Billy Rose
Há pouco tempo, num pequeno café de Nova York, o maître fez sentar uma atraente dama a uma mesa ao lado da minha. Teria os seus trinta e poucos anos, um belo perfil; vestia elegantemente.
Do outro lado do minúsculo tablado de dança notei um cavalheiro bem apessoado, que compartilhava o meu interesse na jovem. Quando os olhares dos dois se encontraram, ele sorriu e ela pareceu retribuir-lhe. O cavalheiro levantou-se e dirigiu-se para o balcão do guarda-chapéus. De lá voltou, um minuto depois, com uma dessas orquídeas envoltas em papel celofane. O lobo mau rabiscou algumas palavras no verso de um cardápio e o garçom entregou o cardápio e a orquídea à dama. Esta leu a mensagem e sorriu com um sinal de assentimento. O cavalheiro dirigiu-se para a mesa dela, cumprimentou-a com a cabeça, apresentou-se e sentou-se.
“Foi muito gentil da sua parte,” ouvi-o dizer-lhe. “Não é divertido jantar só. A senhora me permitirá que escolha o vinho?”
Percebi que o maître acompanhava atentamente os gestos do casal e perguntei a mim mesmo se ele não terminaria por dizer ao Romeu que fosse representar o seu papel em outro lugar.
“Eu a tenho visto inúmeras vezes na cidade,” continuou o cavalheiro. “Mas confesso que ainda não tinha encontrado uma maneira de aproximar-me.”
A dama sorriu.
O garçom trouxe o vinho. “Roederer 1926. O momento é particularmente propício a um brinde, minha querida senhora. À nossa felicidade.”
A orquestra iniciou uma velha valsa de Franz Lehar. O cavalheiro levantou-se, curvou-se ligeiramente e perguntou se a dama lhe daria a honra da contradança. Tive de reconhecer que formavam, sem dúvida, um par elegante. Ao sair, dirigi-me ao maître e perguntei-lhe:
− Mas, afinal, o se passa por aqui? Você viu o que aconteceu. Por que não interrompeu o romance?
O maître sorriu:
− Essa é uma velha história. Há onze anos que, nesta mesma noite de outubro, o senhor Coddington e essa senhora vêm a este café e repetem a cena. Fazem isso desde que ele a encontrou aqui, pela primeira vez, em 1936. Sempre reservam as mesmas mesas. Certa vez perguntei-lhe por que o fazia. Respondeu-me que a cena os mantinha jovens a ambos.
− Quem é a dama? Indaguei.
O maître sorriu de novo.
−A senhora Coddington.
*****
*(Da “Seleções do Reader’s Digest”, abril de 1948)
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