quarta-feira, 23 de junho de 2021

A bondade sempre volta

 

Junho de 2021, tenho que fazer um exame de rotina de Colonoscopia no Hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre. Tenho que estar lá uma hora antes do procedimento. Um jovem enfermeiro, muito simpático, vem ao meu encontro para me indicar o meu armário, onde deverei guardar as minhas roupas e vestir um conjunto hospitalar. Ao ler o meu nome numa papeleta, onde estão os meus dados pessoais, ele não conteve a sua emoção: “Professor Nilo, é o senhor?”, e me abraça comovido. Como passaram centenas de alunos por mim durante o tempo em que eu lecionei, arrisquei: “Foste meu aluno do Pasqualini (Escola Municipal na Restinga); ou do Colégio Santos Dumont (Estadual)?” Ele responde na hora: do Pasqualini!”.

Após esse papo inicial, ele fala de alguns macetes que eu dei na sala de aula, da forma como eu me comunicava com os alunos. Mas até aí, pela máscara que estava usando e pela sua indumentária de enfermeiro, que está na linha de frente de um grande hospital, não conseguia identificar aquele moço negro que fez todos os procedimentos pré-operatórios em mim, com tanto carinho e competência. 

Durante o procedimento que estava sob sua alçada: medir a minha temperatura, pressão arterial e colocar a agulha em meu braço onde passaria a anestesia, ele contou-me o porquê de sua admiração por mim. Falou que, na oitava série, ele se sentava bem na frente porque tinha dificuldade em enxergar o que estava escrito no quadro. Eu teria dito a ele: “Vou providenciar um óculos para ti! Amanhã de manhã, vou estar numa ótica na avenida Wenceslau Escobar, às dez horas da manhã, e vamos dar um jeito nisso.” 

Isso aconteceu há 25 anos, nunca mais me lembrei desse fato. Mas aquele garoto, que fez um Curso de Enfermagem de alto padrão para trabalhar num dos melhores hospitais de Porto Alegre, nunca se esqueceu daquele pequeno gesto que eu fiz a ele, e eu sem nunca esperar algo em troca. 

Mais tarde, já sala de operação, ele fala ao médico proctologista e à médica anestesista quem era o paciente que iriam operar. 

Depois, na sala de recuperação, deu-me uma atenção toda especial e cuidadosa. Então, ao nos despedirmos, eu disse-lhe: “Não lembro bem da pequena bondade que eu fiz a ti, mas, tenha a certeza, que hoje pagaste, com teu profissionalismo, tudo de bom que um dia eu te possa ter feito. Creia, meu jovem, a bondade sempre volta, nos momentos mais difíceis de nossa vida. Obrigado pela a atenção e pelo carinho que hoje dedicaste a mim. 

Nilo da Silva Moraes

2 comentários:

  1. Diante de tudo que estamos passando... ler essa linda história,
    Não tem como não se emocionar.
    Parabéns ao mestre por esse olhar além currículo, e ao aluno grato.

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  2. Que momento lindo! Imagino o orgulho de ver um de seus alunos onde está hoje!

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