas, horas e
horas, dia após dia.
Tive meus momentos, é claro. Só
que se tivesse de fazer tudo de novo, teria mais problemas assim. Na verdade,
tentaria não ter outra coisa – apenas mais momentos, um depois do outro, em vez
de viver tantos anos à frente de cada dia. Fui uma dessas pessoas que nunca vai
à parte alguma sem um termômetro, uma bolsa de água quente, uma capa e um
pára-quedas. Se pudesse fazer de novo, levaria menos coisas.
Se pudesse de viver minha vida outra vez, começaria a andar descalça mais cedo na primavera, e continuaria assim pelo outono. Eu iria a mais bailes, andaria mais em carrosséis, e colheria mais margaridas."
Poema atribuído à Nadine Stair, mas,
Nadine Stair e seus descendentes nunca reclamaram por direitos autorais sobre o
poema, foram exaustivamente procurados e não encontrados.
Afinal, quem iria colher mais margaridas?
Pequeno histórico da polêmica sobre a autoria deste texto
Em 1975 – a prosa lírica “If I Had My Life to Live Over” (Se eu pudesse viver minha vida de novo) foi publicada pela Associação de Psicologia Humanista no Boletim Informativo de Julho deste ano, nos EUA, e em seguida em outras publicações como ‘The Family Circle’ (1978), e todas citam o texto como que de autoria de uma senhora de 85 anos de Louisville, Kentucky, chamada Nadine Stair.
Stair. Você pode ver
aqui:
http://www.ahpweb.org/pub/newsletter_archives/archive_pdfs/1975/07-75.pdf
Marcos disse,
ResponderExcluirO original é realmente de Don Herold e foi publicado em
Reader's Digest October 1953; Vol 63, No. 378.
Aqui no Brasil foi publicado em um numero de Seleções de 1954 com o titulo "Eu colheria mais flores" por Don Herold. Tudo o que se vê por aí é adaptação desse "I Would Pick More Daisies" de Don Herold e muita gente querendo se aproveitar.
Dizem até que é de um argentino ou um venezuelano. Se encontra de todo tipo de desinformação na internet.
Amigo Marcos, disseram até que o texto seria de Jorge Luis Borges, escritor argentino, o que não é verdade. Mas o autor é realmente de Don Herold.
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