domingo, 6 de junho de 2021

Sábado e Domingo

 

                  Uma vez, disse o Sábado ao Domingo:

“Nós somos sete irmãos, e eu não distingo
Nenhum deles, bem vês! Somos todos iguais,
Porém você dos seis é o mais malandro,
O mais fino e sagaz!

Trabalhamos seis dias, sem repouso
Para você, no auge do seu gozo,
Andar todo cheiroso
A gozar, a gozar
Nos bailes namorando
Pelas ruas flanando
Ou, se lhe apraz, em casa descansando,
A dormir, a roncar!”

Depois, pousando a mão nos ombros do domingo,
Exclamou: “Eu me vingo!
Isto tem de acabar!

Mas Domingo lhe disse: − Meu irmão,
Pensa e verás que tu não tens razão,
Enquanto vocês todos, nos seis dias
Trabalham para mim, não é em vão!
Eu estou igualmente trabalhando
E organizando divertimentos, bailes e folias,
Circos, teatros, futebol e folias.
Cinemas e outras coisas divertidas
Para dar a vocês, na luta insana,
Pelo menos um dia na semana
Para vocês descansarem
Nas igrejas, rezarem,
Ou pelas grandes farras passearem.

* * *
E o sábado, a pensar, vendo o senhor domingo
Retirar-se, de vez, meio ofendido
Pela sua severa observação
– ergueu a fronte e disse, convencido:

“Domingo, caro irmão!
Desde que és entre nós o irmão mais divertido,
E de mais distinção,
Eu vou dizer, de fronte sobranceira
Às nossas cinco irmãs:
Dona Segunda,
Dona Terça,
Dona Quarta,
Dona Quinta
E a Excelentíssima senhora dona Sexta-Feira,
Que tens toda a razão.”



Catulo da Paixão Cearense: Fábulas e Alegorias

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