segunda-feira, 9 de junho de 2014

Tristeza ou depressão



Paulo Sant´Ana

É muito comum a confusão entre tristeza e a depressão. E uma não tem nada a ver com a outra.

A tristeza é movida pelo tédio.
E a depressão é movida pela dor.

Dominada ela tristeza, uma pessoa aceita de braços abertos a alegria e o prazer.
Enquanto que, dominada pela depressão, a pessoa rejeita terminantemente a alegria e recusa o prazer, a menos que o prazer consista em vício.

A pessoa triste pode ser razoavelmente sociável, pode ir tomar um chope com amigos, pode dançar até altas horas.

Já o deprimido, ninguém o arrasta para qualquer festa, rejeita qualquer sociabilidade, sofre tremendamente se tiver que trabalhar. Qualquer aproximação com outra pessoa é para ele um martírio.

O triste tem esperança e sonha.
O deprimido está sem nenhuma esperança, sente-se num beco sem saída, imagina que só poderia se libertar se sua vida se extinguisse.

O triste ainda sai à rua no domingo à tarde.
O deprimido não quer sair, encerra-se no quarto e fica torcendo para que ninguém entre nele.

O deprimido não vai a nenhuma festa nem freqüenta nenhuma roda porque tem certeza de que estragará a festa ou a roda com seu azedume.

O triste pode aproveitar a paisagem e o sol.
O deprimido não enxerga nem a paisagem nem o sol. Ele só olha para sua melancolia.

A tristeza está presente em um estado mental sadio, normal.
A depressão é fruto de um estado mental mórbido.

Se formos levar em conta o nosso cotidiano, uma vida de trabalho, estudo, enfrentamento dos problemas familiares, veremos que este clima é propício à tristeza.

Se considerarmos que a alegria se manifesta pelo riso ou pela dança, há poucas horas de uma semana em que uma pessoa normal não esteja triste ou então possuída de tédio.

Então, a tristeza se alterna com a alegria. O triste se dispõe a ser alegre, a alegria depende de suas circunstâncias.

Já o depressivo não atrai para o aparato de suas sensações pessoais a alegria. Pelo contrário, a esconjura.

O triste escora a sua tristeza nos fatos ou ocasiões que o cercam.
Já o deprimido sustenta a sua depressão nos seus pensamentos, nos seus raciocínios, na sua cabeça doente, enfim,

O triste pode focar sua existência no presente, o que lhe acontece hoje de ruim pode amanhã estar melhor.

Já o deprimido centraliza sua existência no seu destino, que ele considera amargo, infeliz e irreversível, sem remédio.

Nada tem a ver entre si a depressão e a tristeza. Não são sequer parentes. O triste é uma pessoa viável, propício à felicidade.

O depressivo está tomado de tal amargor, que calcula que sua vida já chegou ao fim, deprime-o cada vez que tenha de enfrentar esta sensação ainda vivo.

O triste é um alegre em potencial ou em eventual.
O deprimido é um desistente.

Não há pessoas que mais careçam de apoio afetivo e sentimental que os deprimidos. Eles têm de ser assistidos no seu desespero, na tragédia brutal do seu sofrimento. E o pior é que muitas vezes os deprimidos se fecham, não se deixam roer inteiramente pela dor e pelo silêncio.

Peço o mais solene respeito para os deprimidos.


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