Em 1958, entrava no ar, pela Rádio
Gaúcha de Porto Alegre, aquele que seria um dos melhores e mais populares
programas humorísticos da história do radiojornalismo do Estado: Campeonato em Três Tempos. Produzido
e apresentado por Carlos Nobre, tinha como tema o cenário esportivo gaúcho
retratado de maneira caricaturada. Com personagens como “Greminho”, “Miss Copa”
e “Coloradinho”, lotava o auditório da emissora (Edifício União, 11°
andar da Avenida Borges de Medeiros) quando era veiculado.
Fábio Silveira, o Coloradinho; e Carlos Nobre, o Greminho.
Eu, Nilo Moraes, assisti a vários
programas do “Campeonato em
Três Tempos ” na Rádio Gaúcha, apresentado às terças-feiras,
às 21 horas. Ia cedo para a rádio, pois os lugares do auditório eram cerca de
100. Não se pagava ingresso e não existia censura para menores. Antes do
programa, havia um show musical com uma cantora, apresentado pelo radialista
Cândido Norberto, acompanhada pela orquestra da PRC-2, regida pelo maestro Karl
Faust, um alemão que, depois de alguns anos, voltou para o seu país.
No final dos anos 50, a Miss Copa, a locutora
Leonor de Souza, que não era muito jovem nem muito bonita, mas, no rádio, tinha
uma voz de mocinha sensual, casava-se sempre o Greminho, pois só Grêmio é que
ganhava títulos naqueles anos. No final do campeonato, no dia do casamento, o
programa era apresentado diretamente do Cinema Castelo, 3.500 lugares, no
Bairro Azenha.
Radio-atores com as camisas de seus times
Algumas frases do humorista Carlos Nobre:
• Lamentável a policia. Acredita que a imprensa tem este
nome justamente para ser imprensada.
• Depois do salário-mínimo e do salário-família, está na hora do governo inventar o salário- verdade.
• Já notaram. Atualmente o prato típico do Brasileiro é o prato vazio.
• Hoje, pode ser oficialmente, o enterro dos ossos. Mas enterro dos ossos no
duro tem o ano inteiro. É só enterrar qualquer Brasileiro que recebe o salário
mínimo.
• O ministro da fazenda diz que não há desemprego no Brasil (....) numa dessas vai acabar dizendo, também, que o povo não tem fome no Nordeste. Tem é falta de apetite.
• Emprego no Brasil anda tão difícil de se arranjar que já tem empresa exigindo
fiador por candidato.
• O verdadeiro milagre Brasileiro está acontecendo é agora, com a gente
conseguindo sobreviver no meio deste arrocho desgraçado que tem por aí.
• O negócio não é rezar para que
as coisas melhorem no Brasil. O negócio é a gente rezar para que as coisas piorem
cada vez menos.
• Tendo eleição, me agrada até de uma funerária.
• Nunca concordei que houvesse no
Brasil uma maioria silenciosa. Para mim o que houve foi uma maioria silenciada.
• Os Brasileiros têm de achar uma saída. Política ou econômica? Nenhuma das duas. Uma saída para o Brasil.
• Os tempos andam tão difíceis que até pra gente ser pessimista
tá ruim.
• Mulher é o Homem passado a limpo.
• Antes do pecado original, Adão era só decorativo.
• Foi criado no Brasil um grupo de trabalho para investigar, porque os grupos
de trabalho não trabalham?
• Deus é bom sim. Ele está é mal cercado.
• Na primavera os botões da roupa do poeta Mário Quintana desabrocham.
• Pro Brasil só falta o presidente da CBF, o técnico e o
time pra conseguir uma bola.
• Pelo menos a estiagem tá acabando com um problema que ninguém resolveu nas vilas clandestinas de Porto Alegre o “esgoto”.
• Ontem os mendigos estendiam a mão. Hoje estendem o revólver.
• Não te preocupa não. É só olhar a inflação do Brasil que o touro também vai
pro brejo.
• O bom do fim de semana fora, é que a gente volta pra casa − pra descansar.
• Brasileiro não tem como escapar das promessas da nova república. Quem este
ano não caiu no primeiro de abril, cairá no primeiro de janeiro.
• Na visita que Jânio Quadros fez para o Sarney, parece que ele tava bem melhor, prova que foi − sem camisa-de-força e os dois enfermeiros parrudos que acompanhavam o distinto até ficaram na outra sala.
• Sujeito louco por música é
aquele que, ao ouvir uma dona boa cantando no banheiro, põe o ouvido na fechadura.
• O saco não aguenta mais o Papai Noel.
• Nunca pergunte a um antiquário o que há de novo.
• A posição de goleiro é tão
arriscada que, depois do trapezista, o goleiro é o único que trabalha com rede.
• Quem ama o feio é porque bonito não lhe aparece.
• Nas agências bancárias que tem no aeroporto Salgado Filho
aceitam-se cheques voadores.
• No Chile, (no tempo da ditadura) as baionetas caladas são
as que falam mais alto.
• Quando o médico pediu para Carlos Nobre que se afastasse do cigarro, ele mais que depressa, comprou duas piteiras.
Eu era um garoto de 9 anos em 1958, gostava de futebol e não perdia um programa. Como Colorado eu sempre ficava triste ao final de cada ano. Pois só o Greminho casava com a Miss Copa, q no meu imaginário era uma "deusa". Tempos bons, sem maldade, sem malícia. Carlos era um gênio. Obrigado pela lembrança, Nilo Ruschel
ResponderExcluirMeu amigo leitor, em 1958 eu tinha 13 anos e fui algumas vezes assistir ao Programa ao vivo, no auditório da Rádio Gaucha, no 12(ou 13) andar do edifício União, no ício da Borges de Medeiros, quase defronte à Prefeitura. Realmente, só o Greminho casava com Mis Copa, Leonor de Souza, um senhora até bem nutrida, mas com uma voz que dava a impressão que era uma deusa.
ExcluirDesculpe errei seu nome, Nilo Moraes
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